Governo aumenta pressão sobre não inoculados: só quem comprove vacinação completa ou recuperação do coronavírus pode participar livremente da vida social. Alternativa são os testes, que deixarão de ser gratuitos.
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Há algum tempo os cidadãos da Alemanha se veem confusos com a quantidade de regras relativas à pandemia de covid-19, que ainda por cima diferiam de estado para estado. A partir desta segunda-feira (23/08), porém, tudo será diferente.
Para frequentar restaurantes e bares fechados, cinemas e piscinas públicas, ou para visitar parentes no hospital ou asilo, agora é preciso atestar vacinação completa ou ter comprovadamente se recuperado de uma infecção com o novo coronavírus.
A terceira alternativa é apresentar um teste de covid negativo realizado há menos de 24 horas. E os hóspedes de hotel sem vacina nem recuperação devem repetir a testagem a cada três dias. Portanto a vida não ficará fácil na Alemanha para quem, pelo motivo que seja, não se dispuser a inocular-se.
A fim de testar como a nova regra está sendo implementada, a reportagem da DW fez uma visita ao café da padaria Junge, em Berlim-Steglitz. Só há poucos clientes, a maioria, idosos. A vendedora, de fato, pergunta gentilmente se pode ver meu teste ou prova de vacinação: uma olhada no CovPass, o certificado digital da União Europeia, lhe basta.
Também os clientes diante e atrás de mim na fila estão todos vacinados ou têm um teste: todos parecem ter se adequado à nova situação. Além disso, o café pede que todos se registrem no aplicativo Luca, adotado na Alemanha, para a eventual necessidade de um rastreamento de contatos.
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Número de contágios em alta
Com as novas regras para a pandemia, os governos federal e estaduais querem evitar a todo custo que, mesmo que as taxas de contágio voltem a crescer, seja necessário um novo confinamento, como no terceiro trimestre de 2020. Até porque nesse ínterim 64,1% da população já recebeu pelo menos uma dose da vacina, e 59% completou o ciclo, como comunicou o ministro da Saúde Jens Spahn nesta segunda-feira.
Está claro que os políticos estão aumentando a pressão sobre os não vacinados. Pois para alcançar-se uma imunidade de rebanho, os virologistas calculam ser necessária uma quota de imunizados entre 85% e 90%, dependendo da faixa etária.
Sobretudo com a volta às aulas na Alemanha e os retornos das férias de verão, o número de contágios voltou a aumentar, com a incidência acumulada em sete dias circulando a 56,4 por 100 mil habitantes – em algumas cidades, como Leverkusen, no oeste do país, alcançando até 200. Algumas semanas atrás, a incidência estava abaixo de dez.
Testes custarão caro, incidência será aposentada
Além de complicada, a vida também ficará cara para os não vacinados na Alemanha. Como outra forma de aumentar ainda mais a pressão sobre eles, a partir de 11 de outubro, deixarão de ser gratuitos os testes rápidos de covid-19, assim como já são pagos os testes PCR, mais seguros. Estes custam entre 35 e 50 euros, e nos aeroportos, 69 euros. Ficam excetuados do pagamento as grávidas, crianças pequenas ou cidadãos liberados da inoculação por motivos médicos.
Uma outra mudança radical na política de Berlim de combate à pandemia é que a incidência de contágios deixará de ser o principal instrumento para as decisões sobre medidas preventivas. Segundo o ministro Spahn, ele se tornou obsoleto devido ao grande número de vacinados: decisiva passará a ser a lotação das clínicas.
O raciocínio é que, mesmo que contraia o vírus, quem se vacinou em princípio permanece assintomático ou apresenta apenas efeitos brandos de covid-19, não sobrecarregando, portanto, o sistema hospitalar. Assim, o número de vagas ocupadas é que passará a determinar se é necessária a adoção de restrições mais severas ou mesmo de confinamento.
As variantes do novo coronavírus
Para evitar a estigmatização e a discriminação dos países onde as variantes do Sars-Cov-2 foram detectadas pela primeira vez, a OMS padronizou seus nomes conforme letras do alfabeto grego.
Foto: Sascha Steinach/ZB/picture alliance
Várias denominações para uma cepa
A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu que as novas variantes do coronavírus passam a ser chamadas por letras do alfabeto grego e não devem mais ser identificadas pelo local onde foram detectadas pela primeira vez. Cientistas criticavam ainda que estavam sendo usados vários nomes para a cepa descoberta na África do Sul, como B.1.351, 501Y.V2 e 20H/501Y.V2.
Foto: Christian Ohde/CHROMORANGE/picture alliance
Nomes científicos continuam válidos
A OMS pediu que os países e a imprensa passem a adotar a nova nomenclatura das variantes e evitem associar novas cepas aos locais de origem. A organização acrescentou, porém, que as novas denominações não substituem os nomes científicos, que devem continuar sendo usados em trabalhos acadêmicos.
Foto: Reuters/D. Balibouse
Variante alfa
A variante B.1.1.7 foi detectada em setembro de 2020 no Reino Unido e se espalhou pelo mundo. Segundo um estudo publicado em março na "Nature", há evidências de que a variante alfa seja 61% mais mortal do que o vírus original. Entre homens com mais de 85 anos, o risco de morte aumenta de 17% para 25%. Para mulheres da mesma faixa etária, de 13% para 19%, nos 28 dias posteriores à infecção.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante beta
Pesquisadores identificaram a variante B.1.351 em dezembro de 2020 na África do Sul. A cepa atinge pacientes mais jovens e é associada a casos mais graves da doença. Os cientistas sequenciaram centenas de amostras de todo o país desde o início da pandemia e observaram uma mudança no panorama epidemiológico, "principalmente com pacientes mais jovens, que desenvolvem formas graves da doença".
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante gama
A variante P.1 foi detectada pela primeira vez em 10 de janeiro de 2021 pelo Japão em passageiros vindos de Manaus. Originária do Amazonas, ela se espalhou pelo Brasil e outros países vizinhos. A cepa possui 17 mutações, três das quais estão na proteína spike. São provavelmente essas últimas que fazem com que o vírus possa penetrar mais facilmente nas células para então se multiplicar.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante delta
A variante B.1.617, detectada em outubro de 2020 na Índia, causa sintomas diferentes dos provocados por outras cepas, é significativamente mais contagiosa e aparentemente aumenta o risco de hospitalização, segundo sugeriram estudos. "O vírus se adapta de forma inteligente. Muitos doentes recebem resultados negativos nos testes, mas desenvolvem sintomas graves", explicou um médico de Nova Déli.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante ômicron
A nova variante B.1.1.529, batizada de ômicron pela Organização Mundial da Saúde, foi descoberta em 11 de novembro de 2021 em Botsuana, que faz fronteira com a África do Sul, onde a cepa também foi encontrada. A ômicron contém 32 mutações na chamada proteína "spike" (S), número considerado extremamente alto. Cientistas avaliam que essa variante se dissemina mais rapidamente do que as anteriores.
Foto: Andre M. Chang/Zuma/picture alliance
A busca pela padronização
O novo padrão foi escolhido após "uma ampla consulta e revisão de muitos sistemas de nomenclatura", afirma a OMS. O processo durou meses e entre as sugestões de padronização estavam nomes de deuses gregos, de religiões, de plantas ou simplesmente VOC1, VOC2, e assim por diante.
Foto: Ohde/Bildagentur-online/picture alliance
Nomes e apelidos polêmicos
Desde o início da pandemia, os nomes utilizados para descrever o Sars-Cov-2 têm provocado polêmica. O ex-presidente americano Donald Trump costumava chamar o novo coronavírus de "vírus da China", como forma de tentar culpar o país asiático pela pandemia. O vírus foi detectado pela primeira vez na cidade chinesa de Wuhan.
Foto: picture-alliance/AA/A. Hosbas
Novas cepas podem ser mais perigosas
Mutações em vírus são comuns, mas a maioria delas não afeta a capacidade de transmissão ou de causar manifestações graves de doenças. No entanto, algumas mutações, como as presentes nas variantes do coronavírus originárias do Reino Unido, da África do Sul e do Brasil, podem torná-lo mais contagioso.
Foto: DesignIt/Zoonar/picture alliance
Associação ao local de origem
Historicamente, vírus novos costumam ganhar nomes associados ao local de descoberta, como o ebola, que leva o nome de um rio congolês. No entanto, esse padrão pode ser impreciso, como é o caso da gripe espanhola de 1918. As origens desse vírus são desconhecidas, mas acredita-se que os primeiros casos tenham surgido no estado do Kansas, nos Estados Unidos.
Foto: picture-alliance/National Museum of Health and Medicine