Em coletiva de imprensa, líder russo argumentou que deposição de aliado não é "derrota para a Rússia". Putin ainda se gabou de avanços na Ucrânia, mas admitiu que não sabe quando conseguirá retomar região russa de Kursk.
"As pessoas estão tentando apresentar o que aconteceu na Síria como uma derrota para a Rússia. Asseguro que não é esse o caso", declarou Putin, em suas primeiras falas públicas após a queda do regime da família Assad, que na última década havia conseguido se manter agarrada ao poder com forte apoio militar do Kremlin.
"Fomos para a Síria há cerca de dez anos para impedir a criação de um enclave terrorista, como no Afeganistão. De um modo geral, atingimos o nosso objetivo", afirmou Putin, em referência ao apoio militar fornecido pela Rússia a Assad a partir de 2015, quando o regime de Damasco estava extremamente fragilizado, permitindo que o agora ex-ditador reconquistasse vários territórios tomados por rebeldes e terroristas do grupo "Estado Islâmico" em um espaço de cinco anos.
No entanto, a partir de 2022, com a Rússia crescentemente envolvida na Ucrânia, o Kremlin não conseguiu mais manter o mesmo grau de força na Síria, abrindo espaço para que grupos rebeldes derrubassem Assad no dia 8 de dezembro, com a tomada de Damasco. O enfraquecimento nos últimos meses do Irã e do grupo xiita Hezbollah, outros aliados de Assad, também selaram o destino do regime.
Sob o regime da família Assad, a Rússia também controlava uma base naval e um aeroporto militar em território sírio. Agora, com o país controlado pelos rebeldes, surge a questão se a Rússia conseguirá manter as instalações. Nos últimos dias, imagens de satélite mostraram que o Kremlin evacuou parcialmente as duas bases.
Putin disse nesta quinta-feira que a Rússia ainda estava avaliando se manteria suas bases militares na Síria. "Não sei – precisamos pensar sobre isso. Precisamos decidir por nós mesmos como serão nossas relações com as forças políticas que agora controlam e controlarão a situação no país no futuro. Nossos interesses precisam coincidir", disse Putin.
O russo ainda relatou que Moscou ajudou a evacuar 4 mil militares iranianos da Síria após a queda de Assad.
Putin disse nesta quinta-feira que ainda não se encontrou com Bashar al-Assad após a fuga, mas que pretende fazê-lo. "Vou certamente falar com ele", afirmou, em resposta a uma pergunta de um jornalista americano.
Putin ainda afirmou que pretende perguntar a Assad pelo jornalista americano Austin Tice, desaparecido na Síria há 12 anos, que a administração do presidente Joe Biden definiu como uma prioridade após a queda do regime de Damasco. "Também podemos colocar a questão às pessoas que controlam a situação agora na Síria", disse Putin.
Ameaças e encontro com Trump
Ao falar sobre os EUA nesta quinta-feira, Putin alternou falas ameaçadoras com sinalizações de que está disposto a se encontrar e negociar com o presidente eleito Donald Trump para negociar um acordo sobre a guerra na Ucrânia.
No início da coletiva, o líder do Kremlin desafiou os Estados Unidos para uma espécie de duelo em Kiev entre o novo armamento hipersónico russo e os sistemas de defesa antimíssil ocidentais. "Que escolham qualquer instalação para atacarmos, digamos, em Kiev. Que concentrem aí todos os seus sistemas antiaéreos e antimísseis. E nós atacaremos com [um míssil] Oreschnik", afirmou.
"Veremos o que acontece. Estamos prontos para essa experiência", disse Putin. A Rússia usou recentemente pela primeira vez os mísseis hipersónicos Oreschnik contra a Ucrânia e tem afirmado que nenhum sistema de defesa antiaérea ocidental é capaz de enfrentar a nova arma russa.
Putin ainda mencionou a recente mudança na doutrina nuclear russa, divulgada em novembro, que prevê que ataques convencionais que ameaçam a soberania da Federação Russa e de Belarus sejam respondidos com o uso de armas nucleares.
A fala foi indiretamente dirigida aos EUA, Reino Unido e França, que autorizaram Kiev a atacar pontos do território russo com mísseis de longo alcance fornecidos por esses países. "Nós acreditamos que podemos usar nossas armas nucleares contra eles", disse Putin, sem especificar quem seriam "eles".
Pouco depois, numa sinalização inversa, Putin disse que está pronto para se reunir "a qualquer momento" com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, para tratar sobre a Ucrânia.
"Não nos falamos há quatro anos. Estou pronto para fazer isso [conversar] a qualquer momento e para nos encontrarmos também", declarou o líder russo.
Putin reconheceu que ainda não sabe quando a eventual reunião ocorrerá porque Trump "não disse nada" sobre isso. De qualquer forma, disse estar convencido de que os dois terão "algo para conversar". A última reunião entre os dois ocorreu em junho de 2019, à margem da cúpula do G20 no Japão.
Trump, que recentemente se reuniu com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, disse repetidamente que uma de suas prioridades após retornar à Casa Branca será negociar o fim da guerra na Ucrânia. O republicano retornará à Presidência em janeiro, alimentando os temores em Kiev de que poderia forçar a Ucrânia a aceitar uma paz em termos favoráveis a Moscou. Recentemente, o Kremlin reagiu com satisfação às críticas que Trump fez em relação à decisão do presidente Joe Biden de permitir que Kiev usasse mísseis fornecidos pelos EUA para atacar o território russo.
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Ucrânia e Kursk
Putin ainda disse nesta quinta-feira que não sabe quanto tempo mais durará a guerra lançada pelos russos na Ucrânia, mas argumentou que Moscou está cada vez mais perto de atingir seus objetivos no campo de batalha.
Segundo Putin, a situação na linha de frente está mudando "radicalmente" e as tropas russas estão conquistando "quilômetros quadrados" diariamente, mas ele não se atreveu a prever quanto tempo durará a guerra no país vizinho, que começou em fevereiro de 2022.
"A luta é complicada, portanto, prever o futuro é difícil e sem sentido", disse o chefe do Kremlin. O líder russo insistiu que "há movimento" em toda a linha de frente e todos os dias, fazendo alusão à conquista de dezenas de localidades ucranianas nos últimos meses no Donbass. "E não estamos falando de um avanço de 100, 200 ou 300 metros. Nossos combatentes estão retomando quilômetros quadrados de território", argumentou.
Por outro lado, Putin admitiu que não tinha como apontar quando retomará a região russa Kursk, alvo de uma incursão de tropas ucranianas desde agosto. A Rússia tem desde então tentado expulsar o exército ucraniano do seu território, mas ainda não o conseguiu fazer, apesar de ter recebido a ajuda de soldados enviados pela Coreia do Norte nos últimos meses.
"Vamos absolutamente derrotá-los", afirmou Putin. "Mas quanto à questão de uma data exata, lamento, não posso dizer neste momento", admitiu.
jps/ra (AFP, EFE, AP, Lusa)
O mês de dezembro em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: Anas Alkharboutli/dpa/picture alliance
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Equipes buscam desaparecidos após colapso de ponte sobre o Rio Tocantins
Equipes de resgate buscam 14 desaparecidos após a Ponte Juscelino Kubitschek, que liga os estados do Tocantins e do Maranhão, colapsar no último domingo, provocando a queda de 10 veículos. Ao menos três mortes foram confirmadas até o momento. Devido ao derramamento de produtos tóxicos no acidente, autoridades proibiram o uso da água do Rio Tocantins em 19 municípios. (23/12)
Foto: Bombeiro Militar/Governo do Tocantins
Queda de avião em Gramado mata empresário e 9 familiares
Um avião de pequeno porte caiu no município de Gramado, no Rio Grande do Sul. A aeronave atingiu uma loja de móveis, uma pousada e residências perto do centro da cidade. Os dez ocupantes da aeronave morreram. Todos eram da mesma família. Outras 17 pessoas que estavam no solo foram encaminhadas a um hospital, duas delas em estado grave. (22/12)
Foto: Defesa Civil do Rio Grande do Sul/Divulgação
Magdeburg tem dia de homenagens e protestos após ataque
Centenas de pessoas homenagearam as vítimas de um atentado que deixou 5 mortos e 200 feridos em Magdeburg. O suspeito do crime é um médico saudita de 50 anos, que se dizia ex-muçulmano, alegava ser perseguido por radicais religiosos e simpatizava com a ultradireitista AfD. Em resposta, manifestantes ocuparam as ruas da cidade com slogans anti-imigração. (21/12)
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Um motorista avançou em alta velocidade contra um mercado de Natal na cidade alemã de Magdeburgo, no estado da Saxônia-Anhalt, leste da Alemanha, atropelando dezenas de pessoas e deixando mortos e feridos. O suspeito, um médico psiquiatra saudita de 50 anos, foi preso. Aparentemente, ele tinha perfil crítico ao islã. (20/12)
Foto: Heiko Rebsch/dpa/picture alliance
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Dominique Pelicot, que passou uma década dopando sua então esposa, Gisèle, e convidando outros homens a estuprá-la, foi condenado a 20 anos pela Justiça francesa. Ele foi considerado culpado por estupro com agravantes e por gravar e distribuir imagens dos atos. Gisèle tornou-se um ícone feminista global ao decidir tornar público o julgamento e assistir às sessões com o rosto descoberto. (19/12)
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O chanceler alemão Olaf Scholz perde voto de confiança no Bundestag (parlamento alemão) depois de não conseguir obter a maioria no Legislativo após o colapso de seu governo de coalizão. O resultado abre caminho para a dissolução da atual legislatura e a convocação de eleições federais antecipadas, que devem ocorrer em 23 de fevereiro, marcand o fim da era Scholz. (16/12)
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Escolas reabrem na Síria após queda do regime de Assad
Dezenas de crianças e adolescentes voltaram às escolas em Damasco neste domingo, uma semana após a queda do ditador Bashar al-Assad. A rotina também está lentamente voltando ao normal em universidades e nos centros comerciais, depois de um período de comemorações e incertezas sobre o futuro da Síria. (15/12)
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Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes mandou prender preventinamente o ex-ministro da Defesa de Jair Bolsonaro, Walter Braga Netto, acusado de tentar obstruir as investigações. Ele é tomado pela Polícia Federal como um dos coordenadores do plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aplicar um golpe de Estado. (14/12)
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Multidão toma as ruas de Damasco para celebrar queda de Assad
Milhares de pessoas se reuniram em cidades sírias para celebrar o fim do regime de Bashar al-Assad após as primeiras orações de sexta-feira desde que os rebeldes assumiram o poder. Em Damasco, uma multidão se reuniu na praça Umayyad, no centro da capital. O local é simbólico por ter também recebido os protestos massivos de 2011, que deram início à guerra civil no país. (13/12)
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Trump é a Pessoa do Ano de 2024 da revista "Time"
Publicação cita "volta por cima de proporções históricas" ao justificar escolha e diz que republicano é beneficiário e agente da perda de confiança nos valores liberais. (12/12)
Foto: Heather Khalifa/AP Photo/picture alliance
Assembleia Geral da ONU pede cessar-fogo imediato, incondicional e permanente em Gaza
Por 158 votos favoráveis, órgão que reúne 193 países pediu o fim do conflito entre Israel e o Hamas no território palestino e a libertação imediata de todos os reféns sequestrados por islamistas. Mas diferentemente das votações no Conselho de Segurança, decisão não é juridicamente vinculativa. Conflito em Gaza já dura 14 meses, sem fim à vista. (11/12)
Foto: Mohammed M Skaik/Avalon/picture alliance
Rebeldes sírios anunciam novo governo de transição
Mohammad al-Bashir, que liderava o governo no reduto rebelde de Idlib, vai assumir gestão interina do país até 1º de março, mudando a liderança do país após 24 anos de regime de Bashar al-Assad. Novo primeiro-ministro é ligado ao grupo radical islâmico HTS. (10/12)
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STF obriga PM de São Paulo a manter uso de câmeras corporais
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, determinou a obrigatoriedade do uso de câmeras corporais pelos policiais militares do estado de São Paulo. A determinação é uma derrota para o governador Tarcísio de Freitas, que desde a campanha eleitoral se posicionou contra o uso dos equipamentos e vinha tentando propor modelos alternativos. (09/12)
Foto: FotoRua/NurPhoto/IMAGO
Rebeldes derrubam regime na Síria, e Assad foge para a Rússia
Após uma ofensiva que durou menos de duas semanas, insurgentes sírios liderados pelo grupo islamista Organização para a Libertação do Levante (HTS) chegaram à capital da Síria, Damasco, e a declararam "livre" do regime do presidente Bashar al-Assad. Citando fontes do Kremlin, veículos russos afirmam que o ditador e sua família estão asilados em Moscou. (08/12)
Foto: Louai Beshara/AFP
Restaurada, Catedral de Notre-Dame é reaberta cinco anos após incêndio devastador
Bancada por doações, reconstrução de monumento arquitetônico parisiense custou cerca de 700 milhões de euros e demandou o trabalho de cerca de 2 mil especialistas. Construída entre os séculos 12 e 14, catedral quase foi destruída em incêndio de causas desconhecidas. Solenidade foi prestigiada por chefes de governo e de Estado do mundo inteiro. (07/12)
Foto: Stevens Tomas/ABACA/IMAGO
Mercosul e União Europeia anunciam acordo de livre comércio
Após 25 anos de negociações, blocos concluíram texto final do acordo que prevê a redução ou eliminação de tarifas e barreiras comerciais, facilitando a exportação de produtos de ambos os lados. A líder da UE, Ursula von der Leyen (centro), disse que o pacto é uma "vitória para Europa". Ratificação deve, porém, esbarrar em resistência de países como a França. (06/12)
Foto: EITAN ABRAMOVICH/AFP/Getty Images
Após tomar Aleppo, Rebeldes avançam pela Síria e anunciam conquista de Hama
Islamistas apoiados pela Turquia fizeram seu mais rápido avanço em 13 anos de guerra civil no país. A captura de Hama vem após o enfraquecimento do Hezbollah, tradicional aliado do ditador sírio Bashar al-Assad, ao lado de Rússia e Irã. (05/12)
Governo da França é derrubado após moção de censura
Deputados de esquerda e da ultradireita se uniram para derrubar o governo do premiê francês, Michel Barnier, que assumiu o cargo há menos de 100 dias. Barnier enfrentava duas moções de censura, após usar um controverso mecanismo para forçar a aprovação do Orçamento. A primeira moção acabou sendo aprovada com 331 votos, selando o fim do governo do aliado do presidente Emmanuel Macron. (04/12)
Foto: Sarah Meyssonnier/REUTERS
Presidente sul-coreano impõe e depois desiste de lei marcial
O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, surpreendeu o país e o mundo ao decretar lei marcial em pronunciamento transmitido pela TV. Ele justificou a militarização do país como forma de conter uma "ameaça comunista". Horas depois, após protestos e uma votação unânime do Parlamento para derrubar medida, ele recuou e suspendeu lei. (03/12)
Foto: JUNG YEON-JE/AFP/Getty Images
Trabalhadores da Volkswagen entram em greve em toda a Alemanha
Milhares de trabalhadores da Volkswagen na Alemanha entraram em greve, depois que a empresa anunciou planos de fechar três fábricas e cortar aposentadorias. "Se necessário, esta será a disputa salarial mais dura que a Volkswagen já viu", disse Thorsten Gröger, que está liderando as negociações sindicais com a gigante automobilística alemã. (02/12)
Foto: Jens Schlueter/AFP via Getty Images
Regime sírio perde controle de Aleppo
O regime do ditador sírio Bashar al-Assad perdeu completamente o controle de Aleppo, a segunda cidade do país, informou uma ONG. Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), o grupo Hayat Tahrir al Sham, antigo ramo sírio da rede terrorista Al Qaeda, e outras facções rebeldes aliadas "controlam a cidade de Aleppo, com exceção dos bairros controlados pelas forças curdas". (01/12)