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"Putin está destruindo o futuro da Rússia", diz Scholz

23 de março de 2022

Chanceler federal alemão afirma que armas precisam silenciar imediatamente e garante apoio à Ucrânia. Mas reitera que a Otan não pode se envolver diretamente na guerra.

Olaf Scholz
Scholz: "Putin precisa ouvir a verdade: a guerra está destruindo a Ucrânia. Mas também está destruindo o futuro da Rússia"Foto: Tobias Schwarz/AFP/Getty Images

Em discurso no Bundestag (Parlamento alemão) nesta quarta-feira (23/03), o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, prometeu mais ajuda à Ucrânia e afirmou que, com a guerra contra o vizinho, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, está destruindo também o próprio país.

"Putin precisa ouvir a verdade sobre a guerra na Ucrânia. E esta verdade é a seguinte: a guerra está destruindo a Ucrânia. Mas, com a guerra, Putin também está destruindo o futuro da Rússia", disse Scholz durante debate no Bundestag sobre o orçamento federal alemão. "As armas precisam silenciar imediatamente."

O chanceler federal alemão disse estar em contato constante com o governo ucraniano sobre o conflito, e que também falou diretamente com Putin, com quem teve conversas "longas e intensas" nos últimos dias.

Mais investimento em defesa

A Otan e a União Europeia (UE) estão mais unidas do que nunca, afirmou o social-democrata, apontando que a guerra de agressão russa obriga todos a reajustarem suas políticas externa e de defesa.

Numa mudança radical na política alemã, Scholz anunciou, três dias após o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, um investimento de 100 bilhões de euros nas Forças Armadas, que agora precisa ser viabilizado pelo Bundestag. Em seu discurso no Parlamento em 27 de fevereiro, o chanceler também anunciou um repasse anual de mais de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) à defesa nacional, o qual, no entanto, não mencionou nesta quarta.

O líder da oposição no Parlamento, Friedrich Merz, da União Democrata Cristã (CDU), condicionou esse aumento do gasto anual com defesa ao apoio do bloco conservador a uma mudança constitucional que permitiria o fundo especial de 100 bilhões.

Merz ressaltou, no entanto, que os conservadores não garantirão uma maioria no Parlamento para a medida, a qual precisa ser alcançada pela coalizão entre os partidos Social-Democrata (SPD), Verde e Liberal Democrático (FDP). O fundo especial é alvo de controvérsia entre social-democratas e verdes.

Sem boicote energético contra a Rússia

Scholz afirmou que a Europa vai acabar com a sua dependência energética da Rússia, mas que não é possível interromper as importações imediatamente.

"Sim, vamos acabar com essa dependência – o mais rápido possível. Mas fazê-lo de um dia para o outro significaria mergulhar nosso país e toda a Europa numa recessão. Centenas de milhares de empregos seriam ameaçados. Setores inteiros da indústria ficariam à beira do colapso", disse ao Bundestag. "Sanções não deveriam atingir mais a Estados europeus do que à liderança russa."

A Alemanha depende fortemente do gás natural da Rússia e, após o início da investida russa contra a Ucrânia, anunciou a suspensão do processo de aprovação do gasoduto Nord Stream 2, construído para dobrar o fornecimento do combustível russo para a Alemanha.

Apoio à Ucrânia

Ao garantir ao presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski – o qual fez um apelo no Bundestag na semana passada –, mais apoio da Alemanha à Ucrânia, Scholz apontou que a UE está trabalhando em mais sanções contra Moscou. "Presidente Zelenski, a Ucrânia pode contar com nossa ajuda", afirmou.

Ao mesmo tempo, Scholz traçou um limite claro para esse apoio, apontando que não pode haver envolvimento militar direto da Otan na guerra. "A Otan não se tornará uma parte beligerante", enfatizou. Portanto, o Ocidente não irá impor uma zona de exclusão aérea na Ucrânia, e a Otan não enviará tropas ao país, disse.

O chanceler apontou que, além de adotar sanções em conjunto com seus parceiros ocidentais, a Alemanha vem fornecendo armamento e equipamentos à Ucrânia desde o início da guerra, mas evitou dizer o que exatamente já foi entregue.

O chanceler federal agradeceu à população alemã por sua grande disposição de acolher refugiados da guerra na Ucrânia e anunciou uma abordagem conjunta por parte dos governos federal, estaduais e municipais. "Os refugiados são bem-vindos aqui", ressaltou.

"Pior inimigo do povo russo"

Também nesta quarta-feira, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que Putin se tornou "o pior inimigo do povo russo", o qual está asfixiando economicamente, e o apontou como responsável pela fome que pode ser causada pela escassez de cereais devido à guerra.

"Putin se tornou também o pior inimigo do povo russo", disse Von der Leyen ao Parlamento Europeu, acrescentando que as sanções da UE contra a Rússia, desde o congelamento de ativos e reservas até a expulsão da maioria dos bancos russos do sistema de transferências Swift, estão sufocando a economia russa.

As taxas de juros subiram 20% e as agências de classificação de risco colocaram a dívida soberana na categoria "lixo", acrescentou a política alemã, que frisou que a União Europeia tomou medidas que visam "o fracasso estratégico de Putin".

Von der Leyen também se referiu à segurança alimentar e energética, ambas em risco devido ao impacto da invasão russa da Ucrânia, cujos agricultores não estão conseguindo semear a próxima colheita.

"Além disso, Putin está bloqueando centenas de navios carregados com trigo no Mar Negro. As consequências serão sentidas no Líbano, Egito e Tunísia até a África Central ou o Extremo Oriente. Peço a Putin para que deixe esses navios navegarem. Caso contrário, ele não será apenas responsável pelas mortes na guerra, mas também pela fome. Que esses navios naveguem", alertou.

Von der Leyen frisou que a UE concordou em gastar 2,5 bilhões de euros até 2024 para ajudar regiões de todo o mundo a combater a insegurança alimentar.

Sobre os hidrocarbonetos, Von der Leyen afirmou que "a política energética é também política de segurança" e defendeu o plano da Comissão para reduzir a dependência da UE do gás russo em dois terços no prazo de um ano.

"É muito ambicioso, mas podemos conseguir", disse Von der Leyen, que se encontrará nesta quinta-feira, em Bruxelas, com o presidente dos EUA, Joe Biden, para discutir formas de aumentar as exportações americanas de gás natural liquefeito para a UE.

lf/ek (Reuters, AFP, ARD, EFE)

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