Quando as cores têm cheiro
21 de dezembro de 2004Primeiro dia de aula, fazer contas de cabeça: "Quatro mais quatro é... vermelho". Embora os risos venham de todos os cantos da sala de aula, Jana Schneider continua convicta de que o número 8 é vermelho. Já para o fotógrafo Jonas Merk, entretanto, os sons do trompete são amarelos, os do saxofone, lilás.
Estes são apenas dois dos aproximadamente 100 mil sinestésicos que existem na Alemanha. Trata-se de um fenômeno em que as pessoas associam sabores a cores, vêem cheiros ou escutam cores. Esta última, aliás, é a forma mais comum de manifestação da sinestesia, segundo explica o professor Henning Scheich, do Instituto de Neurobiologia de Magdeburg.
A palavra tem origem na junção dos termos gregos "syn" (junto) e "aisthesis" (percepção) e, portanto, quer dizer junção de sensações. A associação é feita de forma involuntária pelo cérebro. Já o pintor Wassily Kandinski teria tido esta aptidão: ele cantarolava tons de cores, antes de misturá-los na paleta.
Que alucinação, que nada!
"Para os sinestésicos genuínos, isto é, nos quais o fenômeno se manifesta desde criança, estas associações já estão enraizadas", explica o professor Scheich. Para provar isso, ele costuma ler para as pessoas-teste uma lista com centenas de palavras. Meses depois, elas ainda citam as mesmas associações. "Farsantes não conseguem fazer isso. Assim se diferencia os sinestésicos das pessoas que associam livremente", revela.
Apesar de ser conhecido, o fenômeno continua sendo estudado, pois ainda carece de explicação científica. Para Scheich, "existe a hipótese de que as pessoas com sinestesia permanecem com certas ligações nervosas que normalmente se perde quando se deixa de ser bebê". No livro Welche Farbe hat der Montag (Que cor tem a segunda-feira?), o pesquisador Hinderk Emmrick, de Hannover, refere-se a um "curto-circuito na cabeça".
Molho de pimenta com gosto de triângulos
Teoricamente, são possíveis todas as formas de associação de sentidos, seja do cheiro com cores, de formas com cheiros e assim por diante. "A combinação é uma questão bem individual", declara Markus Zedler. O professor da Escola Superior de Medicina de Hannover descreve o fenômeno como uma hiperatividade cerebral, na qual várias regiões do cérebro são interligadas de maneira a provocarem estímulos que normalmente seriam reprimidos.
Fatos semelhantes acontecem em pessoas "normais" quando ingerem alucinógenos. O contrário, no entanto, não acontece com os sinestésicos. "Para eles, são raros os casos de delírio ou alucinações", declara Scheich. Ele e seus colegas não encaram a sinestesia como uma doença: "Muitos sinestésicos conseguem memorizar coisas sob dois aspectos, seja visual ou olfativo, por exemplo", assinala Zedler.
Pessoas especiais?
Ao conversar com pessoas com esta capacidade, elas se queixaram ao professor Scheich que muitas vezes não são levadas a sério por familiares ou vizinhos. Como o caso de Sabine Schneider: "Quando contei para minha melhor amiga que o nome dela soa como uma cor para mim, meus parentes queriam me internar", reclama.
Com o passar do tempo, entretanto, ela aprendeu a explorar esta aptidão. Formada em Pedagogia, ela se especializou em Sinestesia na Universidade de Leipzig.