Líder russo diz que as prisões de dirigentes da entidade são "tentativa óbvia" de tirar o suíço da presidência da Fifa. Segundo ele, Washington persegue ilegalmente cidadãos estrangeiros.
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O presidente russo, Vladimir Putin, criticou nesta quinta-feira (28/05) as detenções de sete dirigentes do futebol em Zurique, e as classificou como uma "tentativa óbvia" dos Estados Unidos de tirar o suíço Joseph Blatter da presidência da entidade.
"Essa é uma clara tentativa de bloquear a reeleição de Blatter como presidente da Fifa e uma transgressão muito séria dos princípios de como funcionam as organizações internacionais", disse o líder russo.
Putin acusou, ainda, os Estados Unidos de tentarem "impor a sua jurisdição em outros países". "Se algum deles violou alguma lei, não sei. Mas os Estados Unidos não têm nada a ver com isso. Estes dirigentes não são cidadãos americanos. E se algo aconteceu, não aconteceu no território dos Estados Unidos", criticou.
Citando o ex-colaborador dos serviços de inteligência dos EUA Edward Snowden e o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, que fogem no exterior de processos nos EUA, o líder russo questionou o direito de Washington de pedir à Suíça a extradição dos dirigentes da Fifa.
"Infelizmente, nossos parceiros americanos usam tais métodos para obter seus objetivos egoístas e perseguir pessoas ilegalmente. Não descarto a possibilidade de que o caso da Fifa seja exatamente a mesma coisa", afirmou.
Segundo a agência Interfax, Putin pediu à Fifa que realize a votação presidencial na sexta-feira, como previsto. Na opinião do presidente russo, as eleições devem ser realizadas, e Blatter, que concorre a um quinto mandato, tem todas as possibilidades de ser reeleito.
"Também sabemos que foram feitas pressões [sobre Blatter] para proibir a realização do Mundial de 2018 na Rússia", acrescentou Putin.
A Rússia apoia oficialmente a reeleição de Blatter. O presidente da Federação de Futebol da Rússia, Nikolái Tolstij, reiterou nesta quinta-feira que seu país apoia a candidatura do atual presidente da Fifa na eleição prevista para sexta-feira.
O Departamento de Justiça dos Estados Unidos indiciou na quarta-feira nove dirigentes ou ex-dirigentes e cinco parceiros da Fifa, acusando-os de conspiração e corrupção nos últimos 24 anos, num caso em que serão investigados subornos no valor de 151 milhões de dólares.
Simultaneamente, as autoridades suíças abriram uma investigação sobre a eleição das sedes dos Mundiais de 2018 e 2022, previstos para serem realizados na Rússia e no Catar.
O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.