1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Qualidade absoluta, do gramofone ao CD

av20 de setembro de 2003

Em mais de um século de triunfos, crises e transformações, apenas uma coisa permaneceu inalterada na gravadora Deutsche Grammophon: o insuperável nível artístico e técnico de suas gravações.

Label der Schallplatte Richard Strauß - Heimliche Aufforderung, Sänger Heinrich Schlusnus
Foto: DW

O gramofone não consta do nome da Deutsche Grammophon Gesellschaft por acaso. Ao pedir a patente de sua invenção nos Estados Unidos, em 29 de setembro de 1887, o judeu alemão de Hanôver Emile Berliner já vislumbrava o potencial da "música automática" como modo de popularizar a arte.

Com o gramofone e o disco, Berliner imaginava levar a música clássica diretamente às casas das pessoas, sobretudo das que não tinham acesso aos concertos. Esta visão dos meios de reprodução sonora – ao mesmo tempo difusão de cultura como forma de entretenimento – se reflete nos mais de cem anos de história da DGG.

Após décadas de experimentação e aperfeiçoamento do gramofone, tanto tecnológica como comercialmente, o inventor e eletromecânico retornou à Europa em 1898, fundando a Gramophone Company em Londres, para pôr em prática seu plano visionário.

Os primórdios do disco

A sucursal alemã – Deutsche Grammophon Gesellschaft – foi aberta ainda no mesmo ano, na cidade natal de Berliner. Lá, ele e o irmão Joseph construíram a primeira fábrica do mundo para produção de discos. No espaço de dez anos, ela já produzia milhões de unidades por ano.

Tenor Enrico CarusoFoto: AP

O trunfo maior da DGG eram os artistas dispostos a eternizar-se nos discos que só acomodavam cinco minutos de música de cada lado. Dentre os pioneiros estiveram astros como o tenor italiano Enrico Caruso, o baixo russo Feodor Chaliapin e a prima-dona dos palcos de ópera Nellie Melba. As primeiras gravações com orquestra teriam que esperar até 1910. E a Quinta de Ludwig van Beethoven foi a primeira sinfonia gravada na íntegra, em 1913.

Melba recordaria anos mais tarde a repercussão de seus primeiros títulos, gravados em 1904: "Uma das particularidades que o gramofone trouxe à minha vida foi toda uma série de pedidos de casamento de gente que ouvira minhas gravações, porém jamais me vira".

A sobrevivência às guerras

A Primeira Guerra separou os caminhos da Gramophone Company, sediada em Londres, e da subsidiária alemã. Os discos gravados no exterior já não mais podiam ser exportados pela Alemanha. Mais do que nunca, a Deutsche Grammophon tinha que se apoiar num fantástico cast de artistas, que incluía Wilhelm Kempf, Lotte Lehmann e Otto Klemperer. E os compositores Richard Strauss, Maurice Ravel e Igor Stravinsky realizavam registros fonográficos de suas próprias obras.

O Terceiro Reich marcou um novo e doloroso nadir na história da DGG. Um grande número de artistas de fama internacional foi banido de seus quadros, devido à ascendência judaica, enquanto outros abandonaram o país. Nos anos da Segunda Guerra, sua produção sofreu cortes drásticos.

Mesmo sob tais circunstâncias, nasceram registros memoráveis, como o da Paixão segundo São Mateus, de Johann Sebastian Bach, sob a regência de Bruno Kittel. Em 1938, o jovem maestro Herbert von Karajan faria sua primeira gravação pela DGG, com a abertura de A Flauta Mágica, de Mozart.

Maestro Claudio AbbadoFoto: picture-alliance/dpa/U. Flueeler

Mudando para permanecer sempre a mesma

Embora hoje em dia ele seja inseparável da imagem da gravadora, o famoso selo amarelo com a coroa de tulipas estilizada só foi adotado na década de 50. As tulipas que passaram a adornar a borda do selo, alguns anos mais tarde, tinham também função prática: num efeito estroboscópico, elas pareciam flutuar estáticas, quando o toca-discos girava na rotação exata.

Desde 1941, a Deutsche Grammophon passara a pertencer ao gigante da eletrônica Siemens & Halske. Em 1962, o braço fonográfico da Siemens se uniu com a holandesa Philips, para criar o grupo DGG/PPI, que em 1971 levou à criação da PolyGram. Em 1987, a Siemens se retirou do grupo, tornando-se a Philips sócia majoritária.

Por fim, em 1998 a Seagram Company Ltd., com sede no Canadá, incorporou a PolyGram, formando o Universal Music Group, ao qual a Deutsche Grammophon atualmente pertence, ao lado dos também altamente respeitáveis selos Decca e Philips.

Através de todas essas rebordosas e metamorfoses forçadas, a DGG conseguiu manter intactas duas características: o elevadíssimo gabarito de seu quadro de artistas – ainda hoje um verdadeiro Olimpo da música clássica – e a sempre excelente qualidade sonora de suas gravações. Nisso, um século depois, a empresa continua não fazendo qualquer concessão.

Pular a seção Mais sobre este assunto