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Putin e Erdogan buscam solução para crise na Síria

5 de março de 2020

Disputa por bastião rebelde de Idlib já levou mais de um milhão de pessoas a deixarem região desde dezembro, muitas rumando para a Turquia. Ancara e Moscou apoiam lados diferentes do conflito, mas querem evitar escalada.

O presidente turco Erdogan (e.) sorri atrás de pódio com microfones durante coletiva de imprensa conjunta com seu homólogo Vladimir Putin em encontro na Rússia em 2019. Atrás dos dois, bandeiras da Turquia e da Rússia, respectivamente, diante de parede azul.
O presidente turco Erdogan (e.) e Vladimir Putin em encontro na Rússia em 2019Foto: Reuters/Presidential Press Office/M. Cetinmuhurdar

Em meio à escalada de tensões militares envolvendo Idlib, bastião rebelde na Síria, o presidente russo, Vladimir Putin, e seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan, se reunirão nesta quinta-feira (05/03) em Moscou para decidir medidas que possam evitar uma deterioração ainda maior da situação na região .

Cada vez mais isolado e diante de várias perdas de suas tropas na província síria e de uma onda de refugiados que querem escapar dos combates, Erdogan disse antes da cúpula que espera "um cessar-fogo" ou solução similar.

O presidente turco pretende retomar os limites estabelecidos num acordo fechado com Moscou em 2018, além do fim dos ataques pelas tropas do presidente sírio, Bashar al-Assad. Mas analistas avaliam que, para isso, Erdogan teria que convencer Putin de que a Rússia corre risco de sofrer danos profundos nas relações com a Turquia ou até de um confronto direto com o país.

Para o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, "sem dúvida será um encontro difícil", segundo divulgou a agência russa Interfax. "Esperamos chegar a um consenso sobre as causas da atual crise e suas consequências, e entrar em acordo sobre medidas para superá-la", acrescentou Peskov.

Desde o início da guerra civil síria, em 2011, a Rússia assumiu o papel de potência defensora do governo Assad. Já a Turquia defende rebeldes na região, incluindo grupos islamistas. Em 2018, Ancara chegou a fechar acordo com Moscou para estabelecer uma zona desmilitarizada em Idlib e instalou postos de observação na região.

O acordo, que acabou entrando em colapso, também prevê um cessar-fogo. Nas últimas semanas, o Exército sírio, apoiado pela Rússia, avançou sobre a área, onde cerca de três milhões de pessoas estão sitiadas. A Turquia, por seu lado, chegou a atacar tropas do governo sírio várias vezes, algo que preocupa o Kremlin.

Em outubro do ano passado, um acordo entre Putin e Erdogan ampliou a zona desmilitarizada no leste da fronteira. Os dois países enviaram tropas à área depois que o presidente americano, Donald Trump, deu ordem repentina de retirar seus soldados do local.

A disputa por Idlib, última região controlada pela oposição na Síria, levou à fuga de quase um milhão de pessoas desde o início de dezembro de 2019, quando teve início a mais recente ofensiva do governo de Assad. Trata-se da maior onde de deslocamento desde o começo da guerra civil. Muitos dos refugiados não têm para onde ir e acabaram sendo empurrados para a fronteira síria com a Turquia, que já abriga 3,6 milhões de refugiados sírios e se recusa a acolher mais, fechando as barreiras.

O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, destacou na quarta-feira que a situação humanitária na região é uma das "mais dramáticas" desde "a [Segunda] Guerra Mundial".

A crise também fez com que a Turquia, membro da Otan, se aproximasse cada vez mais de uma guerra com a Rússia.

Nos últimos dias, houve violentos confrontos aéreos e por terra entre tropas turcas e sírias, resultando na morte de ao menos 37 soldados turcos em uma semana. Desde o início de dezembro do ano passado, o balanço chega a mais de 50 mortos entre as forças turcas, enviadas aos milhares para a Síria nas últimas semanas.

Erdogan quer impedir a entrada de mais refugiados na Turquia devido aos enfrentamentos. No último sábado, ele anunciou ter aberto as fronteiras de seu país para a UE – medida que observadores interpretam como uma forma encontrada de pressionar o bloco. Após o anúncio, milhares de imigrantes se puseram a caminho da Europa.

O argumento mais forte de Erdogan para o encontro desta quinta é o desejo de Moscou de fortalecer as relações com a Turquia para contrabalancear a influência dos Estados Unidos na região.

Putin, por sua vez, sinalizou disposição em aceitar as preocupações de segurança da Turquia. Moscou já garantiu seus interesses e os de seus aliados sírios reconquistando cidades-chave na Síria e assegurando as reservas de gás e de fosfato do país.

Após um ataque aéreo na semana passada, que matou 33 soldados turcos, a Rússia recuou para permitir que drones e aviões turcos atacassem temporariamente a Síria. Na segunda-feira, porém, Moscou voltou a ajudar os sírios a retomarem a cidade estratégica de Saraqeb, na rota principal entre Damasco e Aleppo. Militares russos tomaram Saraqeb rapidamente, enviando um claro sinal à Turquia para que não tente retomá-la.

Erdogan também chegou a exigir apoio europeu para os esforços de seu país por uma solução política na Síria, dizendo na quarta em Ancara que esse é o único meio de conter a crise migratória. O presidente turco não explicou, porém, como imagina esse apoio.

Também nesta quinta, haverá um encontro entre os ministros das Relações Exteriores europeus em Zagreb (Croácia) para discutir os acontecimentos em Idlib.

RK/dpa/ap

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