Putin assina lei que intensifica censura na Rússia
5 de março de 2022
Segundo o Kremlin, decreto serve para combater "notícias falsas". Qualquer pessoa que se referir à incursão russa na Ucrânia como "guerra" ou "invasão" pode ser condenada a até 15 anos de prisão.
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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou nesta sexta-feira (04/03) uma lei que intensifica ainda mais a censura no país. Segundo o governo russo, a nova legislação serve para combater "notícias falsas". Na prática, aumenta as barreiras para a divulgação de informações em veículos de imprensa e nas redes sociais, principalmente sobre o conflito na Ucrânia.
Qualquer pessoa que utilizar os termos "guerra" ou "invasão" em relação à incursão russa em solo ucraniano pode ser condenada a até 15 anos de prisão. Conforme o Kremlin, o que está ocorrendo na Ucrânia é uma "operação militar especial".
As penas previstas para quem "espalhar informações falsas" ou publicamente pedir sanções à Rússia pela invasão à Ucrânia podem ser de três anos de detenção ou multas. A pena de 15 anos pode ser imputada se as cortes do país julgarem que as notícias causem "consequências graves".
Depois de bloquear o Facebook no país, o regulador de mídia da Rússia, Roskomnadzor, "restringiu o acesso" à rede social Twitter, segundo informaram agências de notícias russas.
As ações contra mídias sociais mantêm a linha de restrições já impostas também a redes de comunicação estrangeiras, como a britânica BBC, a americana Voice of America, a rádio Free Europe/Radio Liberty – que tem sede em Praga, na República Tcheca, mas é financiada pelo governo dos EUA –, o website Meduza, da Letônia, além da Deutsche Welle.
Conforme Vyacheslav Volodin, porta-voz da câmara baixa do parlamento russo, a medida "vai forçar aqueles que mentem e fazem declarações que geram descrédito a nossas forças armadas a sofrer punições severas. Quero que todos compreendam, e que a sociedade compreenda, que estamos fazendo isso para proteger nossos soldados e oficiais, e para proteger a verdade", afirmou Volodin.
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Debandada de veículos de comunicação
Devido à aprovação e à assinatura da nova lei, diversas organizações internacionais de imprensa suspenderam suas operações na Rússia.
"A CNN vai parar de transmitir na Rússia enquanto continuamos a avaliar a situação e nossos próximos passos", disse um porta-voz.
A Canadian Broadcasting Corp suspendeu temporariamente suas reportagens do país.
"A CBC está muito preocupada com a nova legislação aprovada na Rússia, que parece criminalizar reportagens independentes sobre a situação atual na Ucrânia e na Rússia", afirmou, em comunicado.
A Bloomberg News disse que também estava "suspendendo temporariamente o trabalho de seus jornalistas".
"A mudança no código penal, que parece destinada a transformar qualquer repórter independente em um criminoso puramente por associação, torna impossível continuar qualquer exercício normal do jornalismo no país", disse o editor-chefe da Bloomberg, John Micklethwait.
Jornal russo remove conteúdo sobre Ucrânia
Para evitar sanções, o jornal independente russo Novaïa Gazeta, cujo editor recebeu no ano passado o prêmio Nobel da Paz, anunciou nesta sexta-feira a remoção de conteúdos sobre a Ucrânia.
"A lei que sanciona as 'notícias falsas' sobre ações das forças armadas russas entrou em vigor (...), somos obrigados a remover muito conteúdo, mas decidimos continuar trabalhando", indicou o jornal em seu site.
"O gabinete do procurador-geral e o Roskomnadzor [órgão regulador] exigem que a Novaïa Gazeta e outros meios independentes removam o conteúdo que descreve as operações militares no território ucraniano como guerra, agressão ou invasão", explicou o jornal, alertando que "caso contrário, haverá multas enormes e a perspectiva de liquidação das mídias".
Para tomar a decisão, a Novaïa Gazeta fez uma enquete com seus assinantes. Das cerca de 6.500 pessoas que responderam, 94% votaram para "continuar trabalhando sob censura militar, atendendo às exigências das autoridades", enquanto apenas 6% se manifestaram a favor de uma "suspensão do trabalho da redação até o final da 'operação especial'".
gb (AP, Lusa)
A reação do setor de cultura à invasão russa da Ucrânia
Do Festival Eurovisão a Cannes, a esfera cultural mostra desaprovação à invasão da Ucrânia por Vladimir Putin cancelando a participação de artistas russos em seus eventos. Alguns exemplos.
O Festival de Cinema de Cannes anunciou em 1º de março que "não receberia delegações oficiais russas" ou pessoas ligadas ao governo do país. Vários festivais de cinema reagiram da mesma forma, incluindo Glasgow e Estocolmo. Locarno anunciou que não participaria de um boicote, enquanto Veneza oferecerá exibições gratuitas de um filme sobre o conflito de 2014 na região de Donbass.
Foto: REUTERS
Rússia barrada no Festival Eurovisão
A União Europeia de Radiodifusão, que organiza o Festival Eurovisão da Canção, declarou em 25 de fevereiro que "à luz da crise sem precedentes na Ucrânia, a inclusão de uma entrada russa no concurso deste ano traria descrédito à competição". Enquanto isso, o grupo de folk-rap da Ucrânia Kalush Orchestra (foto) emergiu como um dos favoritos a vencer o festival de música mais popular da Europa.
Foto: Suspilne
Óperas interrompem colaborações com o Bolshoi
A Royal Opera House de Londres cancelou a temporada de verão do Balé Bolshoi de Moscou. A encenação de "Lohengrin" da Metropolitan Opera, de Nova York, coproduzida com o Bolshoi, também será afetada. Até então leal a Putin, o diretor da aclamada companhia de balé, Vladimir Urin, está entre os signatários de uma carta em oposição à guerra.
Muitos artistas russos condenaram a guerra. Mas, apesar de um ultimato da Filarmônica de Munique para se posicionar publicamente, o maestro Valery Gergiev permaneceu em silêncio sobre a invasão liderada por Putin, seu amigo desde 1992. Em 1º de março de 2022, a orquestra alemã demitiu seu aclamado maestro. Vários concertos na Europa e nos EUA também foram cancelados.
Foto: Danil Aikin/ITRA-TASS /imago images
Soprano Anna Netrebko é retirada das óperas
A Metropolitan Opera de Nova York (MET) e a Ópera Estatal de Berlim encerraram sua colaboração com a estrela da ópera russa Anna Netrebko, por ela se recusar a "repudiar seu apoio público a Vladimir Putin". Ela é "uma das maiores cantoras da história do MET", disse o diretor da casa de ópera, Peter Gelb, "mas com Putin matando vítimas inocentes na Ucrânia, não havia outro caminho a seguir".
Foto: Roman Vondrous/CTK/imago images
Museus cortam laços com oligarcas russos
Em meio a pedidos para que instituições culturais removam aliados de Putin de seus conselhos, museus estão cortando laços com benfeitores russos. O bilionário Vladimir Potanin deixou o conselho de curadores do Museu Guggenheim (foto), em Nova York, segundo o jornal The New York Times. O site Artnet relata que o magnata bancário Petr Aven deixou o cargo de administrador da Royal Academy em Londres.
Foto: Han Fang/Xinhua/imago images
Hermitage Amsterdam rompe relações com São Petersburgo
Amsterdã abriga o maior satélite do célebre Museu Hermitage de São Petersburgo. Até agora, nunca havia comentado sobre as ações políticas de Putin, mas "com a invasão do exército russo à Ucrânia, uma fronteira foi cruzada". "A guerra destrói tudo. Até 30 anos de colaboração", afirmou o museu holandês em 3 de março. O local também fechou a exposição que estava em cartaz, "Russian Avant-Garde".
Foto: Richard Wareham/imago images
Artistas russos desistem da Bienal de Veneza
Nem sempre são os organizadores de eventos que boicotam os artistas russos. Na Bienal de Veneza, que começa em 23 de abril, são os artistas e o curador da exposição russa que se demitiram, afirmando no Instagram que "o Pavilhão da Rússia permanecerá fechado" em protesto contra os civis mortos por mísseis e manifestantes russos sendo silenciados.
Foto: Photoshot/picture alliance
Hollywood adia lançamentos de filmes na Rússia
Disney, Warner Bros, Sony, Paramount Pictures e Universal decidiram interromper o lançamento de filmes nos cinemas russos. "The Batman" (foto) deveria ser lançado no país em 4 de março. Outros títulos afetados pela decisão incluem o filme de animação da Disney Pixar "Red: Crescer é uma Fera", "The Lost City", da Paramount, e o filme da Marvel "Morbius".
Foto: Jonathan Olley/DC Comics /Warner Bors/dpa/picture alliance
Concertos cancelados na Rússia
"Ucrânia, estamos com você e com todos aqueles na Rússia que se opõem a esse ato brutal", disse Nick Cave. Ele cancelou as datas da turnê russa planejada para o verão, assim como muitos outros grupos, incluindo Franz Ferdinand, The Killers, Iggy Pop e Green Day. O popular rapper russo Oxxxymiron também cancelou seus shows no país, pedindo um movimento antiguerra.