Putin rejeita denúncia de Navalny e nega ser dono de palácio
25 de janeiro de 2021
Em documentário já visto por milhões, líder oposicionista russo afirma que presidente é proprietário, por intermédio de laranjas, de suntuoso palácio na costa do Mar Negro.
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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, negou nesta segunda-feira (25/01) ser o proprietário de um suntuoso palácio na costa do Mar Negro, como denunciou o líder opositor Alexei Navalny em documentário.
"Nada do que ali se mostra como propriedade minha me pertence ou a algum familiar meu próximo e jamais me pertenceu", afirmou o líder russo numa videoconferência com estudantes, ao comentar uma reportagem em vídeo feita por Navalny.
Putin disse que não assistiu ao documentário inteiro por "falta de tempo", mas viu trechos escolhidos por seus assessores.
Na semana passada, Navalny publicou um documentário no YouTube no qual denuncia a maior trama de corrupção da história da Rússia. Nele, o opositor mostra um palácio na costa do Mar Negro que valeria mais de 1 bilhão de dólares e que teria sido dado a Putin pela "elite corrupta da Rússia".
Navalny afirma que o palácio é de Putin, mas está em nome de laranjas. O documentário já foi visualizado mais de 85 milhões de vezes.
O palácio, de 17 mil metros quadrados, está rodeado por um terreno de 7 mil hectares pertencente ao serviço secreto russo FSB, a antiga KGB, e que forma uma espécie de perímetro de contenção para evitar visitas indesejadas.
Navalny afirmou que o documentário provocou a ira de Putin. O opositor convocou protestos antigoverno, que no sábado reuniram milhares de pessoas em toda a Rússia e foram reprimidos pela polícia, com mais de 3 mil detenções.
Os atos ocorreram não apenas em Moscou e São Petersburgo, mas também em cidades de menor porte, como Novosibirsk, Nizhny Novgorod, Voronezh, Kazan e Jabarovsk.
Navalny foi detido ao retornar à Rússia, em 17 de janeiro, depois de cinco meses na Alemanha, onde se recuperou de um envenenamento. Ele é acusado de violar as regras de liberdade condicional de uma condenação de 2014, fruto de um processo considerado politicamente motivado e declarado ilícito pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos.
Navalny deve permanecer em prisão preventiva até pelo menos 15 de fevereiro. Vários instituições internacionais e países, inclusive a União Europeia, já apelaram à libertação imediata do opositor russo.
AS (AFP, Efe)
Uma história de envenenamentos políticos
Há mais de um século, agências de inteligência usam o envenenamento para silenciar opositores. Vítima mais recente deste método teria sido Alexei Navalny. Substâncias utilizadas vão desde toxinas a agentes nervosos.
Foto: Imago Images/Itar-Tass/S. Fadeichev
Alexei Navalny
Em agosto de 2020, o líder da oposição russa Alexei Navalny foi levado às pressas para um hospital na Sibéria após passar mal num voo para Moscou. Seus assessores dizem que ele foi envenenado como vingança por suas campanhas anticorrupção. O ativista foi transferido em coma para a Alemanha dias depois, onde exames confirmaram o envenenamento com um agente neurotóxico do tipo Novichok.
Foto: Getty Images/AFP/K. Kudrayavtsev
Pyotr Verzilov
Em 2018, o ativista russo-canadense Pyotr Verzilov ficou em estado grave após ter sido supostamente envenenado em Moscou. Tudo aconteceu logo após ele ter dado uma entrevista na TV criticando o sistema jurídico russo. Verzilov, porta-voz não oficial da banda Pussy Riot, foi transferido para um hospital em Berlim, onde os médicos disseram ser "muito provável" que ele tenha sido envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass/A. Novoderezhkin
Sergei Skripal
Também em 2018, Sergei Skripal, um ex-espião russo de 66 anos, foi encontrado inconsciente num banco do lado de fora de um shopping na cidade britânica de Salisbury após ser exposto ao agente nervoso Novichok. Na época, o porta-voz de Moscou, Dmitry Peskov, chamou a situação de "trágica" e disse que não tinha "informações sobre qual poderia ser a causa" do incidente. Skripal sobreviveu ao ataque.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass
Kim Jong Nam
O meio-irmão do ditador norte-coreano, Kim Jong Un, foi morto em 13 de fevereiro de 2018 no aeroporto de Kuala Lumpur, depois que duas mulheres supostamente espalharam o agente químico nervoso VX em seu rosto. Num tribunal da Malásia, foi revelado que Kim Jong Nam carregava uma dúzia de frascos de antídoto para o agente nervoso mortal VX em sua mochila no momento do ataque.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Kambayashi
Alexander Litvinenko
O ex-espião russo Litvinenko trabalhou no Serviço de Segurança Federal (FSB), em Moscou, antes de desertar para o Reino Unido, onde escreveu dois livros cheios de acusações contra o FSB e Vladimir Putin. Ele adoeceu após se encontrar com dois ex-oficiais da KGB e morreu em novembro de 2006. Um inquérito descobriu que ele foi envenenado com polônio-210, que teriam colocaram em seu chá.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kaptilkin
Viktor Kalashnikov
Em novembro de 2010, médicos do hospital Charité detectaram altos níveis de mercúrio num casal de dissidentes russos que trabalhava na capital alemã. Kalashnikov, um jornalista freelancer e ex-coronel da KGB, tinha 3,7 microgramas de mercúrio por litro de sangue, enquanto sua esposa tinha 56 microgramas. Um nível seguro é de 1-3 microgramas. Kalashnikov acusou Moscou de tê-los envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/RIA Novosti
Viktor Yushchenko
O líder da oposição ucraniana Yushchenko adoeceu em setembro de 2004 e foi diagnosticado com pancreatite aguda causada por uma infecção viral e substâncias químicas. A doença resultou em desfiguração facial, com marcas parecidas com a de varíola, inchaço e icterícia. Os médicos disseram que as mudanças em seu rosto foram causadas pela cloracne, que é resultado do envenenamento por dioxina.
Foto: Getty Images/AFP/M. Leodolter
Khaled Meshaal
Em 25 de setembro de 1997, a agência de inteligência de Israel tentou assassinar Khaled Meshaal, líder do Hamas, sob ordens do premiê Benjamin Netanyahu. Dois agentes espalharam uma substância venenosa no ouvido de Meshaal quando ele entrou nos escritórios do Hamas em Amã, na Jordânia. A tentativa de assassinato fracassou e, não muito depois, os dois agentes israelenses foram capturados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Sazonov
Georgi Markov
Em 1978, o dissidente búlgaro Markov aguardava num ponto de ônibus após um turno na BBC quando sentiu uma pontada forte na coxa. Ele se virou e viu um homem segurando um guarda-chuva. Uma pequena saliência apareceu onde ele sentiu a pontada e quatro dias depois ele morreu. Uma autópsia descobriu que ele havia sido morto por um pequeno projétil contendo uma dose de 0,2 miligrama de ricina.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/Stringer
Grigori Rasputin
Em dezembro de 1916, o curandeiro místico e espiritual Rasputin chegou ao Palácio Moika, em São Petersburgo, a convite do Príncipe Félix Yussupov. Lá, o princípe ofereceu a Rasputin bolos contaminados com cianeto de potássio, mas nada aconteceu. Yussupov então deu a ele vinho em taças com cianeto, mas Rasputin seguiu bebendo. Diante da ineficácia do veneno, Rasputin foi morto a balas.