Putin decreta independência de duas regiões da Ucrânia
30 de setembro de 2022
Presidente russo declarou Kherson e Zaporíjia "independentes", em mais um passo para incorporar as duas regiões à Rússia, também com Donetsk e Lugansk. Kiev e comunidade internacional não reconhecerão a anexação ilegal.
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O presidente russo, Vladimir Putin, assinou decretos nesta quinta-feira (29/09) reconhecendo a independência das regiões ucranianas ocupadas de Kherson e Zaporíjia, abrindo caminho para que esses territórios, assim como Donetsk e Lugansk, sejam anexados à Rússia nesta sexta-feira, segundo os planos de Moscou. Kiev e comunidade internacional deixaram claro que não reconhecerão a anexação, que viola a lei internacional.
Na última semana, Moscou realizou "referendos" nessas quatro regiões total ou parcialmente ocupadas pela Rússia, na tentativa de corroborar e justificar a anexação ilegal. Segundo Moscou, o "sim" à incorporação ilegal pela Rússia teria vencido por ampla maioria, de até 99% por votos.
A comunidade internacional, no entanto, não reconhece a validade da votação. Os pseudorreferendos foram realizados sem o consentimento da Ucrânia, sob a lei marcial e em desacordo com os princípios democráticos. Além disso, o trabalho livre de observadores internacionais independentes não foi possível.
Soma-se a isso o fato de que, cada vez mais, se multiplicam os relatos de que cidadãos dessas regiões foram coagidos a votar, muitas vezes sendo obrigados a marcar o "sim" sob a ameaça de armas. Há, também, relatos de pessoas votando várias vezes ou usando identidades de pessoas que não estão mais nas regiões.
A Rússia usa os supostos resultados dos "referendos" como justificativa para a incorporação das áreas ocupadas por separatistas leais ao Kremlin e usa o argumento do "direito do povo à autodeterminação". Putin enfatizou que, após a anexação ilegal, Moscou tratará os ataques da Ucrânia aos territórios como ataques à Rússia e se defenderá com todos os meios – inclusive com a possibilidade de uso de armas nucleares.
Em 2014, a Rússia já tinha usado o resultado de um referendo realizado sob ocupação militar para legitimar a anexação da península ucraniana da Crimeia, no Mar Negro.
A Ucrânia alertou repetidamente que a anexação russa de territórios destruirá qualquer chance de negociações de paz, sete meses depois que a Rússia iniciou a invasão.
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Cerimônia de anexação
A assinatura dos "tratados sobre a adesão de territórios à Federação Russa" está marcada para às 15h (horário local) desta sexta-feira (30/09), em uma cerimônia no St George's Hall do Kremlin, disse o porta-voz do governo, Dmitry Peskov, destacando que haverá um "importante" pronunciamento de Putin.
O plano da Rússia de anexar mais uma parte da Ucrânia é uma escalada da guerra de sete meses e deve isolar ainda mais o Kremlin, atrair mais punições internacionais e trazer à Ucrânia apoio militar, político e econômico adicional.
A Ucrânia disse que a única resposta apropriada do Ocidente é atingir a Rússia com mais sanções e fornecer mais armas às forças ucranianas. O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, convocou uma reunião "urgente" de seu conselho de segurança nacional para sexta-feira.
O presidente americano, Joe Biden, disse nesta quinta-feira que "os Estados Unidos nunca, nunca, nunca" reconhecerão as reivindicações da Rússia sobre o território soberano da Ucrânia.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, também rejeitou os planos de anexação sob violação da lei internacional, condenando-os como "uma escalada perigosa" que "não tem lugar no mundo moderno".
Os quatro territórios – Kherson e Zaporíjia, no sul, e Donetsk e Lugansk, no leste – criam um corredor terrestre crucial entre a Rússia e a península da Crimeia, anexada ilegalmente por Moscou em 2014. Juntas, as cinco regiões representam cerca de 20% do território da Ucrânia.
Na quarta-feira, a Comissão Europeia propôs novas sanções contra exportações russas no valor de 7 bilhões de euros e um teto para o preço do petróleo, entre outras medidas. O pacote ainda precisa ser negociado e aprovado por todos os Estados-membros.
le/rk (AFP, AP, ots)
Instantâneos de uma Ucrânia em guerra
Mostra "O novo anormal", no Museu Deichtorhallen de Hamburgo, registra horrores da guerra, mas também a resistência dos ucranianos, em trabalhos de 12 fotógrafos do país sob invasão russa.
Foto: Oksana Parafeniuk
Civis treinam com armas de madeira
Nesta imagem feita perto de Kiev em 6 de fevereiro de 2022, menos de duas semanas antes da invasão russa, a fotógrafa Oksana Parafeniuk capturou a determinação de seus compatriotas de resistir. Embora os países ocidentais não esperassem que a Rússia atacasse a capital a Ucrânia, os civis de lá já estavam treinando com armas de madeira, para caso de emergência.
Foto: Oksana Parafeniuk
Resistindo com o país
Em 24 de fevereiro, o fotógrafo Mykhaylo Palinchak acordou em Kiev com o som de sirenes, pouco depois ouviu uma explosão. "Desde então, estamos vivendo num novo mundo", afirma. Suas fotografias mostram granadas, casas destruídas e como seus compatriotas defendem a nação, mais do que nunca. A mulher da foto exibe o pulso esquerdo tatuado com o mapa da Ucrânia.
Foto: Mykhaylo Palinchak
Começou às 5 da manhã
"A guerra é a pior das opções da humanidade. Nenhum filme, nenhum livro, nenhuma foto pode transmitir este horror", diz a fotógrafa Lisa Bukreieva. "Com a invasão dos russos, meu sentido de tempo mudou. É apenas um horror de longa
duração." Esta fotografia capta o momento em que a guerra começou para ela.
Foto: Lisa Bukreieva
Cidadãos de Kiev - parte 1
Depois da invasão da Ucrânia pelo exército russo, Kiev se transformou em outra cidade, relata Alexander Chekmenev, de 52 anos. Muitos fugiram, ele próprio enviou a família para a segurança no exterior, mas ficou no país para documentar com sua Pentax a vida dos cidadãos de Kiev em tempos de guerra. Como esta ucraniana em uniforme de combate.
Foto: Alexander Chekmenev
Cidadãos de Kiev - parte 2
Abrigos antiaéreos e centros de primeiros-socorros espalharam-se pela capital ucraniana. Lá, Chekmenev fotografou gente comum, que nunca esteve sob os holofotes: "Eu queria mostrar a dignidade deles. Este país pertence ao seu povo, e eu quero mostrar o meu respeito por cada um deles", diz o fotógrafo de renome internacional.
Foto: Alexander Chekmenev
Traços do presente
Em sua série de fotografias, Pavlo Dorohoi capturou a vida em tempos de guerra em sua cidade natal, Kharkiv. Muitos cidadãos se esconderam em estações do metrô para escapar das bombas, transformando os locais em lares temporários, com "tapetes, cobertores e outros objetos pessoais", relata Dorohoi.
Foto: Pavlo Dorohoi
Bucha: o local do horror
O arquiteto e fotógrafo de Kiev Nazar Furyk fotografou lugares devastados pelas tropas russas, entres os quais a cidade de Bucha, que se tornou símbolo de muitas atrocidades. O fotógrafo se pergunta: como é possível continuar vivendo num lugar assim? Como se lida com essa experiência, gravada profundamente na memória coletiva da população ucraniana?
Foto: Nazar Furyk
Diário de Kiev - parte 1
A fotógrafa e videoartista Mila Teshaieva mantém um diário online desde o início da guerra, onde registrou tudo: desde os primeiros dias, antes dos mísseis, até os crimes contra a humanidade revelados desde então. Seus registros também incluem fotos, como esta.
Foto: Mila Teshaieva
Diário de Kiev - parte 2
Mila Teshaieva relata o desespero que a guerra provoca, mas também registra a união dos ucranianos e sua enorme vontade de resistir. Em sua cidade natal, Kiev, os moradores estão tentando proteger não só a si, mas também seus monumentos, símbolos da identidade nacional.
Foto: Mila Teshaieva
Documentação da guerra
Vladyslav Krasnoshchok é dentista, mas há anos se dedica à arte. Agora viaja por sua pátria devastada e fotografa carros queimados, pontes e tanques destruídos. "Eu tiro fotos, ouço tiros e corro de volta para o carro. Adrenalina pura!", escreve. Ele sempre revela os filmes imediatamente. Afinal, não se sabe se haverá oportunidade de tirar mais fotos.
Foto: Vladyslav Krasnoshchok
Mutilado
"Vivendo com o medo de ser ferido" é o nome da série de fotos do designer Sasha Kurmaz. A violência tem feito parte da história humana desde o início, afirma, e não está otimista se isso vá mudar em breve. Ainda assim, não desiste de sua luta pessoal por um mundo melhor.
Foto: Sasha Kurmaz
Porto seguro?
Uma cadeira, copos com bebidas: para Elena Subach esta foto tirada na cidade de Uzhgorod, no oeste da Ucrânia, simboliza a segurança de quem foge rumo a outros países. "Quase todo homem tirou uma foto da esposa e dos filhos antes de lhes dizer adeus. Eu nunca vi tanto amor e tanta dor ao mesmo tempo."