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Provocado pelo EI, Erdogan parte para a guerra

Jan D. Walter (as)28 de julho de 2015

Presidente não tinha outra opção depois do atentado em Suruç e dos ataques contra soldados turcos perto da fronteira. Mudança radical de posição pode até mesmo favorecer o partido governista em prováveis novas eleições.

Tayyip Erdogan Türkei Porträt Stimmung neutral
Foto: Getty Images/B. Mehri

Todos contra todos, e todos contra o "Estado Islâmico" (EI) – essa parece ser a máxima do momento no Oriente Médio, e é, no mais tardar depois dos ataques jihadistas na Turquia, exatamente o que o EI quer, afirma o especialista em segurança Christian Hacke, da Universidade de Bonn. "A mensagem do Estado Islâmico é: 'Nós somos a única liderança no Oriente Médio'", comenta.

Na segunda-feira da semana passada, um jihadista turco do "Estado Islâmico" executou um ataque suicida em Suruç, perto da fronteira com a Síria, e matou 32 pessoas. No fim de semana seguinte, combatentes do EI atacaram soldados turcos, também perto da fronteira da Turquia com a Síria.

Em resposta, a Força Aérea turca está atacando desde sexta-feira passada posições da milícia terrorista em território sírio, o que significa uma total mudança de posição do governo do partido conservador AKP e do presidente Recep Tayyip Erdogan em relação ao "Estado Islâmico".

Pois, até agora, o governo turco havia se mantido de fora da luta contra o EI. O motivo para isso deve ser que o EI também combate inimigos da Turquia: o ditador sírio, Bashar al-Assad, detestado pela liderança do AKP, e principalmente as milícias curdas do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão). O PKK, assim como os curdos peshmerga do norte Iraque, luta por um Estado curdo que englobaria também território turco.

Por isso, por muito tempo o governo turco foi complacente diante das ações do Estado Islâmico. Há meses que a Turquia é considerada o principal país de passagem para combatentes oriundos da Europa que querem se unir ao EI. Calcula-se que haja também centenas de turcos lutando com os jihadistas na Síria e no Iraque. E outros 3 mil integrantes do EI apoiam a milícia a partir da Turquia.

Para o especialista em assuntos curdos Ferhad Seyder, da Universidade de Erfurt, isso é apenas a ponta do iceberg. "Pode ser muito mais", afirma.

Segundo a imprensa turca, até mesmo combatentes feridos do EI foram tratados às custas do Estado em hospitais da Turquia. "O apoio ativo nunca foi provado, mas o governo turco, no mínimo, tolerou o 'Estado Islâmico'", afirma Seyder.

Agora tudo isso deve mudar. Depois do ataque suicida em Suruç, a Força Aérea turca passou a participar das ações da aliança internacional liderada pelos Estados Unidos.

Situação pode favorecer o AKP

Fica a pergunta: por que o "Estado Islâmico" atacou o único país que não era o seu inimigo?

Policiais isolam local do atentado em SuruçFoto: picture alliance/ZUMA Press/M. Macit

Aparentemente, o Estado Islâmico aposta, mais uma vez, na força de sua concepção radical de uma ordem mundial islâmica. O pragmatismo político é, assim, vítima de um posicionamento ideológico que rejeita uma versão moderada de um Estado sunita – no caso, a Turquia governada pelo AKP. "Deve ficar claro que a Turquia não é uma alternativa ao Estado Islâmico, e Erdogan deve ser desmascarado como um lacaio do Ocidente", opina Hacke.

Então o AKP caiu na armadilha do "Estado Islâmico"? Diante da situação política interna, o partido não tinha outra opção, afirma Seyder. Há meses que as tensões entre as forças de segurança turcas e os nacionalistas curdos aumentam. Dois dias depois do atentado em Suruç, membros do PKK – que na Turquia é considerado uma organização terrorista – mataram dois policiais turcos, assumindo em seguida a autoria das mortes.

"Erdogan tinha de agir contra os dois grupos, do contrário sua atitude seria vista como uma prova de fraqueza", afirma Seyder. E isso possivelmente teria desestabilizado a Turquia ainda mais do que a atual batalha em duas frentes. Afinal, desde as eleições parlamentares de junho, o país está num limbo político: o AKP governa sem maioria, todas as tentativas de formar uma coalizão fracassaram, e tudo indica que haverá novas eleições.

Se Erdogan não tivesse feito nada, ele perderia as eleições de forma avassaladora, opina Seyder. E isso seria uma catástrofe não apenas para o AKP, acrescenta. "Goste-se disso ou não, o AKP é, hoje, o único partido em condições de governar a Turquia." As posições políticas dos demais partidos divergem tremendamente, avalia. As consequências políticas e econômicas dessa falta de liderança seriam imprevisíveis, completa Seyder.

Assim, Erdogan e o AKP podem sair ganhando com a atual situação de instabilidade e insegurança. Mas Seyder rejeita qualquer especulação de que Erdogan teria deixado a situação se acirrar ou até mesmo a provocado. "Isso seria muito arriscado. Imagine se o EI consegue degolar soldados turcos. Aí Erdogan estaria liquidado."

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