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Putin discursa em estádio lotado sobre "unidade" da Rússia

18 de março de 2022

Presidente russo fez rara aparição desde início da guerra e recorreu à Bíblia e a referências históricas para justificar invasão da Ucrânia. Segundo a polícia local, 200 mil pessoas acompanharam dentro e fora do estádio.

Putin ergue os bracos em frente a multidao
"Não tínhamos uma unidade como esta há muito tempo", afirmou PutinFoto: Ramil Sitdikov/Novosti Host Photo Agency/REUTERS

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, apareceu em público nesta sexta-feira (18/03) em um enorme comício em um estádio de Moscou, repleto de bandeiras e elogios aos militares que participam da invasão da Ucrânia, três semanas após o início da guerra.

Enquanto Putin discursava, tropas russas continuavam bombardeando com intensidade cidades ucranianas, incluindo a capital Kiev, e uma instalação de manutenção de aeronaves militares na periferia de Lviv, a cerca de 50 quilômetros da fronteira com a Polônia.

"Ombro a ombro, eles se ajudam e se apoiam mutuamente", disse Putin, em uma rara aparição desde o início da guerra. "Não tínhamos uma unidade como esta há muito tempo", acrescentou, para ser então aplaudido pela multidão.

Tentativa de ativar patriotismo

O evento foi uma inciativa das autoridades para tentar reforçar sentimentos de patriotismo no país, em resposta ao enorme revés internacional gerado pela invasão russa à Ucrânia e às pesadas sanções impostas pelo Ocidente.

A guerra desencadeou uma explosão de protestos dentro da Rússia, e o comício, realizado para marcar o oitavo aniversário da anexação da Crimeia por Moscou, foi cercado por suspeitas de que seria uma manifestação de patriotismo fabricada pelo Kremlin.

Em seu discurso, Putin disse que Moscou tomou a decisão correta de tirar a Crimeia do "estado de humilhação" que a península se encontrava sob poder da Ucrânia e que seu governo fez melhoras significativas na região, utilizada desde o mês passado para a entrada de tropas russas no território ucraniano.

Vários grupos de Telegram críticos ao Kremlin relataram que estudantes e funcionários de instituições estatais em várias regiões receberam ordens para participar de comícios e concertos que marcaram o aniversário. Esses relatos não puderam ser verificados independentemente.

Bíblia e referências a "genocídio"

A polícia de Moscou disse que mais de 200 mil pessoas estavam dentro no estádio Luzhniki e em volta dele. O evento incluiu canções patrióticas, com versos como "Ucrânia e Crimeia, Belarus e Moldávia, é tudo meu país".

Procurando retratar a guerra como justa, Putin parafraseou a Bíblia ao se referir às tropas da Rússia: "Não há maior amor do que entregar a alma por seus amigos."

Em um palco com um grande letreiro que dizia "Por um mundo sem nazismo", Putin atacou "seus inimigos neonazistas na Ucrânia" e insistiu que suas ações seriam necessárias para evitar o "genocídio", uma alegação que líderes ao redor do globo negaram terminantemente.

A transmissão de vídeo ao vivo do evento sofreu interrupções, mas mostraram uma multidão que aplaudia e gritava "Rússia!"

Evento tinha como mote os oito anos da anexação da Crimeia pela RússiaFoto: Sergei Guneyev/AFP/Getty Images

De pé no palco com uma gola rolê branca e um casaco azul, Putin falou por cerca de cinco minutos. Algumas pessoas, incluindo os apresentadores do evento, usavam camisetas ou jaquetas com um "Z", um símbolo visto em tanques russos e outros veículos militares na Ucrânia e adotado pelos apoiadores da guerra.

As citações feitas por Putin de trechos da Bíblia e de um almirante russo do século 18 refletem seu crescente foco na história e na religião como amálgamas na sociedade russa pós-soviética. A classificação de seus inimigos como nazistas evocou o que muitos russos consideram o melhor momento de seu país, a defesa da pátria contra a Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial.

A aparição de Putin marcou uma mudança em relação ao seu relativo isolamento das últimas semanas, quando foi fotografado reunido com líderes mundiais e sua equipe em mesas longas ou por videoconferência.

Censura e prisões

Após a invasão da Ucrânia, o Kremlin reprimiu com mais força a dissidência e o fluxo de informações, prendendo milhares de manifestantes antiguerra, proibindo sites como Facebook e Twitter, e instituindo duras penas de prisão para o que for considerado como falsos relatos sobre a guerra, que Moscou chama de "operação militar especial''.

O grupo de direitos OVD-Info, que monitora as prisões políticas durante a guerra, relatou que pelo menos sete jornalistas independentes haviam sido detidos antes ou durante a cobertura dos eventos de aniversário desta sexta-feira, em Moscou e São Petersburgo.

bl (AP, Reuters)

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