Puigdemont abre mão de ser chefe de governo catalão
10 de maio de 2018
Após tribunal espanhol barrar sua candidatura, líder separatista indica outro nome para o cargo de presidente da Catalunha, que será votado no Parlamento. Passo promete destravar meses de impasse político na região.
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O ex-chefe de governo catalão Carles Puigdemont, principal nome do movimento independentista regional, anunciou nesta quinta-feira (10/05) que desistiu da disputa pela presidência da Catalunha – um passo que promete destravar meses de impasse político na comunidade autônoma espanhola.
Em vídeo gravado em Berlim, Puigdemont indicou o parlamentar Quim Torra, ex-líder da organização catalã pró-independência Òmnium Cultural, como seu sucessor na chefia de governo, instando o Parlamento regional a confirmá-lo como novo presidente da Catalunha.
"Eu entendo, pessoalmente, os esforços e o sacrifício em assumir o governo em circunstâncias tão extremas como a que vive a Catalunha", disse o líder separatista. "Espero que ele assuma a responsabilidade nos próximos dias e forme um governo imediatamente."
Apesar de desistir de sua ambição de voltar a ser presidente da região espanhola, Puigdemont afirmou que "continuará lutando em defesa dos direitos" dos catalães.
O Parlamento catalão – onde os partidos pró-independência são maioria – tem até 22 de maio para eleger um novo líder regional, se quiser evitar a convocação de novas eleições na região. A nomeação de Torra deve ser votada pelos parlamentares na próxima semana.
Desde o último pleito, em dezembro do ano passado, várias tentativas de formar um governo foram barradas por tribunais espanhóis, porque os candidatos à presidência apontados pelo Parlamento ou estavam presos ou em autoexílio fora do país – entre eles, Puigdemont.
O anúncio do ex-chefe de governo catalão ocorre um dia depois de o Tribunal Constitucional da Espanha ter aceitado um pedido do governo em Madri que efetivamente impediu que políticos pró-independência na Catalunha votem em Puigdemont enquanto ele permanece ausente.
Nesta quinta-feira, o líder separatista defendeu que Quim Torra tem apoio suficiente no Parlamento catalão para ser eleito chefe de governo e acabar com meses de impasse político.
Membro do Parlamento regional, Torra é um advogado e jornalista que tem feito campanha pela independência da Catalunha. Segundo a página do Parlamento na internet, ele já publicou uma série de livros sobre a história da comunidade autônoma.
Em reação ao anúncio de Puigdemont, Torra afirmou aceitar com "responsabilidade e vontade de servir o país" a indicação do "presidente legítimo da Catalunha, Carles Puigdemont". O parlamentar ainda se disse "honrado pela confiança recebida".
Da Catalunha à Alemanha
Puigdemont está na Alemanha, aguardando em liberdade o processo sobre sua extradição para a Espanha, onde é procurado pelos crimes de rebelião e corrupção em relação ao processo de independência iniciado em 2017. Caso retorne, ele pode enfrentar até 25 anos de prisão.
O líder separatista deixou seu país para um autoexílio na Bélgica no ano passado, pouco depois de o Parlamento da Catalunha ter feito uma declaração simbólica de independência da Espanha.
Após a declaração, Madri decidiu intervir na comunidade autônoma da Catalunha por meio da dissolução do Parlamento regional, da destituição do Executivo regional e da convocação de eleições regionais, que foram realizadas em 21 de dezembro passado.
Em 25 de março, Puigdemont, que era foragido da Justiça espanhola, foi detido na Alemanha ao tentar atravessar o território alemão por terra a fim de retornar à Bélgica. Ele havia partido da Finlândia e chegou à Alemanha a partir da Dinamarca.
Em 6 de abril, o ex-líder catalão deixou a prisão na cidade de Neumünster após uma ordem da procuradoria do estado alemão de Schleswig-Holstein, que o liberou para aguardar o processo em liberdade em troca do pagamento de uma fiança de 75 mil euros.
EK/afp/ap/efe/rtr
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Breve história da Catalunha
Desejo de independência da Espanha é acalentado pelos catalães há muito tempo. Ao longo dos séculos, região experimentou vários graus de autonomia e repressão.
Foto: picture-alliance/dpa/AP/F. Seco
Antiguidade rica
A Catalunha foi habitada por fenícios, etruscos e gregos, que estiveram nas áreas costeiras de Rosas e Ampúrias (acima). Depois vieram os romanos, que construíram mais assentamentos e infraestrutura. A Catalunha foi uma parte do Império Romano até ser conquistada pelos visigodos, no século 5.
Foto: Caos30
Condados e independência
A Catalunha foi conquistada pelos árabes no ano 711. O rei franco Carlos Magno interrompeu o avanço deles em Tours, no rio Loire, e em 759 o norte da Catalunha se tornou novamente cristão. Em 1137, os condados que compunham a Catalunha iniciaram uma aliança com a Coroa de Aragão.
Foto: picture-alliance/Prisma Archiv
Guerra e perda de território
No século 13, as instituições de autoadministração catalã foram criadas sob o nome Generalitat de Catalunya. Depois da unificação da Coroa de Aragão com a de Castela, em 1476, Aragão pôde manter suas instituições autônomas. No entanto, a revolta catalã – de 1640 a 1659 – fez com que partes da Catalunha fossem cedidas à atual França.
Foto: picture-alliance/Prisma Archivo
Lembrando a derrota
No final da Guerra da Sucessão, Barcelona foi tomada, em 11 de setembro de 1714, pelo rei espanhol Felipe 5°, as instâncias catalãs foram dissolvidas e a autoadministração chegou ao fim. Todos os anos, em 11 de setembro, os catalães fazem uma grande comemoração para lembrar o fim do seu direito à autonomia.
Foto: Getty Images/AFP/L. Gene
República passageira
Após a abdicação do rei Amadeo 1°, da Espanha, a primeira república espanhola foi declarada em fevereiro de 1873. Ela durou apenas um ano. Os partidários da república estavam divididos, com um grupo apoiando uma república centralizada e outros, um sistema federal. A foto mostra Francisco Pi y Maragall, um partidário do federalismo e um dos cinco presidentes da república de curta duração.
Foto: picture-alliance/Prisma Archivo
Tentativa fracassada
A Catalunha tentou estabelecer um novo Estado dentro da república espanhola, mas isso apenas exacerbou as diferenças entre os republicanos e os enfraqueceu. Em 1874, a monarquia e a Casa de Bourbon, liderada pelo rei Afonso 12 (foto), retomaram o poder.
Foto: picture-alliance/Quagga Illustrations
Direitos de autonomia
Entre 1923 e 1930, o general Primo de Rivera liderou uma ditadura – com o apoio da monarquia, do Exército e da Igreja. A Catalunha se tornou um centro de oposição e resistência. Após o fim do regime, o político Francesc Macia (foto) conseguiu impor direitos importantes de autonomia para a Catalunha.
Fim da liberdade
Na Segunda República Espanhola, os legisladores catalães trabalharam no Estatuto de Autonomia da Catalunha, aprovado pelo Parlamento espanhol em 1932. Francesc Macia foi eleito presidente da Generalitat de Catalunha pelo Parlamento catalão. No entanto, a vitória de Franco no fim da Guerra Civil Espanhola (1936 a 1939) acabou com tudo isso.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Opressão
O ditador Francisco Franco governou com mão de ferro. Partidos políticos foram proibidos, e a língua e a cultura catalãs, reprimidas.
Foto: picture alliance/AP Photo
Novo estatuto de autonomia
Após as primeiras eleições parlamentares que se seguiram ao fim da ditadura de Franco, a Generalitat da Catalunha foi provisoriamente restaurada. Sob a Constituição democrática espanhola de 1978, a Catalunha recebeu um novo estatuto de autonomia, apenas um ano depois.
O novo estatuto de autonomia reconheceu a autonomia da Catalunha e a importância da língua catalã. Em comparação com o estatuto de 1932, ele apresentou avanços nos campos da cultura e educação, mas restrições no âmbito da Justiça. A foto é de Jordi Pujol, que foi por longo tempo chefe de governo da Catalunha depois da ditadura.
Foto: Jose Gayarre
Anseio por independência
O desejo por independência da Espanha se tornou mais forte nos últimos anos. Em 2006, a Catalunha recebeu um novo estatuto, que ampliou ainda mais os poderes do governo catalão. No entanto, eles são perdidos após uma queixa levada pelo conservador Partido Popular ao Tribunal Constitucional espanhol.
Foto: Reuters/A.Gea
Primeiro referendo
Um referendo sobre a independência estava previsto para 9 de novembro de 2014. A primeira questão era "você quer que a Catalunha se torne um Estado?" No caso de uma resposta afirmativa, a segunda pergunta era "você quer que esse Estado seja independente?" No entanto, o Tribunal Constitucional suspendeu a votação.
Foto: Reuters/G. Nacarino
Luta de titãs
Desde janeiro de 2016, Carles Puigdemont é o presidente do governo catalão. Ele deu continuidade ao curso separatista de seu antecessor, Artur Mas, e convocou um novo referendo para 1° de outubro de 2017. O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, disse que a consulta é inconstitucional.