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Qual será a política de Kamala Harris para o Irã, se eleita?

26 de julho de 2024

Se for indicada como candidata democrata e ganhar a disputa à Casa Branca, vice-presidente deve focar nos direitos das mulheres e na contenção do programa de armas nucleares de Teerã.

Cartaz escrito "Woman Life Freedom" ("Mulher Vida Liberdade), com desenho de uma mulher com uma tesoura cortando o cabelo; Congresso Americano aparece ao fundo da foto
Protestos em Washington contra o regime iraniano após o assassinato de Mahsa Amini, de 22 anosFoto: Allison Bailey/NurPhoto/picture alliance

Após a retirada do presidente dos EUA, Joe Biden, da próxima eleição presidencial dos Estados Unidos, espera-se que a vice-presidente Kamala Harris seja indicada como candidata democrata nas próximas semanas. A expectativa é que ela seguirá, em grande parte, o roteiro da política externa de Biden em questões importantes.

"A política de Harris parece buscar desescalar o conflito com o Irã, tentando, se não um novo acordo nuclear, pelo menos a um novo entendimento que detenha o desenvolvimento de armas nucleares pelo Irã", avalia Arman Mahmoudian, professor e analista de assuntos internacionais da Universidade do Flórida do Sul.

"Por outro lado, Harris também está interessada em desenvolver em relação ao Irã uma nova geração de políticas voltadas para os direitos humanos, melhorando especificamente os das mulheres. A combinação dessas duas abordagens torna um desafio para ela conduzir a política para o Irã de forma eficaz."

Em defesa dos direitos das mulheres no Irã

Como vice-presidente, Harris se reuniu várias vezes com personalidades conhecidas da diáspora iraniana. Em outubro de 2022, por exemplo, esteve com a atriz iraniana-britânica Nazanin Boniadi em Washington, enquanto no Irã transcorriam os protestos "Mulher, vida, liberdade", suscitados pelo assassinato de Mahsa Amini.

Harris condenou o tratamento severo do regime islâmico contra as manifestantes: "Os Estados Unidos continuam a apoiar as corajosas mulheres do Irã enquanto elas protestam pacificamente por seus direitos fundamentais e pela dignidade humana básica", disse em novembro de 2022.

Harris também apoiou o pleito de mulheres iranianas de excluir a República Islâmica do Irã da Comissão sobre o Estatuto da Mulher, o principal fórum de igualdade de gênero das Nações Unidas. A eleição do Irã para essa comissão indignou desde o início mulheres e ativistas de direitos humanos.

"As organizações internacionais precisam se levar a sério se quiserem ser levadas a sério", comentou a ganhadora do Prêmio Nobel da Paz iraniana Narges Mohammadi à DW em abril de 2021. Hoje ela está  na notória prisão Evin, em Teerã, por sua campanha pacífica pelos direitos humanos e das mulheres no Irã.

"Kamala Harris poderia apoiar outras demandas das mulheres iranianas", acrescentou o marido de Mohammadi, Taghi Rahmani. O escritor e jornalista político deixou o Irã e vive com os filhos do casal em Paris.

"Narges defende que a discriminação de gênero seja considerada crime em nível internacional. Isso significa que os responsáveis, nos países onde as mulheres são sistematicamente discriminadas com base em seu gênero, devem ser responsabilizados por órgãos internacionais. Harris poderia apoiar essa demanda se se tornar a primeira mulher presidente dos Estados Unidos. Ela poderia apoiar o movimento das mulheres no Irã", reivindicou Rahmani.

Uma presidente Kamala Harris poderá voltar suas atenções aos direitos da mulheres no Irã Foto: THOMAS KIENZLE/AFP

O eterno problema nuclear do Irã

Em relação ao programa nuclear do Irã, Harris tem defendido consistentemente o acordo nuclear conhecido como Plano de Ação Integral Conjunto (JCPOA), assinado com o Irã em 2015, o qual considera uma conquista significativa do Partido Democrata durante o mandato de Barack Obama.

Em 2018, durante a presidência de Donald Trump, os EUA se retiraram unilateralmente desse acordo, que fora alcançado após mais de 12 anos de negociações internacionais. O republicano se dizia convencido de que poderia negociar um "acordo melhor".

No entanto, a política de "pressão máxima" de Trump sobre o Irã não teve sucesso. Um ano após a retirada dos EUA do acordo, o Irã também começou a abandonar gradualmente os compromissos que havia assumido e hoje está mais perto do que nunca de conseguir produzir uma bomba nuclear.

"A República Islâmica do Irã está interessada numa desescalada e no alivio das sanções, mas é rigorosa em não comprometer a política interna, pois teme que isso possa suscitar mais demandas e pressionar ainda mais o governo", explica o especialista em Irã Mahmoudian.

Nos últimos quatro anos, o presidente Biden tentou várias vezes reavivar o acordo nuclear com o Irã, porém todas as tentativas fracassaram. "Acredito que Harris tem uma chance de chegar a um novo acordo ou entendimento com o Irã em relação à política nuclear. No entanto, seu caminho pode ser ainda mais difícil do que o do presidente Obama durante as negociações do JCPOA por vários motivos", diz o professor, acrescentando que a pouca confiança que existia entre os EUA e o Irã, antes da retirada do JCPOA e do assassinato do general Qassim Soleimani em 2020, foi "demolida".

Outro fator seria que o Congresso dos EUA está basicamente sob controle republicano, e os iranianos podem estar preocupados que estes minem o acordo. "As manobras diplomáticas de Harris também podem ser restringidas pelo Congresso", estima o professor. Além disso, o projeto nuclear do Irã estaria muito mais avançado do que durante a implementação inicial do JCPOA.

"Os Estados Unidos precisam barganhar mais e pedir ao Irã que faça mais concessões porque este está mais próximo de ter os meios necessários a uma arma nuclear. Por outro lado, os iranianos podem sentir que têm maior influência sobre os americanos e exigir maiores concessões, tornando as negociações bastante difíceis.”

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