Vocês já ouviram falar do provão paulista? O vestibular teve sua primeira edição em 2023 e é uma iniciativa da Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo. O exame, por várias razões, ganhou minha atenção e acredito que merece a de vocês também. O primeiro importante diferencial: exclusivo para jovens de escolas públicas.
Além disso, se trata de um vestibular seriado. A prática já acontece em outros estados, como Pernambuco, Minas Gerais e Amazonas. Nesse modelo, é realizada uma prova do vestibular em cada ano do ensino médio, ou seja, uma no primeiro ano, uma no segundo e a última no terceiro. O desempenho do estudante é composto pelos três exames, onde cada um avalia apenas o conteúdo do ano em questão.
Acho um excelente formato de vestibular. Primeiro, pois não há uma acumulação de três anos de conteúdo para uma prova apenas. Além disso, é uma forma muito estratégica de manter o estudante próximo da universidade durante o ensino médio todo e não pensando nela apenas no terceiro ano.
Diferente dos outros vestibulares seriados, o provão paulista tem ainda outra inovação: funciona como processo seletivo não apenas para uma instituição de ensino, mas para cinco: a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (Unesp), a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (UNIVESP) e a Faculdades de Tecnologia (Fatecs).
Não apenas jovens de escolas públicas do estado São Paulo podem se inscrever no exame, mas também jovens de colégios públicos de outras unidades federativas do Brasil. No entanto, a aplicação das provas será em cidades de São Paulo. Quem desejar se inscrever ou acredita que conhece jovens que possam se interessar, sugiro ficar de olho no site da prova. As inscrições, irão começar no segundo semestre.
Diversificação de vestibulares
Fiquei muito feliz com a criação desta prova e ela, felizmente, vem na contramão de um movimento que eu notei há tempos: um certo processo de monopolização do Enem como instrumento de ingresso no ensino superior. Cheguei a comentar sobre isso na coluna e na época notei que o meu ponto não foi muito bem entendido.
É indiscutível que o Enem é um importante marco para a democratização do acesso ao ensino superior no Brasil. São inúmeras as histórias de jovens de baixa renda que, graças a ele, realizaram o sonho de ingressar em uma universidade pública ou em uma privada com bolsa.
Minha preocupação é com um cenário em que ele seja o único vestibular existente no país. Se isso um dia ocorrer, temo que seu potencial de democratização seja, ainda que eu não saiba inferir sobre o grau, minado.
Qual a razão? O acesso ao ensino superior, hoje, já é um mercado. Há grandes redes de ensino privado que oferecem ensino médio ou cursinhos pré-vestibular pautados integralmente na preparação para os exames. Atualmente, se dividem nas preparações: uns focam apenas no Enem, outros em algum outro vestibular e outros em ambos. Se, um dia, o Enem vier a ser o único, todo esse mercado se volta exclusivamente para ele e a disputa se tornará ainda mais injusta.
Além disso, é muito bacana um cenário com opções. Há perfis diferentes de alunos e, naturalmente, aqueles que se darão muito bem com um determinado tipo de um exame e muito mal com outro. Conheço um jovem que não obteve um bom desempenho no Enem 2023. Se sua opção fosse apenas o exame, simplesmente não estaria em 2024 cursando o ensino superior. No entanto, ele se deu super bem com o estilo do provão paulista e foi aprovado em economia na USP.
Também fiquei muito emocionado com a publicação de um colégio público da periferia de Ribeirão Preto que compartilhou a aprovação de uma de suas estudantes em medicina na USP pelo provão paulista.
Bom, noto que vira e mexe costumamos questionar as ações e políticas de órgãos públicos. Mesmo quando essas parecem boas ou eficientes, ficamos receosos e questionamos as intenções. Honestamente: não sei as intenções por trás da criação do provão paulista, mas, dada toda minha visão e experiência, tem potencial para ser um importante instrumento de acesso ao ensino superior nas universidades públicas do estado, historicamente conhecidas pelo elitismo no acesso. Inspirou-se em outros vestibulares, trouxe inovações e já possibilitou o sonho de ingressar no ensino superior para alunos que simplesmente não conseguiram a aprovação via os outros vestibulares.
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Vozes da Educação é uma coluna quinzenal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do Salvaguarda no Instagram em @salvaguarda1
Este texto foi escrito por Vinícius De Andrade e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.