Quadro inédito de Van Gogh leiloado por 13 milhões de euros
26 de março de 2021
Criada durante breve estada do mestre holandês em Paris, obra pertenceu a uma família francesa por quase um século e meio, e nunca tinha sido exposta. Preço de "Cena de rua em Montmartre" quebrou recorde.
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Uma das poucas pinturas de Vincent Van Gogh ainda em mãos privadas foi vendida por mais de 13 milhões de euros num leilão, anunciou a casa de leilões Sotheby's na quinta-feira (25/03), em Paris. Trata-se da obra Scène de rue à Montmartre, exibida em público pela primeira vez desde sua criação em 1887, depois de um século na mesma coleção.
O quadro foi adquirido por 13,09 milhões de euros, bem acima da estimativa que girava entre 5 milhões a 8 milhões de euros, comunicou a Sotheby's. O preço da venda é um recorde para uma obra de Van Gogh vendida na França.
A tela foi a grande sensação do leilão transmitido ao vivo de Paris, reunindo outras 32 obras de mestres como Edgar Degas, René Magritte, Paul Klee, Auguste Rodin e Camille Claudel. Outro destaque foi a venda de uma obra recentemente restaurada de Camille Pissarro, La récolte des pois (A colheita de ervilhas), por 3,38 milhões de euros. A obra foi originalmente encomendada pelo irmão de Van Gogh, Theo.
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Guinada no estilo do mestre holandês
Cena de rua em Montmartre, uma das mais de 200 pinturas produzidas pelo mestre pós-impressionista holandês durante sua estada de dois anos em Paris, faz parte de uma série sobre o Moulin de la Galette, um moinho em Montmartre, quando a região era apenas um lugarejo na periferia norte da capital, e consistia de duas partes: uma mais urbanizada, com os famosos cabarés, e uma mais rural, com hortas e moinhos.
Na tela a óleo, um casal passeia e duas crianças brincam em frente a uma cerca de madeira e árvores desfolhadas, retratadas nos tons castanhos e bronzeados característicos da "paleta holandesa" de Van Gogh, pontuada por uma bandeira vermelha reluzente no topo do moinho.
O período marcou uma guinada na carreira de Van Gogh, quando ele começou a explorar técnicas expressionistas e novos usos de cores. Pintada em 1887, três anos antes do suicídio de Van Gogh em 1890, aos apenas 37 anos de idade, Cena de rua em Montmartre não é considerado um de seus melhores trabalhos.
Especialistas tinham conhecimento da obra, mas ela só fora catalogada como uma fotografia em preto e branco, antes de ser adquirida por uma família francesa por volta de 1920. Esta semana, ela foi colocada em exibição pública pela primeira vez em 135 anos.
"As pinturas da série Montmartre são raras: é muito provável que atraia muito interesse de compradores privados, dos principais colecionadores de Van Gogh em todo o mundo e provavelmente de instituições também", comentou Aurélie Vandevoorde, diretora de arte impressionista e moderna da Sotheby's em Paris, antes do leilão.
A identidade do comprador não foi divulgada, mas Claudia Mercier, leiloeira da casa de leilões Mirabaud Mercier, que foi contratada pelos donos do quadro, afirmou que a obra foi examinada pelo Museu Van Gogh de Amsterdã, o qual "demonstrou grande interesse".
pv (AP, AFP, EFE)
Quem foi Vincent van Gogh?
Os últimos meses de vida do gênio pintor Vincent van Gogh, morto em 29 de julho de 1890, foram marcados pela instabilidade emocional.
Foto: NBTC Netherlands Board of Tourism & Conventions
Augúrios sombrios
Vincent Willelm van Gogh veio ao mundo em 30 de março de 1853, recebendo o mesmo nome do irmão que nascera morto exatamente um ano antes. Ao todo, eram cinco crianças na casa do pastor protestante Theodorus. Vincent descreveu a juventude na casa da família em Groot-Zundert como "escura e fria". Ao longo de sua breve vida, ele manteve correspondência regular com o irmão Theo, quatro anos mais novo.
Foto: NBTC Netherlands Board of Tourism & Conventions
Ovelha negra da família
Aos olhos de sua família, Vincent era um fracassado. Toda profissão que assumiu, seja marchand, oficial de Marinha ou pregador laico, ele abandonou depois de pouco tempo. Em 1879, ele assumiu um cargo temporário de missionário na região carvoeira de Borinage, Bélgica. Alugou uma cabana junto à família de um padeiro na cidade de Cuesmes, onde viveu na mais absoluta pobreza.
Foto: Getty Images/Eric Lalmand
Lápis como arma
A miséria dos mineiros impressionou Vincent van Gogh. Mais ainda: ele se identificou ao extremo com os habitantes da Borinage, pintou o rosto de preto para ser um deles. Por fim, tomou o lápis e passou a documentar a vida das pessoas em torno de si, em desenhos canhestros.
Foto: Vincent van Gogh
No fundo do poço
Da mina Marcasse, na Borinage, hoje só restam ruínas, um vagão recorda tempos sombrios. É nele que Van Gogh entrou, para vivenciar de perto as condições de trabalho dos mineiros, a 700 metros de profundidade. Em carta ao irmão Theo, ele descreveu seu choque com a opressiva falta de espaço e escuridão.
Foto: DW/Sabine Oelze
Escuridão inicial
Após vários desvios, chegou à cidade holandesa de Nuenen, para onde seu pai foi designado como pastor. Vincent buscou abrigo junto aos pais, que só a contragosto o acolheram. Lá, permaneceu de 1883 a 1885. No período, ele retratou os lavradores e os campos da província de Brabante do Norte, ainda em cores escuras. Ele pintou de forma direta, sem embelezar, até mesmo um simples cesto de batatas.
Foto: Vincent van Gogh Stichting
Motivos singelos
Em Nuenen, hoje um subúrbio da metrópole Eindhoven, Van Gogh desfrutou uma vida simples. Ele descobriu as tecelarias caseiras como tema pictórico, assim como as edificações pequenas e singelas típicas da cidade. O pintor ainda principiante trabalhou todo um inverno nos esboços de "Os comedores de batatas", até ficar satisfeito.
Foto: gemeinfrei
Natureza e trabalho
Nasceram obras cheias de melancolia, algumas ainda anatomicamente imperfeitas. Mas ele pintou pelo menos um quadro por dia. Em Nuenen, ele teve até mesmo um ateliê próprio – um enorme luxo. A residência do pastor (foto) dava vista sobre a despojada cabana de jardim em que Van Gogh trabalhava.
Foto: DW/Sabine Oelze
Atração pela França
Ninguém podia prever que esse antiacadêmico holandês estaria, um dia, entre os artistas mais importantes do mundo. Depois da morte do pai, ele deixou Nuenen. Com "Os comedores de batatas" na bagagem, partiu para a Antuérpia e, pouco mais tarde, para Paris. Com o apoio financeiro do irmão Theo, que vivia ali como comerciante de arte, se instalou na metrópole à margem do Sena.
Foto: NBTC Netherlands Board of Tourism & Conventions
Experimentos de cor
Em 20 de fevereiro de 1888, Vincent van Gogh deixou a capital, partindo para o sul da França, à procura da luz, como disse. Em constante intercâmbio com seus colegas pintores, os matizes explodiram em suas telas – vermelho, amarelo, verde, azul, violeta. Ele trabalhou com os contrastes das cores complementares e com linhas e superfícies fortemente expressivas.
Foto: Kröller-Müller Museum/Otterlo
Van Gogh vive
Em 2015, por ocasião dos 125 anos da morte do pintor, 30 instituições trabalharam em conjunto para rememorar o heterodoxo gênio, incluindo as cidades francesas de Saint-Rémy, Arles e Auvers-sur-Oise – onde em 27 de julho de 1890, aos 37 anos de idade, ele se deu um tiro de revólver no peito, causando sua morte dois dias depois.
Foto: NBTC Netherlands Board of Tourism & Conventions