Membros da executiva nacional do partido vão permanecer na capital paranaense, onde Lula está preso. Partido também mantém pré-candidatura do ex-presidente à Presidência da República.
Anúncio
O PT decidiu nesta segunda-feira (09/04) transferir em caráter provisório a sua sede nacional para Curitiba, onde o ex-presidente está preso desde sábado.
Segundo a presidente nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann, não se trata de uma mudança física da sede, que fica em São Paulo, mas de uma transferência temporária dos membros da comissão executiva nacional para a capital paranaense. "Nós vamos transferir não a sede física, mas a direção política do PT para Curitiba", disse Hoffmann, que já tinha a cidade, que é sua base eleitoral, como domicílio.
A decisão foi tomada em reunião dos membros da executiva nacional do partido, entre eles os líderes na Câmara dos Deputados, Paulo Pimenta (RS), e no Senado, Lindbergh Farias (RJ).
No mesmo encontro, Gleisi afirmou mais uma vez que Lula continua sendo o candidato do PT à Presidência. "Ele é o nosso candidato sob qualquer circunstância. Aliás, entendemos que a liberdade de Lula é a candidatura efetiva à Presidência. Portanto, vamos lutar muito pela candidatura do Lula", disse a senadora.
Hoffmann também afirmou que um grupo de governadores está planejando ir à capital do Paraná para prestar solidariedade ao ex-presidente. "Temos a confirmação dos governadores de que eles vêm para cá, vão até a Polícia Federal, e nós estamos vendo a possibilidade de visitarem o presidente Lula", disse.
Ao longo desta segunda-feira, apoiadores do ex-presidente participaram de uma vigília nos arredores da sede da superintendência da Polícia Federal (PF) em Curitiba.
Segundo os organizadores, militantes vão permanecer na área até que Lula seja solto. O dia transcorreu de maneira calma na região, em contraste com os incidentes que ocorreram no sábado, dia da chegada de Lula ao prédio, quando nove pessoas ficaram feridas em confrontos com policiais.
Segundo o advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin, o ex-presidente tem passado o tempo na prisão lendo. Ele também contou que Lula celebrou o título do seu time, o Corinthians, que venceu o campeonato paulista no domingo.
Prisão
Lula vai completar nesta segunda-feira dois dias na cadeia. Ele se entregou a agentes federais no sábado.
Após a decretação da sua prisão pelo juiz Sérgio Moro, na quinta-feira, Lula se dirigiu para a sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, entidade que foi embrião do PT, no início dos anos 1980.
Inicialmente, Moro havia oferecido a opção para que o petista se entregasse na sede da PF em Curitiba até as 17h de sexta-feira. A ordem ocorreu algumas horas depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter negado um pedido de habeas corpus preventivo apresentado pela defesa de Lula.
Mas acabaram se passando quase 50 horas entre o anúncio da ordem e a apresentação de Lula à PF. O ex-presidente acabou se entregando 26 horas depois do prazo fixado pelo juiz. Durante o período em que ficou no sindicato, o ex-presidente recebeu solidariedade de várias figuras da esquerda brasileira. Centenas de apoiadores se posicionaram em frente ao edifício.
Houve registro de várias agressões a jornalistas cometidas por apoiadores do ex-presidente, ações que foram condenadas por entidades que representam a imprensa. Nos tribunais, a defesa de Lula sofreu mais duas derrotas ao ter mais dois pedidos de habeas corpus rejeitados, um pelo STF e o outro pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Quando finalmente resolveu deixar o local, neste sábado, Lula teve dificuldade de seguir de carro. Dezenas de apoiadores formaram um cordão humano para impedir que o ex-presidente se entregasse. Lula acabou tendo que sair a pé e se entregou para um grupo de agentes da PF que o aguardavam nas proximidades.
De lá, seguiu para o aeroporto de Congonhas, em São Paulo. O petista decolou do local num avião monomotor. O voo chegou ao aeroporto Afonso Pena, na região metropolitana de Curitiba, por volta das 22h. Do aeroporto, o petista seguiu de helicóptero até a sede da superintendência da PF, que fica na região norte da capital paranaense.
O local abriga outros presos da Lava Jato, como o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, que, segundo o Ministério Público, pagou suborno a Lula na forma de um apartamento tríplex no Guarujá, episódio que levou à condenação do petista por corrupção e lavagem de dinheiro.
Por determinação de Moro, que já havia proibido Lula de ser algemado, os agentes da PF instalaram o petista numa sala especial do complexo. O local tem 15 metros quadrados e conta com uma cama, uma mesa e um banheiro privativo. Foi autorizada a instalação de um televisor no local.
----------------
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos noFacebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App
Ex-governantes na mira da Justiça
Réu em vários processos, condenado e preso, Lula faz parte de uma extensa galeria de antigos governantes acusados de corrupção que cumprem pena ou ainda batalham nos tribunais.
Foto: picture-alliance/AP-Photo/L. Correa
Park Geun-hye (Coreia do Sul)
Presidente entre 2013 e 2016, Park sofreu impeachment por realizar tráfico de influência. Em seguida, foi acusada de desviar milhões de dólares de fundos de serviços de inteligência do país para compras extravagantes, além de pedir propina a grandes empresas sul-coreanas, como a Samsung. Em 2018, foi condenada a 25 anos de prisão.
Foto: picture-alliance/AP Photo/K. Hong-Ji
O quinteto peruano
O ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000) foi preso em 2005 por crimes diversos, e quatro sucessores se viram ligados à Odebrecht: Alejandro Toledo (2001-2006) teve prisão decretada em 2017 e está nos EUA; Alan Gárcia (2006-2011), investigado, se matou em 2019; Ollanta Humala (2011-2016), preso em 2017, foi solto no ano seguinte; e Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018) está em prisão domiciliar.
Foto: Getty Images/AFP/P. Ji-Hwan/C. Bournocle/T. Charlier/ J. Razuri
Ricardo Martinelli (Panamá)
Presidente de 2009 a 2014, Martinelli foi preso em Miami em 2017 e extraditado a seu país no ano seguinte, onde era acusado de operar esquema ilegal de espionagem de adversários políticos durante seu governo e de receber subornos da empreiteira brasileira Odebrecht. O acordo de extradição exigiu que ele fosse julgado apenas pelo delito de espionagem, pelo qual foi absolvido em agosto de 2019.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Martínez
Carlos Menem (Argentina)
Presidente entre 1989 e 1999, o extravagante Menem foi mantido preso durante cinco meses em 2001 por envolvimento em um escândalo de venda ilegal de armas para a Croácia. Em 2013, foi condenado a sete de anos de prisão pelo caso. Em 2015, voltou a ser condenado por corrupção envolvendo o pagamento de propinas a servidores públicos. Por enquanto, um mandato no Senado lhe mantém fora da cadeia.
Foto: picture-alliance /dpa/S. Goya
Jacob Zuma (África do Sul)
Presidente entre 2009 e fevereiro de 2018, Zuma enfrenta pelo menos 18 acusações de corrupção, extorsão, fraude e lavagem de dinheiro. No dia 6 de abril de 2018, compareceu a um tribunal para prestar depoimento em um processo que o acusa de receber subornos na venda de armamento para o governo.
Foto: Reuters/S. Sibeko
Nicolas Sarkozy (França)
Presidente entre 2007 e 2012, Sarkozy enfrenta acusações de corrupção e financiamento ilegal de campanha. Em 2014, foi detido para prestar depoimento em caso de tráfico de influência envolvendo promessas a um juiz em troca de informações sobre processos. Em março de 2018, foi novamente detido para interrogatório, desta vez por suposta doação ilegal feita pelo antigo ditador líbio Muammar Kadhafi.
Foto: REUTERS
Um trio guatemalteco
O ex-presidente da Guatemala Alfonso Portillo (2000-2004) foi preso em 2010 por receber subornos do governo de Taiwan, e solto em 2015. Alvaro Colom (2008-2012) foi preso em março de 2018 por fraudes no sistema de ônibus da capital e solto cinco meses depois. Otto Pérez Molina (2012-2015) foi detido um dia após renunciar por fraude em esquema de importações e seguia preso até outubro de 2019.
Foto: AP
José Sócrates (Portugal)
Primeiro-ministro entre 2005 e 2011, Sócrates foi preso em novembro de 2014 por suspeita de corrupção, evasão fiscal e lavagem de dinheiro. Segundo a Justiça, Sócrates beneficiou grupos empresariais enquanto esteve no poder e em troca recebeu 24 milhões de euros. Permaneceu na cadeia até setembro de 2015, quando passou para a prisão domiciliar. Em outubro de 2017, foi denunciado por 31 crimes.
Foto: Reuters
Ehud Olmert (Israel)
Premiê entre abril de 2006 e março de 2009, Olmert foi condenado em 2014 por aceitar subornos de construtoras quando era prefeito de Jerusalém. Nos meses seguintes, foi condenado em outros processos. Começou a cumprir pena em fevereiro de 2016 e deixou a prisão 16 meses depois, em liberdade condicional. Ele ainda aguarda o resultado de recursos.
Foto: Getty Images/AFP/G. Tibbon
Svetozar Marovic (Sérvia e Montenegro)
Presidente entre 2003 e 2006 da extinta Comunidade da Sérvia e Montenegro, Marovic foi preso em 2015 por envolvimento em uma rede de corrupção na administração da cidade de Budva. Em 2016, foi condenado a três anos e dez meses de cadeia por um tribunal de Montenegro. É considerado foragido pela Justiça. Vive hoje na vizinha Sérvia e é alvo de um pedido de extradição.
Foto: picture-alliance/AP Photo/D. Vojinovic
Ivo Sanader (Croácia)
Primeiro-ministro entre 2003 e 2009, Sanader foi acusado de receber suborno durante a negociação de empréstimo com um banco austríaco. Fugiu da Croácia em 2010. Extraditado em 2011, foi condenado a dez anos de prisão. Foi solto em 2015, após sua condenação ser anulada. Ainda enfrenta outras investigações e em 2017 voltou a ser condenado a quatro anos e meio de prisão por outro caso de corrupção.
Foto: AFP/Getty Images
Khaleda Zia (Bangladesh)
Primeira-ministra entre 1991 e 1996 e novamente entre 2001 e 2006, Khaleda Zia foi presa em fevereiro de 2018 após ser condenada a 17 anos de cadeia por corrupção e desvio de doações internacionais destinadas a um orfanato. Sua defesa afirma que as acusações têm motivação política.
Foto: picture-alliance/dpa/AP Photo/A. M. Ahad
Vlad Filat (Moldávia)
Primeiro-ministro da Moldávia entre 2009 e 2013, Filat foi acusado de embolsar mais de 200 milhões de euros em um esquema de fraude bancária. Durante seu governo, três bancos do país concederam 1 bilhão de euros em empréstimos para empresas de fachada, lesando milhares de correntistas. Foi preso em 2015 e no ano seguinte foi condenado a nove anos de prisão por corrupção e abuso de poder.
Foto: picture-alliance/dpa
Fernando Collor (Brasil)
Em agosto de 2017, o ex-presidente Collor (1990-1992) se tornou réu por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa no âmbito da Lava Jato, acusado de cobrar propina em negócios envolvendo a BR Distribuidora. Em maio de 2019, foi denunciado também por peculato. Collor é senador e seus processos correm no Supremo Tribunal Federal.
Foto: picture-alliance/dpa/C. Gomes
Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil)
Em janeiro de 2018, o ex-presidente Lula (2003-2010) foi condenado em 2ª instância por corrupção e lavagem de dinheiro, no âmbito da Lava Jato, acusado de receber como suborno um apartamento no Guarujá. Detido em abril de 2018, ele já teria direito a ir ao regime semiaberto, mas segue preso. Em fevereiro de 2019, foi condenado em 1ª instância, desta vez envolvendo reformas num sítio em Atibaia.