Presidente russo vai se reunir com homólogo iraniano, Hassan Rohani, para debater próximos passos no combate contra o "Estado Islâmico". Países são aliados do regime do ditador sírio Bashar al-Assad.
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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, vai viajar a Teerã na segunda-feira (23/11) para se reunir com seu homólogo iraniano, Hassan Rohani, um dos principais aliados do Kremlin na luta contra o grupo "Estado Islamico" (EI).
Segundo informou o Kremlin, Putin vai discutir com Rohani "a luta contra o terrorismo, em particular contra o EI", e os atuais esforços diplomáticos para solucionar o conflito na Síria.
Tanto a Rússia quanto o Irã insistem que o principal inimigo são os grupos jihadistas que operam em todo o Oriente Médio – da Síria até Iraque e Iêmen – e não o presidente sírio, Bashar al-Assad.
Ambos os países coordenam há dois meses suas operações militares na região. Enquanto as tropas iranianas reforçam as forças governamentais sírias, a aviação russa vem intensificando os ataques contra as posições jihadistas no país árabe com o uso de mísseis.
Em declarações recentes à imprensa chinesa, al-Assad reconheceu que a situação na Síria melhorou notavelmente desde que a aviação russa passou a participar da luta contra o jihadismo, o que permitiu que o exército sírio iniciasse sua primeira contraofensiva em meses.
"Desde a intervenção russa, os grupos terroristas começaram a perder terreno e milhares deles bateram em retirada à Turquia, Iêmen e outros países, inclusive à Europa. Isto é um fato", disse.
O governo de Teerã foi convidado às negociações de Viena para a regulação do conflito sírio a pedido de Moscou, apesar da oposição da Turquia e Arábia Saudita.
Putin, que se encontrará com Rohani pela terceira vez neste ano, também se reunirá com o líder espiritual iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, um firme defensor da permanência de al-Assad no poder.
Essa visita acontecerá dias antes de o presidente francês, François Hollande, viajar na quinta-feira (26/11) à Rússia para se reunir com Putin e coordenar suas políticas contra o EI, que cometeu na semana passada uma série de atentados terroristas em Paris que deixaram ao menos 130 mortos e mais de 350 feridos.
Putin ordenou ao Ministério da Defesa e ao Estado-Maior russos que coordenem com a França suas operações contra os alvos jihadistas na Síria "tanto por mar como por ar".
Segundo informou o Ministério da Defesa francês neste domingo, o porta-aviões Charles de Gaulle chegará ao Mediterrâneo Oriental amanhã, e a partir de então estabelecerá contato com o navio de guerra russo Moskva. Além de praticamente duplicar para 69 o número dos aviões que participam dos bombardeios na Síria, a Rússia mobilizou dez navios na operação, quatro deles no Mar Cáspio e o restante no Mar Mediterrâneo.
O ministro da Defesa francês, Jean-Yves Le Drian, reconheceu hoje à televisão francesa que a Rússia ataca maciçamente as posições do EI, contradizendo as denúncias de que as forças russas focavam o ataque a grupos rebeldes de oposição a al-Assad.
Ambos os países atacaram nesta semana a cidade síria de Raqqa, considerada o principal reduto jihadista no país árabe e capital do autoproclamado califado do EI.
JPS/efe/dpa
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.