Sem saída, partido finalmente desiste de seu candidato, que mesmo preso tinha até 39% das intenções de voto. "Plano B", ex-prefeito está em curva crescente, mas tem menos de um mês para fazer transferência do eleitorado.
Anúncio
Após meses de suspense, o PT finalmente oficializou, nesta terça-feira (11/09), o seu "plano B" à Presidência. Após reunião da Comissão Executiva Nacional em Curitiba, a poucas horas do prazo final de substituição de candidaturas, membros do partido confirmaram que o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad vai assumir a cabeça de chapa no lugar de Luiz Inácio Lula da Silva.
O anúncio formal ocorreu pouco depois em frente à sede da Superintendência da Polícia Federal na capital paranaense, onde Lula está preso desde abril. O advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, um dos fundadores do PT, leu uma carta do ex-presidente para algumas centenas de apoiadores que se reuniram em frente ao prédio.
"Estou indicando ao PT e à coligação 'O Povo Feliz de Novo' a substituição da minha candidatura pela do companheiro Fernando Haddad, que até este momento desempenhou com extrema lealdade a posição de candidato a vice-presidente", disse o petista na carta. "A partir de agora, Haddad vai ser Lula para milhões de brasileiros."
Pouco depois, Haddad tomou a palavra e, após repetir algumas frases de efeito para a militância petista – lançando acusações contra a Rede Globo e a elite brasileira –, disse que vai "ganhar essa eleição pelo Lula, pelo PT, pelo PCdoB, pelos movimentos sociais e pelo Brasil".
Ao seu lado estavam figuras do PT como a ex-presidente Dilma Rousseff e os governadores Fernando Pimentel e Wellington Dias. A presidente do partido, a senadora Gleisi Hoffmann, definiu a desistência de Lula como "um momento de dor" e disse que a decisão de substituição partiu do próprio ex-presidente. "Como ele determinou, estamos apresentando Haddad", afirmou.
Após o anúncio, Haddad evitou falar com a imprensa. Apoiadores gritavam "Lula livre, Haddad presidente!" e "Manu no Jaburu!".
No início da noite, os advogados da coligação PT/PCdoB/PROS registraram oficialmente junto à Justiça Eleitoral a candidatura de Haddad à Presidência e da deputada Manuela D'Ávila (PCdoB) como vice. O PT tinha até esta terça para efetuar a troca em sua chapa presidencial.
Antes disso, o partido havia tentado postergar ao máximo o anúncio. Nos últimos meses, seus dirigentes negaram repetidamente a possibilidade de substituir Lula como candidato, mesmo após ele ter sido condenado em segunda instância e atingido pela Lei da Ficha Limpa.
Apoiadores de Lula também tentaram até o último momento reverter a decisão que barrou a candidatura dele em agosto. Não foi fácil para o partido desistir do seu principal nome. Nas pesquisas eleitorais, Lula aparecia com até 39% das intenções de voto, muito à frente de qualquer outro candidato.
Poucas horas antes do anúncio, Gleisi Hoffmann ainda afirmava a jornalistas que o partido pretendia aguardar a análise de um recurso no Supremo contra a decisão que barrou a candidatura de Lula. No entanto, outros dirigentes petistas que chegavam à reunião já diziam que estavam resignados com a substituição.
Nas últimas semanas, a insistência em manter Lula como candidato vinha causando nervosismo em alguns setores do partido, que defendiam uma definição rápida de Haddad como substituto para aproveitar ao máximo o tempo restante de campanha até o primeiro turno.
Enquanto a resistência à execução do plano B persistiu, o candidato Ciro Gomes (PDT), que disputa o mesmo eleitorado que votou no PT em eleições passadas, passou para o segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto.
Haddad já vinha assumindo uma posição de maior destaque nas últimas semanas, viajando ao Nordeste e concedendo várias entrevistas. No entanto, ele ainda insistia que era apenas candidato a vice e que Lula era de fato o candidato do PT à Presidência.
Agora, Haddad e D'Ávila vão ter menos de um mês para fazer campanha com a nova composição da chapa e promover junto aos eleitores que eles são os candidatos indicados por Lula.
Haddad, por enquanto, está em quarto lugar na última pesquisa Datafolha, mas seu desempenho segue uma curva crescente. Mesmo antes de ter sido anunciado como o candidato do PT, ele já registrou 9% das intenções de voto, ficando tecnicamente empatado com Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB), que já se esforçam há meses para promover suas candidaturas.
Em agosto, Haddad tinha apenas 4% das intenções no Datafolha. Assim, foi o candidato que apresentou o maior crescimento. Segundo o governador Fernando Pimentel, os números da pesquisa Datafolha mostram que Lula já está conseguindo transferir votos para seu indicado.
Mas entre as dificuldades que o ex-prefeito deve enfrentar está o desafio de promover sua candidatura para mais setores da sociedade sem a participação de Lula, que preso não poderá gravar peças de campanha e participar de eventos ao lado do ex-prefeito.
Quando venceu a corrida pela prefeitura de São Paulo em 2012, Haddad dependeu em larga medida de recursos volumosos disponibilizados pelo PT e sua associação com o ex-presidente, que participou de dezenas de eventos de campanha ao lado dele. Em 2016, a tática não funcionou, e ele acabou perdendo no primeiro turno para João Doria (PSDB), que fazia sua estreia na política.
Haddad ainda segue sendo o único candidato com desempenho relevante nas pesquisas que corre o risco de perder em um eventual segundo turno com o ex-capitão populista de direita Jair Bolsonaro (PSL). Segundo o Datafolha, Haddad tem por enquanto 39% das intenções de voto em uma disputa isolada contra Bolsonaro, que registra 38%. Candidatos como Ciro, Marina e Alckmin aparecem com vantagem maior em cenários contra o ex-capitão.
Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.