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O mito Kosovo

Volker Wagener (as)11 de dezembro de 2007

A independência do Kosovo significaria para a Sérvia a perda de uma região ligada a um dos seus mais fortes mitos nacionais: uma batalha perdida em 1389.

Pristina, a capital do Kosovo: sob administração das Nações UnidasFoto: DW

A província sérvia do Kosovo tem uma área de apenas 11 mil quilômetros quadrados, menor do que a da Turíngia, um dos 16 estados alemães. A população de albaneses está em torno de 2 milhões de pessoas. No máximo 100 mil sérvios ainda residem no Kosovo – o número exato ninguém sabe precisar, pois o êxodo dos sérvios continua.

Do ponto de vista econômico, o Kosovo está no nível de um país em desenvolvimento. A atual taxa de desemprego chega a 50%, o rendimento mensal médio é de 150 euros e o comércio exterior não pode ser mensurado. A província está dominada pela economia informal.

Mas a importância do Kosovo para a Sérvia vai além das questões econômicas e tem um caráter principalmente mítico. Historicamente, a região no sul da Sérvia cercada pelas fronteiras com Montenegro, Albânia e Macedônia é um local de tributo ao passado – ao menos do ponto de vista sérvio.

Pichação lembra que Kosovo ainda é da SérviaFoto: dpa

Quando se usa a expressão "Sérvia antiga" em vez de Kosovo, exprime-se também uma pretensão de propriedade. Essa região foi o centro da Sérvia medieval, e a importância desse reino é simbolizada por uma data: 28 de junho de 1389, o dia de São Vito pelo calendário ortodoxo, feriado conhecido na Sérvia como Vidovdan.

Nessa data, os sérvios, que estavam no comando de um exército formado por cristãos, foram derrotados pelo exército turco otomano. Foi o começo da derrocada do reino sérvio. Mas, desde então, a batalha perdida de Kosovo foi convertida numa espécie de vitória espiritual. O que os sérvios esquecem é que também albaneses lutaram no exército cristão.

Ainda que alimentado apenas por lendas, o Kosovo foi estilizado como uma espécie de "Jerusalém sérvia" e é desde então elemento central da ideologia nacional sérvia. Desde o século 19, o mito de Kosovo ganha espaço na cultura nacional, na prosa, na poesia e principalmente na pintura.

Fim do domínio turco

No início da Idade Moderna, o mito ganhou impulso com o deslocamento do núcleo de colonização sérvia para o norte do Kosovo. Apenas em 1912/13, durante a Guerra dos Bálcãs, os sérvios conseguiram expulsar os turcos. Com isso, depois de mais de 500 anos o Kosovo retornou ao controle sérvio.

Tanques da ONU no KosovoFoto: AP

Na Iugoslávia, durante a ditadura de Tito, o mito Kosovo era oficialmente tabu. Paralelamente houve tentativas de recolonizar a região com população sérvia. Um tentativa política condenada ao fracasso, já que poucos sérvios queriam ir para a província por causa das más condições econômicas. Com isso, os sérvios não conseguiram fazer frente à alta taxa de natalidade dos albaneses, a maior na Europa.

Com o fim da Iugoslávia e o crescente nacionalismo na região, o tema Kosovo voltou a ganhar importância, principalmente em 1989, quando se completaram os 600 anos da Batalha de Kosovo. Foi a oportunidade perfeita para o então presidente Slobodan Milosevic reformular as pretensões sérvias em relação à província. Em torno de 1 milhão de sérvios foram ao Kosovo para lembrar a batalha perdida. A data marcou o início da ascensão de Milosevic e o renascimento do nacionalismo sérvio.

Dez anos depois, o Kosovo está sob administração das Nações Unidas e Belgrado não tem, na prática, mais nenhuma influência sobre a região.

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