Em declaração na TV, chefe do governo regional diz que convocará Parlamento para decidir sobre "intenção de liquidar governo catalão". Dezenas de milhares protestam em Barcelona.
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O chefe do governo regional da Catalunha, Carles Puigdemont, assegurou neste sábado (21/10), em Barcelona, que os catalães vão resistir "de forma pacífica" ao "ataque à democracia" empreendido por Madri.
Puigdemont anunciou, numa declaração televisiva, que convocará o Parlamento regional para reunir-se com vista a decidir sobre "a intenção de liquidar" o governo catalão, naquele que considera ser "o pior ataque às instituições" democráticas desde os tempos do ditador Francisco Franco.
O líder da Catalunha respondeu assim às medidas apresentadas neste sábado em Madri pelo governo do primeiro-ministro Mariano Rajoy, para restaurar a legalidade na Catalunha, que incluem o afastamento de Carles Puigdemont e de sua equipe, com as suas responsabilidades a serem assumidas pelos respetivos ministérios setoriais em Madri.
"Golpe de Estado"
O governo espanhol propôs a destituição do presidente da Catalunha e todos os membros do seu Executivo, a limitação das competências do Parlamento regional e novas eleições num prazo de seis meses.
Essas foram as principais medidas de aplicação do artigo 155 da Constituição espanhola para repor a legalidade na Catalunha e que agora têm de ser aprovadas pelo Senado, muito provavelmente na próxima sexta-feira, 27 de outubro.
A presidente do Parlamento da Catalunha, Carme Forcadell, garantiu neste sábado que os integrantes da Câmara não permitirão a implementação dessas medidas, que ela qualificou de "golpe de Estado". Segundo ela, o Executivo espanhol "passou de todos os limites".
"Os que enchem a boca para falar da Constituição cairão no maior flagrante de inconstitucionalidade ao tentar suspender a democracia na Catalunha", afirmou.
Ela lembrou que as autoridades catalãs fizeram uma oferta de diálogo ao governo espanhol, mas disse que o primeiro-ministro, Mariano Rajoy, tem se comportado "com enorme irresponsabilidade política" e que no final deu um "golpe de Estado com o qual pretende decapitar as instituições catalãs e se apropriar delas."
Protesto em Barcelona
Também no sábado, autoridades da Catalunha, entre elas Carles Puigdemont, e dezenas de milhares de pessoas participaram de manifestação no centro de Barcelona contra as medidas decididas pelo governo da Espanha para restabelecer a ordem constitucional na região.
Com gritos de "independência", o protesto foi organizado com o lema: "Em defesa dos direitos e das liberdades". A manifestação já tinha sido convocada há alguns dias para exigir a liberdade de dois líderes de entidades sociais independentistas que foram detidos.
Os dois foram presos provisoriamente por ordem da Audiência Nacional da Espanha acusados do crime de "insurreição" por promover o assédio à Guarda Civil em Barcelona quando os agentes federais faziam uma operação numa sede do governo regional em setembro.
CA/efe/lusa
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Breve história da Catalunha
Desejo de independência da Espanha é acalentado pelos catalães há muito tempo. Ao longo dos séculos, região experimentou vários graus de autonomia e repressão.
Foto: picture-alliance/dpa/AP/F. Seco
Antiguidade rica
A Catalunha foi habitada por fenícios, etruscos e gregos, que estiveram nas áreas costeiras de Rosas e Ampúrias (acima). Depois vieram os romanos, que construíram mais assentamentos e infraestrutura. A Catalunha foi uma parte do Império Romano até ser conquistada pelos visigodos, no século 5.
Foto: Caos30
Condados e independência
A Catalunha foi conquistada pelos árabes no ano 711. O rei franco Carlos Magno interrompeu o avanço deles em Tours, no rio Loire, e em 759 o norte da Catalunha se tornou novamente cristão. Em 1137, os condados que compunham a Catalunha iniciaram uma aliança com a Coroa de Aragão.
Foto: picture-alliance/Prisma Archiv
Guerra e perda de território
No século 13, as instituições de autoadministração catalã foram criadas sob o nome Generalitat de Catalunya. Depois da unificação da Coroa de Aragão com a de Castela, em 1476, Aragão pôde manter suas instituições autônomas. No entanto, a revolta catalã – de 1640 a 1659 – fez com que partes da Catalunha fossem cedidas à atual França.
Foto: picture-alliance/Prisma Archivo
Lembrando a derrota
No final da Guerra da Sucessão, Barcelona foi tomada, em 11 de setembro de 1714, pelo rei espanhol Felipe 5°, as instâncias catalãs foram dissolvidas e a autoadministração chegou ao fim. Todos os anos, em 11 de setembro, os catalães fazem uma grande comemoração para lembrar o fim do seu direito à autonomia.
Foto: Getty Images/AFP/L. Gene
República passageira
Após a abdicação do rei Amadeo 1°, da Espanha, a primeira república espanhola foi declarada em fevereiro de 1873. Ela durou apenas um ano. Os partidários da república estavam divididos, com um grupo apoiando uma república centralizada e outros, um sistema federal. A foto mostra Francisco Pi y Maragall, um partidário do federalismo e um dos cinco presidentes da república de curta duração.
Foto: picture-alliance/Prisma Archivo
Tentativa fracassada
A Catalunha tentou estabelecer um novo Estado dentro da república espanhola, mas isso apenas exacerbou as diferenças entre os republicanos e os enfraqueceu. Em 1874, a monarquia e a Casa de Bourbon, liderada pelo rei Afonso 12 (foto), retomaram o poder.
Foto: picture-alliance/Quagga Illustrations
Direitos de autonomia
Entre 1923 e 1930, o general Primo de Rivera liderou uma ditadura – com o apoio da monarquia, do Exército e da Igreja. A Catalunha se tornou um centro de oposição e resistência. Após o fim do regime, o político Francesc Macia (foto) conseguiu impor direitos importantes de autonomia para a Catalunha.
Fim da liberdade
Na Segunda República Espanhola, os legisladores catalães trabalharam no Estatuto de Autonomia da Catalunha, aprovado pelo Parlamento espanhol em 1932. Francesc Macia foi eleito presidente da Generalitat de Catalunha pelo Parlamento catalão. No entanto, a vitória de Franco no fim da Guerra Civil Espanhola (1936 a 1939) acabou com tudo isso.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Opressão
O ditador Francisco Franco governou com mão de ferro. Partidos políticos foram proibidos, e a língua e a cultura catalãs, reprimidas.
Foto: picture alliance/AP Photo
Novo estatuto de autonomia
Após as primeiras eleições parlamentares que se seguiram ao fim da ditadura de Franco, a Generalitat da Catalunha foi provisoriamente restaurada. Sob a Constituição democrática espanhola de 1978, a Catalunha recebeu um novo estatuto de autonomia, apenas um ano depois.
O novo estatuto de autonomia reconheceu a autonomia da Catalunha e a importância da língua catalã. Em comparação com o estatuto de 1932, ele apresentou avanços nos campos da cultura e educação, mas restrições no âmbito da Justiça. A foto é de Jordi Pujol, que foi por longo tempo chefe de governo da Catalunha depois da ditadura.
Foto: Jose Gayarre
Anseio por independência
O desejo por independência da Espanha se tornou mais forte nos últimos anos. Em 2006, a Catalunha recebeu um novo estatuto, que ampliou ainda mais os poderes do governo catalão. No entanto, eles são perdidos após uma queixa levada pelo conservador Partido Popular ao Tribunal Constitucional espanhol.
Foto: Reuters/A.Gea
Primeiro referendo
Um referendo sobre a independência estava previsto para 9 de novembro de 2014. A primeira questão era "você quer que a Catalunha se torne um Estado?" No caso de uma resposta afirmativa, a segunda pergunta era "você quer que esse Estado seja independente?" No entanto, o Tribunal Constitucional suspendeu a votação.
Foto: Reuters/G. Nacarino
Luta de titãs
Desde janeiro de 2016, Carles Puigdemont é o presidente do governo catalão. Ele deu continuidade ao curso separatista de seu antecessor, Artur Mas, e convocou um novo referendo para 1° de outubro de 2017. O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, disse que a consulta é inconstitucional.