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Rússia

Ingo Mannteufel (sv)30 de novembro de 2007

A eleição para o Parlamento russo é apenas o início de uma encenação destinada a coroar "o homem mais poderoso do país". Os cenários pós-eleitorais podem variar, mas todos têm Putin como protagonista.

Vladimir Putin: o que importa é o poderFoto: Picture-Alliance/dpa

De acordo com uma enquete recente, mais de 65% dos russos não esperam uma eleição honesta para o Parlamento do país (Duma). A opinião é partilhada por praticamente todos os analistas e observadores internacionais. Pois a escolha dos membros da Duma – como nos anos de 1999 e 2003 – é apenas o pontapé inicial para a eleição presidencial, que acontece somente em março próximo.

Nesta eleição, será decidido o nome do sucessor de Vladimir Putin, uma vez que, de acordo com a Constituição do país, um presidente só pode permanecer no poder por dois mandatos consecutivos.

Manifestação em defesa de Putin, em MoscouFoto: AP

Isso excluiria automaticamente uma nova reeleição de Putin para o cargo – algo completamente impensável para a elite instalada no Kremlin. Pois Putin é, para os grupos poderosos no país, em sua maioria oriundos da antiga KGB, a garantia de que poderão manter o status quo e de que continuarão dispondo do acesso aos recursos econômico-financeiros do Estado.

Por isso, o "problema 2008" já vem sendo discutido há muito no país. Ou seja, pergunta-se o que o homem mais poderoso da Rússia vai fazer para se manter no governo, a fim de perpetuar a ordem das coisas e a atual distribuição de poder. Dentre os vários cenários para o futuro próximo – todos tendo Putin como protagonista – , há três considerados mais prováveis.

Cenário 1: Primeiro-ministro superpoderoso

Primeiro-ministro Victor Zubkov: participação no jogo de PutinFoto: AP

Já que Putin é o candidato principal do partido Rússia Unida às eleições ao Parlamento, é possível que ele se torne, na seqüência, primeiro-ministro. Isso poderia acontecer ou imediatamente após as eleições à Duma ou, no mais tardar, em meados de 2008. De acordo com a Constituição atual do país, o cargo de primeiro-ministro dispõe, no entanto, de poder limitado.

Caso seja Putin o premiê, acredita-se que haverá um fortalecimento de poder para seu cargo, em detrimento do de presidente, a ser ocupado eventualmente por um nome de sua confiança, como Sergei Ivanov, Victor Zubkov ou Boris Gryzlov. À primeira vista, o deslocamento de poder do presidente para o primeiro-ministro seria apresentado à opinião pública nacional e internacional sob a embalagem de um "fortalecimento do parlamentarismo" no país, uma vez que a escolha do premiê é feita pela maioria dos membros da Duma.

Cenário 2: Jogando com a Constituição

Putin: retorno garantido, mais cedo ou mais tardeFoto: AP

O segundo possível cenário aproveita a falta de clareza da Constituição russa. De acordo com esta previsão, Putin poderia renunciar ao cargo de presidente após a eleição da Duma e se tornar um parlamentar. Neste caso, o terceiro presidente da história russa recente, depois de Boris Ieltsin e Vladimir Putin, seria o atual primeiro-ministro Victor Zubkov.

Considerando esta possibilidade, seria possível a Putin se candidatar novamente à presidência do país em 2008, mesmo que a situação seja constitucionalmente polêmica. Neste caso ele ocuparia, a partir de março próximo, mais uma vez a presidência, interrompida apenas por poucos meses (dezembro de 2007 a março de 2008), quando esta ficaria nas mãos de Zubkov.

Outra variação deste cenário prevê a escolha de Zubkov como presidente em março de 2008. Um ano mais tarde, ele provavelmente poderia se afastar do cargo por questões de saúde ou pela idade, deixando mais uma vez o caminho livre para Putin.

Cenário 3: Líder absoluto

São Petersburgo: propaganda eleitoral em prol de PutinFoto: AP

Num terceiro cenário possível para a política russa, Putin simplesmente se manteria no poder a partir de meados de 2008, se autoglorificando na posição de "líder nacional" e se perpetuando no poder como o homem mais poderoso do país. Não faz muito tempo, surgiu no país um movimento supostamente espontâneo, apoiado pelo partido Rússia Unida, do Kremlin, em prol da transformação de Putin num líder nacional.

Partindo desta possibilidade, uma clara vitória nas eleições daria ao partido de Putin, com o próprio na condição de candidato principal da facção, o "direito moral" de forçar seu sucessor a seguir o atual curso político. Também neste contexto não se exclui a possibilidade de Putin retornar à presidência a curto prazo.

E o que diz a população?

Maioria é 'pró-Putin'Foto: AP

Diante das condições socioeconômicas e políticas catastróficas dos anos 1990, a população russa vê em Putin uma garantia de estabilidade política, aliada a uma recuparação econômica e à presença no palco da política internacional.

Esta é uma das principais razões que levam a maioria dos russos a não esperar eleições justas para o Parlamento, aceitando toda jogada da elite governante para manter Putin no poder.

É esta postura apolítica da população, acentuada pela conduta rigorosa contra qualquer crítica ao Kremlin, que permite que todos esses cenários não fiquem apenas na imaginação, mas possam se tornar, a qualquer momento, realidade.

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