Em 7 de outubro de 2023, grupo promoveu atentando terrorista em Israel, que deixou 1.200 mortos. Em resposta, Tel Aviv lançou ataque na Faixa de Gaza para destruir a organização fundamentalista islâmica.
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Poucos dias antes da ofensiva militar de Israel contra o grupo fundamentalista islâmico Hamas na Faixa de Gaza completar seis meses, representantes dos governos israelense e americano admitiram no início desta semana que, para derrotar o grupo, Tel Aviv também precisa atacar alvos na cidade de Rafah, no sul do enclave palestino.
Essa constatação indica que o Hamas ainda não foi derrotado militarmente. Mesmo depois de meio ano de guerra, completados neste domingo (07/04), o grupo islâmico ainda se mantém firme contra o exército israelense. A duração do conflito é ainda uma incógnita, assim como a real força remanescente do Hamas.
"É claro que o Hamas quer dizer que não foi derrotado, que tem armas fantásticas ou algo semelhante", afirma o analista político britânico Hisham Hellyer, do Instituto Real para Estudos de Defesa e Segurança (RUSI). "E os israelenses querem realçar que foram bem-sucedidos em seus objetivos. Portanto, há muita propaganda de ambos os lados."
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelo atentado terrorista em grande escala contra o norte de Israel de 7 de outubro de 2023, em que combatentes do Hamas mataram 1.200 e levaram cerca de 250 reféns.
Em represália, a liderança israelense lançou uma ofensiva militar, prometendo destruir o Hamas, que controla parte de Gaza. Segundo o Ministério da Saúde local, na atual guerra já foram mortos 32.845 palestinos, a maioria crianças e mulheres, e outros 75.392 foram feridos.
Para Gil Murciano, diretor do Instituto Israelense para Políticas Externas Regionais, os efeitos da intervenção militar são completamente perceptíveis. Ele aponta a diminuição significativa no número de mísseis disparados, e não apenas em Tel Aviv, mas também perto da fronteira de Israel com a Faixa de Gaza. "Nessa área, o número de mísseis disparados e as mortes causadas por eles caíram quase completamente, reforça.
O especialista acrescenta que a operação militar israelense na parte central da Faixa de Gaza também destruiu as principais linhas de produção de armamentos, mísseis e drones. "Essa é uma grande perda para as capacidades militares que o Hamas construiu ao longo de muitos anos."
Michael Milshtein, ex-membro da inteligência militar israelense e agora pesquisador da Universidade de Tel Aviv, estima que cerca de 70 a 80% do arsenal de mísseis do Hamas tenha sido destruído. Isso também se deve à escassez de peças. "As peças para reabastecimento eram contrabandeadas pela fronteira de Rafah. Agora o controle na região é muito mais meticuloso. É por isso que o Hamas quase não recebe mais suprimentos."
No entanto, os túneis do Hamas continuam a causar problemas para o exército israelense, diz Milshtein. "Presumo que o Hamas ainda tenha pelo menos 50% de seus túneis. Isso dificulta a previsão sobre os movimentos do grupo, além de oferecer proteção a seus combatentes."
Perdas consideráveis para o Hamas
De acordo com o analista militar Kobi Michael, do centro de pesquisa israelense Instituto de Estudos para Segurança Nacional, o Hamas sofreu perdas consideráveis em termos de pessoal. O exército israelense destruiu 20 dos cerca de 24 batalhões do grupo. Alvos estratégicos e instalações de produção militar do Hamas também foram eliminados.
No entanto, o grupo também poderá se regenerar, mesmo com suas capacidades reduzidas, avalia Michael. Assim, as milícias ainda podem representar uma ameaça para as forças armadas israelenses, "mas sem as avançadas ações com mísseis, demonstradas durante essa guerra".
Murciano tem uma opinião semelhante. Para o especialista, o Hamas ainda pode operar em pequenos grupos com base em táticas de guerrilha, mas não é mais capaz de operar em batalhão, pois restam apenas quatro deles na cidade de Rafah. "Eles foram enfraquecidos pelo exército israelense, mas ainda estão operantes."
Israel ainda enfrenta um desafio, acrescenta Milshtein, afirmando que embora o exército tenha matado cerca de um terço do efetivo do grupo, ainda restam 20 mil combatentes e essa lacuna pode ser preenchida pelo Hamas rapidamente. "O Hamas só precisa recrutar jovens palestinos. Isso não será um problema para eles, pois há muitos jovens palestinos em Gaza que querem se juntar ao ao grupo".
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Solução política continua sendo a peça-chave para a paz
De acordo com um relatório da Inteligência Nacional dos EUA, publicado em fevereiro, Israel provavelmente enfrentará a resistência armada contínua do Hamas por um longo tempo. "Enquanto os militares estão ocupados neutralizando a infraestrutura subterrânea do Hamas, isso permitirá que o grupo se esconda, se reforce, se recupere e surpreenda as forças israelenses mais uma vez."
No entanto, o Hamas não é mais a ameaça que era há alguns meses, acredita o analista político Hellyer. "Não acho que o Hamas seja ainda capaz de realizar um ataque semelhante ao de 7 de outubro. Nesse aspecto, ele provavelmente sofreu um grande retrocesso."
O que é necessário, entretanto, é uma solução política, ressalta Murciano. "É necessária uma alternativa política para a Faixa de Gaza. Se ela não ocorrer, os sucessos militares serão inúteis. Precisamos evitar o surgimento de um vácuo político na Faixa de Gaza, pois esse vácuo será imediatamente preenchido de forma militar."
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sachs
2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Edmonds
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
Foto: Getty Images/C. Kealy
2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.