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HistóriaAlemanha

Quão perto o 3º Reich chegou de construir uma bomba atômica?

Fred Schwaller
17 de agosto de 2023

Medo de que os nazistas fossem os primeiros a desenvolver uma arma nuclear levou os americanos a lançarem o Projeto Manhattan, sob a direção de J. Robert Oppenheimer.

Adolf Hitler em 1932
Hitler não entendia o potencial da bomba atômica, o que levou seu regime a não investir o suficiente no projetoFoto: United Archives/IMAGO

Em 1938, dois químicos alemães, Otto Hahn e Fritz Strassmann, descobriram a fissão nuclear. A fissão é a reação na qual o núcleo de um átomo se divide em dois ou mais núcleos menores, liberando grandes quantidades de energia. Com esse poder, concluíram os físicos, seria possível desenvolver uma bomba tão poderosa que ela seria capaz de arrasar cidades inteiras.

Quase imediatamente, cientistas alemães começaram a trabalhar no projeto de uma bomba atômica. Apoiado por uma forte base industrial alemã e interesse militar, o Uranverein (clube de urânio) empregou alguns dos maiores especialistas nucleares do mundo.

Embora o projeto fosse secreto, a notícia se espalhou por meio de cientistas que fugiam da perseguição na Alemanha nazista. Entre eles estava Albert Einstein, que alertou o presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, em 1939.

O temor em relação ao desenvolvimento de uma super arma secreta nazista se espalhou pelo mundo. A resposta dos EUA foi o Projeto Manhattan. Liderado por J. Robert Oppenheimer – o programa teve início no verão de 1942, reunindo cientistas que passaram e pesquisar maneiras de construir uma bomba de fissão usando os elementos urânio e plutônio.

O medo do projeto nazista rival estimulou o governo dos EUA. Com enorme apoio financeiro, Oppenheimer e sua equipe levaram apenas três anos para projetar e testar com sucesso a primeira arma nuclear da história. Apenas três semanas depois, a nova arma seria usada contra um alvo: a cidade japonesa de Hiroshima.

Gravações de Farm Hall

"Não acredito em uma palavra de tudo isso", disse Werner Heisenberg, que chefiou o programa de pesquisa nuclear alemão, quando ouviu a notícia sobre Hiroshima.

Na época, Heisenberg e os outros físicos nucleares que trabalharam no projeto alemão estavam encarcerados em uma propriedade inglesa chamada Farm Hall, após serem capturados na esteira da derrocada da Alemanha nazista. Os britânicos gravaram secretamente os cientistas, com o objetivo de descobrir segredos dos projetos nucleares nazistas.

Os outros físicos alemães compartilhavam a incredulidade de Heisenberg. A maioria acreditava que tudo não passava de um blefe para induzir a rendição japonesa. "Não achei que seria possível [desenvolver a bomba] nos próximos vinte anos", acrescentou Otto Hahn.

As reações de Heisenberg e Hahn demonstram o quão distante o programa alemão estava de desenvolver uma arma nuclear ao final da guerra.

"Os Estados Unidos superestimaram completamente o desenvolvimento alemão do projeto Uranverein. Foi só com [as gravações em] Farm Hall que eles entenderam isso", aponta Takuma Melber, historiador da Universidade de Heidelberg, na Alemanha.

Werner Heisenberg, que chefiou o programa nuclear alemãoFoto: AP

Programa nuclear cancelado

Quando o Projeto Manhattan estava a todo vapor, o programa de armas nucleares alemão estava praticamente morto. Os cientistas alemães sabiam que não conseguiriam separar os isótopos necessários para a criação de uma bomba atômica em menos de cinco anos. Eles nunca conseguiram uma reação em cadeia bem-sucedida e não tinham nenhum método eficiente de enriquecimento de urânio.

O programa de armas nucleares foi cancelado em julho de 1942, com a divisão da pesquisa em nove institutos diferentes na Alemanha. "Antes de 1942, era um projeto militar, mas depois se tornou apenas um projeto civil", afirma Melber.

A partir de então, o objetivo mudou de uma arma nuclear para a construção de um reator nuclear que pudesse sustentar a fissão nuclear em menor escala. Heisenberg transferiu sua pesquisa para um laboratório instalado sob um castelo em Haigerloch, na Alemanha, onde ele e sua equipe construíram um reator nuclear experimental composto de cubos de urânio pendurados em um fio e submersos em um tanque de água pesada.

Este experimento foi o mais longe que o programa nuclear alemão chegou, mas o reator nunca funcionou – não havia urânio suficiente presente no núcleo do reator para atingir uma reação em cadeia.

Mas eles estavam no caminho certo. Os cientistas agora acreditam que se os reatores contivessem 50% a mais de urânio, Heisenberg poderia ter criado o primeiro reator nuclear.

Otto Hahn e Fritz Strassmann em 1982Foto: picture-alliance/G. Rauchwetter

Desorganização e perseguição

Com uma vantagem inicial e com vários cientistas brilhantes à disposição, por que a Alemanha falhou em desenvolver um programa nuclear?

Por um lado, a Alemanha estava perdendo muito capital humano. Muitos cientistas judeus e poloneses como Lise Meitner, que desempenhou um papel fundamental na descoberta da fissão nuclear por Hahn e Strassmann, fugiram da perseguição. Vários desses refugiados foram para o Reino Unido e os Estados Unidos, onde trabalharam no Projeto Manhattan.

Outros cientistas foram convocados para servir no exército alemão. A pressão da guerra na Alemanha também tornou escassos alguns dos recursos necessários para a pesquisa, como quantidades suficientes de urânio enriquecido, avalia Melber. A água, necessária para resfriar os reatores nucleares, também era escassa.

"A produção de água pesada estava em andamento na Noruega ocupada pelos nazistas, mas comandos aliados e noruegueses atacaram essas instalações", aponta Melber.

Mas, em última análise, foi a escassez de apoio político que foi decisiva para falta de progresso. "Hitler tinha dificuldades para entender o projeto" e cortou o apoio em 1942, aponta Melber. Sem esse respaldo, o programa nuclear dispunha de poucos recursos, especialmente se comparado ao americano Projeto Manhattan, que empregou 500 mil pessoas, cerca de 1% da força de trabalho dos Estados Unidos, e custou cerca de US$ 2 bilhões (hoje cerca de US$ 24 bilhões).

Em comparação, o Uranverein e os programas subsequentes envolveram menos de mil cientistas e consumiram meros 8 milhões de Reichmarks (hoje cerca de US$ 24 milhões).

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