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Quais são os principais desafios da política alemã em 2022?

2 de janeiro de 2022

Sob a liderança de um novo chanceler após 16 anos, Alemanha enfrentará questões como obrigatoriedade da vacina contra covid-19, crise climática e maior visibilidade na política externa.

Symbolbild Jahreswechsel
Foto: Sascha Steinach/imago images

A questão mais importante que os alemães enfrentam no início de 2022 é a mesma do ano anterior: a pandemia de covid-19. No entanto, há uma diferença fundamental: naquela época, a recém iniciada campanha de vacinação ainda dava esperança de que o fim da pandemia estava próximo.

Mas, um ano e bem mais de 100 milhões de doses de vacinas depois, o número de novas infecções na Alemanha é substancialmente maior do que no início de 2021.

Para que mais pessoas sejam vacinadas, a obrigatoriedade da vacinação pode ser implementada em breve. 

Isso, porém, significaria uma quebra de promessa de importantes políticos, já que a ex-chanceler federal Angela Merkel, da CDU, seu sucessor Olaf Scholz, da SPD, e o líder do FDP, Christian Lindner, agora ministro das Finanças, haviam descartado anteriormente tal obrigatoriedade.

As medidas tomadas para controlar a pandemia na Alemanha dividem a sociedade – embora uma maioria de pessoas apoiem a vacinação, há uma minoria barulhenta que se opõe a ela.

Planos climáticos ambiciosos

O novo governo de social-democratas de centro-esquerda (SPD), verdes e democratas livres neoliberais (FDP) quer manter o ímpeto positivo quando se trata de ação contra as mudanças climáticas. "Ouse mais progresso" foi o título do acordo de coalizão, em alusão ao lema de 1969 do ex-chanceler Willy Brandt (SPD), "Ouse mais democracia".

A coalização no poder promete tomar medidas para proteger o clima por meio de fontes de energia renováveis ​​e, de preferência, eliminar a energia gerada pelo carvão antes do planejado - possivelmente em 2030.

O que os eleitores alemães pensam sobre os planos do novo governo determinará os resultados de quatro eleições estaduais: Sarre, Schleswig-Holstein, Renânia do Norte-Vestfália e Baixa Saxônia. De acordo com pesquisas recentes, espera-se que o ressurgimento dos social-democratas continue, depois de anos de declínio.

O CDU se moverá para a direita?

No início do novo ano, os democratas-cristãos de centro-direita (CDU) estão se acomodando em seu novo papel como partido de oposição após 16 anos no poder e esperam um novo ímpeto quando o novo presidente do partido for oficialmente confirmado, agoa em janeiro. 

Friedrich Merz, de 66 anos, recebeu o apoio da maioria dos 400.000 membros do partido em dezembro, após duas tentativas fracassadas de assumir o cargo. Merz, ex-líder do grupo parlamentar e inimigo de Angela Merkel, é um ferrenho conservador e deve conduzir a CDU mais para a direita. 

Friedrich Merz (no centro) deve ser confirmado como novo presidente da CDU e conduzir partido para a direitaFoto: Michael Sohn/AP Photo/picture alliance

Em fevereiro, a escolha do presidente da Alemanha não deve ter surpresas. O atual presidente alemão Frank-Walter Steinmeier, do SPD, quer permanecer no cargo. Suas chances parecem boas - até agora ninguém manifestou interesse em assumir a vaga.

Além disso, os atuais partidos da coalização governamental têm maioria na Assembleia Federal, composta por membros do Bundestag e representantes dos 16 estados responsáveis por eleger o próximo presidente.

Política externa

Em termos de política externa, 2022 pode ser a hora de a Alemanha se destacar, sobretudo durante sua presidência do G7. As ameaças russas contra a Ucrânia e a China cada vez mais triunfante na política global são apenas dois grandes desafios nessa área.

A nova ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, do Partido Verde, sinalizou que adotará uma abordagem diferente da do governo da ex-chanceler Angela Merkel no que diz respeito à China. Ela deseja seguir uma política externa baseada em valores e ser mais ativa nas questões de direitos humanos em estados totalitários.

Annalea Baerbock quer conduzir negócios com a China baseada em valoresFoto: Michael Kappeler/dpa/picture alliance

Mas o cientista político Johannes Varwick, da Universidade Martin Luther Halle-Wittenberg (MLU), prevê que Baerbock "logo sentirá as restrições do cargo e a pressão da realpolitik" (política ou diplomacia baseada principalmente em considerações práticas, e não ideológicas.)

"Vejo isso especialmente na questão de saber se os direitos humanos podem realmente ser considerados a referência final para a ação da política externa", explica.

O chanceler Olaf Scholz parece querer continuar a abordagem reservada de política externa de sua antecessora. "É preciso haver cooperação no mundo, também com governos que são muito diferentes dos nossos", disse ele à emissora pública alemã de televisão ZDF, após assumir o cargo.

Nesse contexto, será interessante ver se o novo governo ficará ao lado do presidente dos EUA, Joe Biden, e será levado a um confronto mais forte com a China.

Henning Hoff, do Conselho Alemão de Relações Exteriores (DGAP), diz que a Alemanha precisa "parar de se preocupar com o fato de a indústria alemã não ter futuro sem o mercado chinês, e adotar uma postura muito mais forte e estratégica e lidar com a China como um rival sistêmico".

Hoff acredita que, quando se trata da Rússia, é preciso usar  "o gasoduto Nord Stream 2 para pressionar Moscou" e "interromper o projeto se houver alguma agressão à Ucrânia".

Planos para a Europa

No que diz respeito à Europa, o acordo de coalizão estabelece o objetivo de longo prazo de a União Europeia (UE) se transformar em um "estado europeu federal". Há muito tempo que essas ideias ambiciosas não eram ouvidas.

Ao mesmo tempo, o novo governo de Berlim apela a uma política de asilo a refugiados relativamente liberal também a nível europeu, o que pode revelar-se difícil de se concretizar.

Mais unidade da UE e refugiados são questões polêmicas - isso ficou claro no final do ano passado em dois países do bloco que têm particular importância para a Alemanha: Polônia e França. 

Jaroslaw Kaczynski, chefe do partido governista Lei e Justiça (PiS), disse que as políticas do novo governo alemão colocam em risco a soberania dos países europeus. 

Scholz quer manter postura reservada na política externaFoto: Kay Nietfeld/dpa/picture alliance

A França tradicionalmente tem uma parceria estreita com a Alemanha, mas os dois países não concordam em algumas questões cruciais. 

Em abril, a França realizará eleições presidenciais – e o principal tópico da campanha deve ser a imigração indesejada. 

O presidente Emmanuel Macron quer usar a virada iminente de seis meses da França na presidência rotativa do Conselho da União Europeia para proteger as fronteiras externas do bloco, algo que não é uma prioridade para a coalizão de Berlim. 

O analista político Hoff considera as "ambições de política europeia" do novo governo alemão não apenas corretas, mas necessárias. "Se a UE quer se tornar mais soberana e confiante - e deve se quiser perdurar - não será capaz de evitar maior reestruturação".

Mas Varwick rejeita a meta de um estado federal europeu como irrealista: "Isso vai se desmantelar rapidamente diante das realidades políticas europeias. Ninguém na Europa realmente quer isso".

Em vez disso, ele elogiou o conceito de "liderança servil" para a Europa que também pode ser encontrado no acordo de coalizão: "Porque se trata de usar o poder e a influência da Alemanha de uma forma que não desencadeie reflexos defensivos, mas, em vez disso, abre espaço para manobra . "

Seguindo os passos de Merkel

A ex-chanceler Angela Merkel teve um papel especialmente importante no cenário diplomático global e de liderança absoluta na política europeia. Olaf Scholz vai querer seguir os passos dela - e será capaz?

Henning Hoff aponta que Scholz mostrou as qualidades de liderança importantes de "prudência e um pragmatismo voltado para soluções".

Johannes Varwick acredita que Scholz "não pode competir com a experiência de Angela Merkel". No entanto, acrescenta que a Alemanha tem grande peso político, independentemente de quem seja o chanceler. 

Scholz, "com sua natureza despretensiosa e conciliadora, parece um sucessor adequado para a 'chanceler eterna'", disse Varwick.