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Quais as chances de uma contraofensiva da Ucrânia no sul?

Roman Goncharenko
2 de setembro de 2022

Há sinais de que Kiev esteja preparando um contra-ataque em grande escala em torno de Kherson. Segundo especialistas militares, hora e lugar seriam ideais. E caberia apressar-se, pois a oportunidade ameaça durar pouco.

Shopping center destruído
Shopping center destruído em Kherson, em 20/07/2022Foto: STRINGER/AFP/Getty Images

Entre as questões que ocupam os ucranianos neste início de setembro, uma das mais prementes é se serão capazes de expulsar as forças russas de seu sul, como conseguiram no norte. Caso positivo, dentro de que prazo? Há indicações crescentes de uma contraofensiva a caminho para retomar Kherson, porém a situação no solo permanece opaca.

Quando a Rússia invadiu o país vizinho, em fevereiro, suas tropas tentaram capturar Kiev, mas fracassaram. Em março, tiveram que recuar de sua posição no norte da capital e a Ucrânia reassumiu o controle. Agora o foco ucraniano é a cidade de Kherson, logo a noroeste da península da Crimeia, anexada unilateralmente por Moscou há oito anos.

Na segunda-feira (29/08), representantes do Exército ucraniano informaram que "operações ofensivas" estavam sendo realizadas no sul. A imprensa ocidental noticiou que diversas localidades já haviam sido reconquistadas, porém a liderança nacional se mantém reticente, com o presidente Volodimir Zelenski advertindo que nenhum detalhe da campanha seria tornado público.

Por sua vez, o Ministério da Defesa russo afirmou que teria repelido recentemente um contra-ataque. Ben Hodges, ex-general comandante do Exército dos Estados Unidos na Europa, comentou à DW: "Realmente dá a impressão de que algo grande está começando, mas ainda não estamos seguros. Há muito mais para ocorrer nos próximos dias."

Tanto as forças russas quanto as ucranianas têm atacado pontes sobre o rio DniepreFoto: Sergei Bobylev/ITAR-TASS/IMAGO

Por que Kherson é tão importante

Kherson é a maior cidade ucraniana sob ocupação russa. Nos primeiros estágios da guerra, as tropas de Moscou se deslocaram rapidamente para o norte, a partir da Crimeia ocupada, estabelecendo um corredor terrestre com a Rússia e conquistando amplos trechos das costa do Mar de Azov e do Mar Negro. Trata-se de território de grande importância estratégica, pois a Ucrânia exporta mercadoria a partir dos portos locais.

O rio Dniepre, que atravessa a região, abastecia a Crimeia de água potável. Depois que a Rússia tomou a península, em 2014, a Ucrânia cortou essa fonte, porém desde que as tropas invasoras ocuparam a área, elas voltaram a direcionar água para lá, via um canal.

Durante semanas especulou-se sobre uma potencial contraofensiva no sul. Falando ao jornal britânico The Times, em junho, o ministro ucraniano da Defesa, Oleksii Reznikov, revelou que Zelenski ordenara a retomada das zonas litorâneas do país.

No momento, ninguém sabe com certeza se essa operação está em curso, mas, segundo o ex-comandante Hodges, a ocasião seria ideal: "Se a Ucrânia realmente lançar sua ofensiva, ela terá escolhido a hora e lugar certos."

Com armamentos pesados fornecidos pelo Ocidente, em especial o sistema de mísseis High Mobility Artillery Rocket System (Himars), de fabricação americana, a Ucrânia tem atingido as linhas de abastecimento russas ao leste do Dniepre, próximo a Kherson. A própria cidade se situa na margem ocidental do rio, o que dificulta o envio de reforços russos.

Imagens de satélite também provam que as Forças Armadas ucranianas conseguiram danificar diversas pontes nas proximidades de Kherson. O Himars também foi empregado para atacar postos de comando e controle russos, observa Hodges.

Kiev pressionado a partir para a ofensiva

O contra-ataque ucraniano despertou grandes expectativas entre a população civil, desejosa de que seu exército não só defenda, mas também reconquiste território. "Kiev está sob pressão para não apenas jogar na defensiva, mas partir para a ofensiva", confirma o analista militar Bradley Bowman, do think tank FDD, sediado nos EUA – um sentimento compreensível, segundo ele, considerando-se tudo por que o país tem passado.

Além disso, acrescenta, a Ucrânia deveria avançar agora com a campanha, pois a janela de oportunidade poderá se fechar em breve. Além de notícias de reforços russos para a área, a Rússia está preparando um referendo para justificar a anexação do sul da Ucrânia, como fez na Crimeia em 2014.

Para o especialista britânico em assuntos militares Justin Crump, a campanha ucraniana recente "certamente parece uma operação ofensiva muito mais significativa, alinhando-se com o que o presidente queria". No entanto, o tempo mais frio e úmido no outono e inverno (que se aproximam no hemisfério norte) complicará os esforços para recuperar território.

Numa mensagem de vídeo aos líderes do G7, em junho, Zelenski afirmou querer dar fim à guerra até o inverno. Contudo, quando um repórter da DW abordou o assunto no fim de agosto, o presidente recusou posicionar-se. Por outro lado, ressalvou que a Ucrânia está determinada a se defender, e só negociará com a Rússia quando sentir que deve fazê-lo.

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