Putin alerta para "histeria militar" contra Coreia do Norte
5 de setembro de 2017
Após teste nuclear norte-coreano, presidente russo diz que única solução é diálogo e classifica sanções contra Pyongyang de inúteis. Seul realiza mais manobras militares em reação a suposta bomba de hidrogênio.
Anúncio
Após a suposta detonação de uma bomba de hidrogênio pela Coreia do Norte no último fim de semana desencadear duras reações internacionais – sobretudo por parte dos EUA e da Coreia do Sul – o presidente da Rússia, Vladimir Putin, alertou nesta terça-feira (05/09) para uma "histeria militar". Segundo ele, esta não tem sentido algum e "pode levar a uma catástrofe global, com grande perda de vidas humanas".
Em entrevista coletiva durante a nona cúpula do Brics, na China, Putin afirmou que a única solução é o diálogo e condenou o aumento de sanções contra Pyongyang, classificando o recurso de "inútil e ineficaz". Ele frisou, entretanto, que a Rússia condena os testes recentes da Coreia do Norte e que os considera "provocativos".
Com seu sexto e mais potente teste atômico até agora, a Coreia do Norte provocou protestos internacionais no fim de semana. Pyongyang afirmou que detonou uma bomba de hidrogênio que pode ser instalada em um míssil intercontinental.
Coreia do Norte mostra força militar
Enquanto isso, a Coreia do Sul iniciou nesta terça-feira grandes exercícios militares em resposta aos testes com bomba de hidrogênio de Pyongyang. Navios de guerra tomaram parte em exercícios de fogo real no Mar do Japão.
As manobras contaram com a participação da fragata de 2.500 toneladas Gangwon, de uma patrulheira de mil toneladas e de vários navios de alta velocidade, e incluíram o lançamento de mísseis guiados, segundo o Ministério de Defesa de Seul.
"O treinamento está destinado a melhorar a capacidade de resposta imediata perante possíveis provocações navais do inimigo", afirmou o comandante Choi Young-chan em declarações à agência local Yonhap. "Se o inimigo lança uma provocação acima ou debaixo da água, imediatamente vamos contra-atacar para enterrá-lo no mar", alertou o oficial.
O Exército e a Aeronáutica da Coreia do Sul já haviam realizado exercícios militares na segunda-feira, das quais participaram caças F-15K equipados com mísseis de ar-terra Taurus, incluindo simulações de ataques à área de testes nucleares da Coreia do Norte. Seul informou que mais exercícios estão planejados para os próximos dias.
Possível novo lançamento e sanções
Pyongyang lançou nos últimos meses uma série de mísseis, incluindo dois mísseis balísticos intercontinentais (ICBM, na sigla em inglês). Seul afirma que o regime norte-coreano deve lançar mais um míssil em breve. Um jornal sul-coreano afirmou nesta terça-feira que a Coreia do Norte parece estar transportando um ICBM em direção a sua costa oeste, em local que dispõe de plataformas de lançamento.
Nesta terça-feira, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, afirmou que União Europeia vai discutir no fim de semana a definição de novas sanções contra a Coreia do Norte, durante uma reunião dos ministros do Exterior do bloco. Ao mesmo tempo, Merkel alertou contra uma escalada militar.
"Só pode haver uma solução pacífica e diplomática aqui, que devemos buscar com todas as nossas forças", disse.
Em resposta ao teste nuclear realizado pela Coreia do Norte, os Estados Unidos pediram nesta segunda-feira que o Conselho de Segurança da ONU imponha sanções ainda mais duras a Pyongyang. Segundo diplomatas, as novas medidas de retaliação podem mirar o fornecimento de petróleo ao país asiático.
Desde que o regime de Pyongyang realizou o seu primeiro teste nuclear, em 2006, a ONU já impôs à Coreia do Norte sete rodadas de sanções, que foram ficando cada vez mais duras. No último dia 5 de agosto, o Conselho de Segurança aprovou a resolução mais severa contra o país até o momento.
MD/efe/lusa/rtr/afp/ap
Verdades e mitos sobre a dinastia Kim
Família governa a Coreia do Norte desde a fundação do país, há quase sete décadas, com um culto quase divino às personalidades de Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un.
Foto: picture alliance / dpa
Um jovem líder
Kim Il-sung, o primeiro e "eterno" presidente da Coreia do Norte, assumiu o poder em 1948 com o apoio da União Soviética. O calendário oficial do país começa no seu ano de nascimento, 1912, designando-o de "Juche 1", em referência ao nome da ideologia estatal. O primeiro ditador norte-coreano tinha 41 anos ao assinar o armistício que encerrou a Guerra da Coreia (foto).
Foto: picture-alliance/dpa
Idolatria
Após a guerra, a máquina de propaganda de Pyongyang trabalhou duro para tecer uma narrativa mítica em torno de Kim Il-sung. A sua infância e o tempo que passou lutando contra as tropas japonesas nos anos 1930 foram enobrecidas para retratá-lo como um gênio político e militar. No congresso partidário de 1980, Kim anunciou que seria sucedido por seu filho, Kim Jong-il.
Foto: picture-alliance/AP Photo
No comando até o fim
Em 1992, Kim Il-sung começou a escrever e publicar sua autobiografia, "Memórias – No transcurso do século." Ao descrever sua infância, o líder norte-coreano afirmou que ao 6 anos participou de sua primeira manifestação contra os japoneses e, aos 8, envolveu-se na luta pela independência. As memórias permaneceram inacabadas com a sua morte, em 1994.
Foto: Getty Images/AFP/JIJI Press
Nos passos do pai
Depois de passar alguns anos no primeiro escalão do regime, Kim Jong-il assumiu o poder após a morte do pai. Seus 16 anos de governo foram marcados pela fome e pela crise econômica num país já empobrecido. Mas o culto de personalidade em torno dele e de seu pai, Kim Il-sung, cresceu ainda mais.
Foto: Getty Images/AFP/KCNA via Korean News Service
Nasce uma estrela
Historiadores acreditam que Kim Jong-il nasceu num campo militar no leste da Rússia, provavelmente em 1941. Mas a biografia oficial afirma que o nascimento dele aconteceu na montanha sagrada coreana de Paekdu, exatamente 30 anos após o nascimento de seu pai, em 15 de abril de 1912. Segundo uma lenda, esse nascimento foi abençoado por uma nova estrela e um arco-íris duplo.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Problemas familiares
Kim Jong-il teve três filhos e duas filhas com três mulheres, até onde se sabe. Esta foto de 1981 mostra Kim Jong-il sentado ao lado de seu filho Kim Jong-nam, fruto de um caso com a atriz Song Hye-rim (que não aparece na foto). A mulher à esquerda é Song Hye-rang, irmã de Song Hye-rim, e os dois adolescentes são filhos de Song Hye-rang. Kim Jong-nam foi assassinado em 2017.
Foto: picture-alliance/dpa
Procurando um sucessor
Em 2009, a mídia ocidental informou que Kim Jong-il havia escolhido seu filho mais novo, Kim Jong-un, para assumir a liderança do regime. Os dois apareceram juntos numa parada militar em 2010, um ano antes da morte de Kim Jong-il.
Foto: picture-alliance/AP Photo/V. Yu
Juntos
Segundo Pyongyang, a morte de Kim Jong-il em 2011 foi marcada por uma série de acontecimentos misteriosos. A mídia estatal relatou que o gelo estalou alto num lago, uma tempestade de neve parou subitamente e o céu ficou vermelho sobre a montanha Paekdu. Depois da morte de Kim Jong-il, uma estátua de 22 metros de altura do ditador foi erguida próxima à de seu pai (esq.) em Pyongyang.
Foto: picture-alliance/dpa
Passado misterioso
Kim Jong-un manteve-se fora de foco antes de subir ao poder. Sua idade também é motivo de controvérsia, mas acredita-se que ele tenha nascido entre 1982 e 1984. Ele estudou na Suíça. Em 2013, ele surpreendeu o mundo ao se encontrar com Dennis Rodman, antiga estrela do basquete americano, em Pyongyang.
Foto: picture-alliance/dpa
Um novo culto
Como os dois líderes antes dele, Kim Jong-un é tratado como um santo pelo regime estatal totalitário. Em 2015, a mídia sul-coreana reportou sobre um manual escolar que sustentava que o novo líder já sabia dirigir aos 3 anos. Em 2017, foi anunciado pela mídia estatal que um monumento em homenagem a ele seria construído no Monte Paekdu.
Foto: picture alliance/dpa/Kctv
Um Kim com uma bomba de hidrogênio
Embora Kim tenha chegado ao poder mais jovem e menos conhecido do público que seu pai e seu avô, ele conseguiu manter o controle do poder. O assassinato de seu meio-irmão Kim Jong-nam, em 2017, serviu para cimentar sua reputação externa de ditador impiedoso. O líder norte-coreano também expandiu o arsenal de armas do país.