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Quando a solidão se une à crise imobiliária

14 de janeiro de 2019

Em Berlim está cada vez mais difícil encontrar moradia. Sites de anúncios imobiliários notam aumento de oferta incomum: aluguel de quartos em repúblicas em troca de sexo. Exigência não é crime.

Anúncio de busca por apartamento em Berlim
Segundo emissora alemã, troca de moradia por sexo não é ilegal se não configurar coerçãoFoto: Imago/Seeliger

O fenômeno do isolamento em grandes metrópoles é comum no mundo todo: não importa a cultura ou o país, sempre haverá aqueles que se sentem sozinhos, apesar de estarem cercados por multidões. Em Berlim, o encontro da solidão com a crise imobiliária gerou uma reação inusitada.

Anúncios de quartos para alugar em troca de sexo aparecem com mais frequência em plataformas imobiliárias digitais. Assim como a busca por um apartamento, a procura por um quarto numa república em Berlim se tornou nos últimos anos uma tarefa árdua e, muitas vezes, frustrante até a obtenção de uma resposta positiva.

Nos anúncios, os inquilinos costumam ser bastante claros em relação aos seus estilos de vida e às expectativas que têm sobre os futuros colegas de apartamento. "Busco alguém que não goste de música eletrônica, não seja racista, não seja fanático religioso, não tenha problemas psicológicos, não tome antidepressivos, não use drogas, não faça artes marciais e seja heterossexual", destacava um dos anúncios.

Alguns buscam apenas dividir a moradia com pessoas que gostem de animais, vegetarianos, ou que estejam dispostos a cozinhar juntos de vez em quando. Outros já são bem específicos: um dos anúncios ressaltava que os moradores da república gostavam de práticas sexuais não convencionais e, por isso, buscavam dividir o apartamento com pessoas que não se incomodem com isso. A grande maioria pede aos interessados que mandem fotos ou o link do perfil no Facebook.

Até aí, tudo dentro do habitual, por mais estranho que pareça para alguns. Mas recentemente uma reportagem da emissora Radio Eins revelou um aumento dos anúncios de oferta de aluguel em troca de sexo. Certo inquilino destacava que, além dos 370 euros mensais pelo quarto de 40 metros quadrados, o aluguel previa também fazer sexo uma ou duas vezes por semana. Ele ainda buscava uma mulher magra, jovem e simpática para dividir o apartamento.

Páginas de aluguel na internet costumam apagar esse tipo de anúncio quando são denunciados por usuários. Segundo especialistas entrevistados pela emissora, a troca de moradia por sexo, porém, não é ilegal se não configurar coerção. Ou seja, se o acordo for firmado de livre e espontânea vontade, não há problema algum.

A reportagem destacou que, moralmente, esse tipo de anúncio é reprovável, mas não é suficiente para um processo criminal, mesmo argumentando que a tensa crise de moradia em Berlim possa levar uma pessoa a aceitar essa situação por medo de não encontrar um lugar para morar.

Diante do aumento desse tipo de anúncio, alguns inquilinos, principalmente homens que buscam mulheres para dividir o apartamento, vêm se precavendo. Um deles, por exemplo, dizia procurar mulheres porque já havia morado com outros homens e estava cansado de tanta bagunça. Outro ressaltava que era discreto e não dava em cima de colegas de apartamento. "Com amigas que você trará, sou mais descontraído, e se você tiver interesse em mim, como solteiro no momento, eu provavelmente não recusaria", concluía o texto.

Clarissa Neher trabalha como jornalista freelancer para a DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.

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