"Femme assise, robe bleue" é um dos retratos mais conhecidos do mestre espanhol e foi confiscado pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Obra mostra amante e uma das principais musas do pintor.
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Um dos retratos mais conhecidos feitos pelo pintor Pablo Picasso, Femme assise, robe bleue (Mulher sentada de vestido azul), foi arrematado por 45 milhões de dólares num leilão em Nova York nesta segunda-feira (15/05), segundo a casa leiloeira Christie's.
A pintura cubista, de 1939, mostra a amante de Picasso, Dora Maar, uma fotógrafa e artista que é considerada uma das principais musas do pintor. O quadro foi pintado no dia do aniversário de 58 anos do mestre espanhol. Maar tinha 31 anos.
Maar, cujo verdadeiro nome era Henriette Theodora Markovitch, foi amante de Picasso de 1936 a 1944 e a principal modelo de muitos de seus retratos do fim dos anos 1930 e início dos 1940.
A pintura era de propriedade do marchand Paul Rosenberg, que representava Picasso, e foi confiscada pelos nazistas na França ocupada, em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial. A obra estava sendo levada de trem de Paris para a Morávia quando foi resgatada pela Resistência francesa.
AS/dpa/efe/afp
Os 80 anos de Guernica
Poucas obras da história da arte conseguiram retratar os horrores da guerra como "Guernica", quadro pintado por Pablo Picasso para denunciar o bombardeio da cidade basca homônima em 26 der abril de 1937.
Imortalizado por Picasso
No dia 26 de abril de 1937, a cidade basca de Guernica foi bombardeada por aviões alemães como parte do apoio de Hitler aos nacionalistas na Guerra Civil espanhola. Centenas de pessoas morreram. Para Franco, o bombardeio teve fins simbólicos e estratégicos. Para os nazistas, serviu de laboratório para a invasão da Polônia. A tragédia foi imortalizada por Pablo Picasso no quadro "Guernica" (foto).
Toneladas de bombas
O ataque aéreo sobre Guernica marcou uma guinada na estratégia de guerra, tendo como objetivo a aniquilação da população civil. Em três horas de bombardeio, a Legião Condor largou toneladas de bombas explosivas, incendiárias e de fragmentação, enquanto aviões de caça metralhavam a população em pânico. A divulgação da tragédia por correspondentes estrangeiros provocou consternação internacional.
Foto: picture-alliance/akg-images
Solidariedade de artistas
A Guerra Civil Espanhola despertou a solidariedade de artistas e intelectuais de todo o mundo. Picasso (aqui ao lado de sua primeira esposa, Olga) vivia em Paris. Em janeiro de 1937, ele foi convidado a fazer um painel para o Pavilhão Espanhol da Exposição Internacional na capital francesa. Após o bombardeio, ele abandonou a ideia inicial e pintou "Guernica" em menos de dois meses.
Foto: picture-alliance/Heritage Images
Pavilhão da República Espanhola
Inaugurado em maio de 1937, o Pavilhão da República Espanhola serviria de propaganda para um país que lutava contra o fascismo. Medindo 3,49m por 7,76m, "Guernica" foi exposto pela primeira vez em 12 de julho do mesmo ano. O quadro foi feito sob encomenda para o saguão de entrada que se acessava pelo lado direito. Isso explica a leitura pouco usual de um quadro ocidental da direita para esquerda.
Foto: picture-alliance/akg-images/Hilbich
Elementos da obra
Picasso optou por tons de cinza para retratar os horrores da guerra. Corpos e rostos deformados e queimados; um guerreiro tombado; um cavalo dilacerado; uma mãe que chora a morte do filho, uma portadora de chama, uma luz elétrica; um touro: nas últimas décadas, "Guernica" tem sido motivo de especulação de críticos e historiadores da arte, que indagam o significado dos elementos da obra.
Foto: Reuters
Sacralização do profano
Para relatar os horrores em "Guernica", Picasso utilizou uma narrativa linear e elementos do cubismo. O artista possuía um grande conhecimento da história da arte. Assim, o quadro pode ser visto como uma alusão a cenas da Paixão de Cristo, que muitas vezes era pintada em grisalha ou tons monocromáticos. Há quem veja nas sete chamas (dir.), por exemplo, um sinal do Apocalipse.
Foto: Reuters
Dor e morte na Espanha
A parte central da tela é dominada pela figura do cavalo dilacerado e do cavaleiro caído. Na mão esquerda, o guerreiro tombado carrega as linhas do destino; na direita, uma espada partida. Na série de imagens "Sonho e mentira de Franco", feitas paralelamente a "Guernica", o cavaleiro e o cavalo aparecem como uma sátira ao general Francisco Franco e à casta militar que trouxe dor e morte à Espanha.
Foto: Reuters
A mãe e o touro
A parte direita da tela é ocupada pela mãe que chora a morte do filho, um motivo artístico encontrado em obras como a "Pietá", de Michelangelo, e pela figura do touro com a cauda em chamas, que muitos querem ver como representação de Franco. No entanto, esse animal já esteve presente em obras anteriores de Picasso como símbolo de barbaridade, mas também como representação da vitalidade espanhola.
Foto: Reuters
Denúncia artística
Em "Guernica", Pablo Picasso deixa claro que a guerra não traz vencedores, mas apenas aflição. Somente um galho de oliva na mão direita do guerreiro remete à esperança de paz e de dias melhores. A obra não faz referência direta às partes conflitantes. Não há símbolos nacionalistas nem republicanos. Em vez da polarização sentimental, a pintura denuncia por meio da dor e do sofrimento.
Foto: Reuters
Atitude universalista
"Guernica" consegue mostrar a brutalidade da guerra sem o vermelho de uma gota de sangue. Com exceção da lâmpada elétrica, que substitui o Sol, nada remete à temporalidade. A obra não agradou a muitos republicanos, que esperavam algo mais panfletário para a sua causa. Mas é justamente essa atitude universalista que transformou o quadro numa das pinturas mais contundentes do século 20.
Foto: Reuters
Volta à Espanha
Com a derrota dos republicanos, Francisco Franco governou a Espanha até a sua morte, em 1975. Ele proibiu a posse de qualquer reprodução de "Guernica". Picasso (foto) determinou que o quadro ficasse sob a guarda do Museu de Arte Moderna de Nova York até que a democracia fosse restaurada em seu país. Em 1981, "Guernica" voltou à Espanha e hoje faz parte do acervo do Museu Rainha Sofia, em Madri.
Foto: AP
Histórias de "Guernica"
Consta que, ao ver uma pequena foto do quadro no estúdio de Picasso em 1944, um oficial alemão perguntou: "Foi você que fez isto?", no que ele respondeu: "Não, foram vocês." Em 2003, os EUA pediram que a cópia da pintura, presenteada à ONU por Nelson Rockfeller em 1985, fosse coberta na apresentação do então secretário de Estado Colin Powell sobre supostas armas de destruição em massa no Iraque.