Putin impõe lei marcial em territórios anexados na Ucrânia
19 de outubro de 2022
Medida entra em vigor em Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia e permite a imposição de toques de recolher e limitação de movimento da população. Decisão ocorre em meio a avanço de ofensiva ucraniana na região.
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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, impôs nesta quarta-feira (19/10) lei marcial nos quatro territórios ucranianos que o país anexou ilegalmente. A medida entra em vigor já na meia-noite de quinta-feira. A decisão ocorre depois do avanço das tropas da Ucrânia para a retomada de Kherson.
Putin não deu detalhes sobre a decisão. No entanto, a lei marcial russa permite o fortalecimento militar, toques de recolher, limitação de movimento da população, censura e detenção de estrangeiros.
"O regime de Kiev se recusa a reconhecer a vontade do povo e rejeita qualquer proposta para negociação", alegou Putin ao anunciar a lei marcial.
Ele acusou ainda a Ucrânia de usar "métodos terroristas". "Estamos trabalhando para solucionar tarefas muito complexas e amplas para garantir a segurança e proteger o futuro da Rússia", acrescentou.
A lei marcial entra em vigor nas regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia, que estão parcialmente ocupadas pelas forças russas. Os quatro territórios foram anexados por Moscou em setembro, numa clara violação do direito internacional. A anexação ocorreu depois da realização de pseudorreferendos organizados por Moscou nas regiões.
Há indícios de que as votações ocorreram sob ameaça de violência e intimidação. Autoridades russas chegaram a levar urnas de casa em casa, no que a Ucrânia e o Ocidente afirmam ser um exercício ilegítimo e coercitivo para criar um pretexto legal para a anexação das quatro regiões.
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Evacuação de Kherson
A decisão sobre a lei marcial ocorre em meio ao avanço da ofensiva ucraniana na região. O novo comandante das tropas russas na Ucrânia, Serguei Surovikin, admitiu na terça-feira que a situação no sul da cidade de Kherson era difícil.
O raro reconhecimento do avanço da ofensiva ucraniana por parte da Rússia ocorreu durante uma entrevista a uma emissora de televisão estatal russa. O comandante alegou ainda que a Ucrânia estaria atacando a infraestrutura da cidade e defendeu a evacuação da região.
Com mais de 250 mil habitantes, Kherson é a única capital regional que foi ocupada por tropas russas. Ela foi a primeira grande cidade ucraniana a ser tomada por Moscou ainda em fevereiro. Mas recentemente militares ucranianos estão tendo sucesso na ofensiva para recuperar territórios na região.
Nesta quarta-feira, a Rússia iniciou a evacuação de Kherson, onde 50 mil moradores devem ser retirados de suas casas. Segundo a agência Ria-Novosti, o administrador pró-russo da região, Yevgeny Melnikov, disse que os ucranianos serão levados para a Rússia.
Em reação, as autoridades ucranianas acusaram Moscou de "tentar assustar" os habitantes da cidade. "Os russos estão tentando assustar o povo de Kherson com falsas mensagens sobre um bombardeio da cidade pelo nosso exército", disse o chefe de gabinete da presidência ucraniana, Andri Yermak.
cn/ek (Reuters, AP, AFP, Lusa)
Instantâneos de uma Ucrânia em guerra
Mostra "O novo anormal", no Museu Deichtorhallen de Hamburgo, registra horrores da guerra, mas também a resistência dos ucranianos, em trabalhos de 12 fotógrafos do país sob invasão russa.
Foto: Oksana Parafeniuk
Civis treinam com armas de madeira
Nesta imagem feita perto de Kiev em 6 de fevereiro de 2022, menos de duas semanas antes da invasão russa, a fotógrafa Oksana Parafeniuk capturou a determinação de seus compatriotas de resistir. Embora os países ocidentais não esperassem que a Rússia atacasse a capital a Ucrânia, os civis de lá já estavam treinando com armas de madeira, para caso de emergência.
Foto: Oksana Parafeniuk
Resistindo com o país
Em 24 de fevereiro, o fotógrafo Mykhaylo Palinchak acordou em Kiev com o som de sirenes, pouco depois ouviu uma explosão. "Desde então, estamos vivendo num novo mundo", afirma. Suas fotografias mostram granadas, casas destruídas e como seus compatriotas defendem a nação, mais do que nunca. A mulher da foto exibe o pulso esquerdo tatuado com o mapa da Ucrânia.
Foto: Mykhaylo Palinchak
Começou às 5 da manhã
"A guerra é a pior das opções da humanidade. Nenhum filme, nenhum livro, nenhuma foto pode transmitir este horror", diz a fotógrafa Lisa Bukreieva. "Com a invasão dos russos, meu sentido de tempo mudou. É apenas um horror de longa
duração." Esta fotografia capta o momento em que a guerra começou para ela.
Foto: Lisa Bukreieva
Cidadãos de Kiev - parte 1
Depois da invasão da Ucrânia pelo exército russo, Kiev se transformou em outra cidade, relata Alexander Chekmenev, de 52 anos. Muitos fugiram, ele próprio enviou a família para a segurança no exterior, mas ficou no país para documentar com sua Pentax a vida dos cidadãos de Kiev em tempos de guerra. Como esta ucraniana em uniforme de combate.
Foto: Alexander Chekmenev
Cidadãos de Kiev - parte 2
Abrigos antiaéreos e centros de primeiros-socorros espalharam-se pela capital ucraniana. Lá, Chekmenev fotografou gente comum, que nunca esteve sob os holofotes: "Eu queria mostrar a dignidade deles. Este país pertence ao seu povo, e eu quero mostrar o meu respeito por cada um deles", diz o fotógrafo de renome internacional.
Foto: Alexander Chekmenev
Traços do presente
Em sua série de fotografias, Pavlo Dorohoi capturou a vida em tempos de guerra em sua cidade natal, Kharkiv. Muitos cidadãos se esconderam em estações do metrô para escapar das bombas, transformando os locais em lares temporários, com "tapetes, cobertores e outros objetos pessoais", relata Dorohoi.
Foto: Pavlo Dorohoi
Bucha: o local do horror
O arquiteto e fotógrafo de Kiev Nazar Furyk fotografou lugares devastados pelas tropas russas, entres os quais a cidade de Bucha, que se tornou símbolo de muitas atrocidades. O fotógrafo se pergunta: como é possível continuar vivendo num lugar assim? Como se lida com essa experiência, gravada profundamente na memória coletiva da população ucraniana?
Foto: Nazar Furyk
Diário de Kiev - parte 1
A fotógrafa e videoartista Mila Teshaieva mantém um diário online desde o início da guerra, onde registrou tudo: desde os primeiros dias, antes dos mísseis, até os crimes contra a humanidade revelados desde então. Seus registros também incluem fotos, como esta.
Foto: Mila Teshaieva
Diário de Kiev - parte 2
Mila Teshaieva relata o desespero que a guerra provoca, mas também registra a união dos ucranianos e sua enorme vontade de resistir. Em sua cidade natal, Kiev, os moradores estão tentando proteger não só a si, mas também seus monumentos, símbolos da identidade nacional.
Foto: Mila Teshaieva
Documentação da guerra
Vladyslav Krasnoshchok é dentista, mas há anos se dedica à arte. Agora viaja por sua pátria devastada e fotografa carros queimados, pontes e tanques destruídos. "Eu tiro fotos, ouço tiros e corro de volta para o carro. Adrenalina pura!", escreve. Ele sempre revela os filmes imediatamente. Afinal, não se sabe se haverá oportunidade de tirar mais fotos.
Foto: Vladyslav Krasnoshchok
Mutilado
"Vivendo com o medo de ser ferido" é o nome da série de fotos do designer Sasha Kurmaz. A violência tem feito parte da história humana desde o início, afirma, e não está otimista se isso vá mudar em breve. Ainda assim, não desiste de sua luta pessoal por um mundo melhor.
Foto: Sasha Kurmaz
Porto seguro?
Uma cadeira, copos com bebidas: para Elena Subach esta foto tirada na cidade de Uzhgorod, no oeste da Ucrânia, simboliza a segurança de quem foge rumo a outros países. "Quase todo homem tirou uma foto da esposa e dos filhos antes de lhes dizer adeus. Eu nunca vi tanto amor e tanta dor ao mesmo tempo."