Quanto ganha um professor na Alemanha?
23 de novembro de 2018Na Alemanha, a imagem de estabilidade profissional e financeira costuma atrair pessoas para a profissão de professor ou professora. Em geral, o docente é funcionário público e, por isso, ocupa um posto praticamente imune a crises, os horários de trabalho e o direito a férias podem facilitar muito a administração da carreira e da vida em família, e há formas variadas para se exercer a função.
Porém, o principal motivo para começar uma carreira na área da educação no país europeu costuma ser o salário. Segundo o documento Um Olhar sobre a Educação, relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado em setembro, profissionais alemães que atuam no ensino secundário recebem 54 mil euros anuais – quase o dobro da média da OCDE e o equivalente a uma renda mensal bruta de 4.500 euros (ou quase R$ 19 mil). O salário líquido tem leves variações dependendo do estado federado onde o professor atua, mas em geral totaliza 2.600 euros por mês (o equivalente a mais ou menos R$ 11 mil).
De acordo com a OCDE, no nível educacional básico (escola primária), professores com experiência de 15 anos recebem 71 mil dólares anuais, convertidos com base na paridade de poder compra para o consumo privado dos docentes. Seus colegas com o mesmo período de experiência no ensino médio podem chegar a 81 mil dólares anuais.
Os dois dados colocam a Alemanha apenas atrás de Luxemburgo na lista de 35 países que integram a organização. O estudo ainda considerou dados de Brasil e Rússia, que participam do programa de Indicadores de Sistemas Educacionais (sigla em inglês INES) da OCDE e de outros países do G20 que são ou associados ou pleiteiam integrar o órgão.
Salário estagnado
Porém, a boa colocação em estudos comparativos internacionais não esclarece se um professor é bem pago na comparação com categorias profissionais equivalentes dentro de seu país. "Muitos docentes de exatas no ensino médio podem migrar para o setor privado", constata Heinz-Peter Meidinger, presidente da Associação Alemã de Professores (DL, na sigla em alemão).
Na comparação europeia, segundo Meidinger, os professores alemães também estão entre os que mais gastam tempo para preparar as aulas. Condições de trabalho difíceis e a atuação em escolas de áreas economicamente desfavorecidas acabam desmotivando muita gente a ingressar na carreira, afirma o especialista.
Além disso, se no início da atividade o professor desfruta de boa remuneração, o mesmo não vale para o teto estagnado das diversas categorias salariais nas quais os docentes na Alemanha são classificados de acordo com diferentes critérios. "A carreira no setor público, que é relativamente engessado, não oferece muitas oportunidades de ascensão, o que pode levar à falta de professores nas escolas", explica Meidinger. Segundo ele, a profissão ainda é muito feminina e, muitas vezes, homens acabam procurando outros setores da economia, que pagam mais.
Apesar de não ter a mesma conotação que há 50 ou 60 anos devido a "um mundo mais complexo e cheio de conflitos", os alemães voltaram a ter "consciência da importância da escola e do valor do professor" depois do mau desempenho dos alunos do país na avaliação mundial Pisa, da OCDE, nos anos 2000, avalia Meidinger.
Categorias e diferenças regionais
Os docentes no país são enquadrados em determinadas categorias salariais, dependendo se são funcionários públicos ou se trabalham em escolas privadas, em qual dos quatro tipos de escola do ensino secundário lecionam (nos chamados Gymnasien, Hauptschulen, Gesamtschulen ou Realschulen) e de que matérias ensinam.
Os professores do ensino público são maioria no país – a exceção são os profissionais das regiões de Berlim e Saxônia. Os profissionais do setor público costumam receber classificação de A12 (alguém qualificado para o ensino em escolas primárias ou no ensino médio) até A16. Cada um desses grupos se divide em níveis estabelecidos de acordo com os anos de experiência do profissional. Na maioria das vezes, as subcategorias vão de 1 a 9.
Quanto mais experiência profissional uma pessoa apresenta, mais alta é sua classificação e maior é a remuneração. Por exemplo: um professor, funcionário público, que trabalha num ginásio no estado da Renânia do Norte-Vestfália, costuma subir de categoria a cada três anos nos primeiros dez anos de carreira. Em seguida, o aumento de salário acontece a cada quatro anos.
Um professor do ensino primário em início de carreira na categoria A12 pode ganhar um salário bruto mensal de cerca de 3.200 euros no estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. No topo da escala, o profissional passa a receber 4.373 euros mensais brutos. Um professor da categoria A13 – com especialização para a educação de alunos com dificuldades de aprendizado, por exemplo – recebe entre 3.590 e 4.900 euros no mesmo estado, dependendo da experiência profissional.
As remunerações também variam de acordo com a região. Em Brandemburgo, por exemplo, um professor primário em início de carreira tem renda mensal bruta de 3.500 euros e pode chegar a 4.389 euros no topo da pirâmide dessa categoria. Um professor A13, no mesmo estado, ganha entre 3.760 euros e 5.038 euros mensais brutos.
Funcionalismo público
Com exceção de Berlim, Saxônia-Anhalt e Saxônia, os outros estados federados alemães costumam contratar docentes concursados. Pode se tornar funcionário público quem tem condições físicas e qualificações técnicas para exercer o cargo e ainda não atingiu a idade máxima para entrar na profissão – dependendo do estado, esta fica entre 40 e 50 anos.
A maior parte dos professores na Alemanha costuma almejar o status de funcionário público – além de pagarem menos impostos e estarem livres de algumas contribuições, como o seguro-desemprego, os docentes ainda são atraídos pelo emprego irrescindível e por vantagens financeiras para as próprias filhas e filhos.
Creches
Educadoras e educadores em creches alemãs se qualificam para a função por meio de uma formação técnica que dura cerca de três anos. Eles não precisam de estudos universitários. A remuneração no setor público é, equivalentemente, mais baixa, mas se estrutura de forma similar à dos professores: um educador recém-formado recebe um salário inicial bruto de 2.685,14 euros mensais, segundo a tabela atualizada do acordo tarifário da categoria para o biênio 2018/2019. A remuneração também aumenta de acordo com a experiência profissional. Já a diretora ou diretor de uma creche de 180 vagas pode chegar a ganhar um salário bruto de 5.615 euros.
No setor privado não valem as mesmas tarifas, mas na maior parte das vezes os salários em instituições mantidas por igrejas ou organizações humanitárias, como a Cruz Vermelha, são alinhados aos do setor público. Fora deste, ainda podem valer acordos tarifários, como em Berlim e Hamburgo, e os salários definidos nestes acordos costumam levar a greves por serem mais baixos.
Universidades
Já nas universidades, há discrepâncias consideráveis dependendo da categoria profissional. Diferentes modelos de trabalho – docente como ocupação principal ou secundária, ou atuação de profissionais autônomos e freelancers – refletem as variações nos salários.
Nas universidades, os docentes costumam ser remunerados segundo um acordo tarifário estadual. Dependendo do nível de conhecimento e das exigências da atividade, são divididos nas categorias E13 – quadros científicos com mestrado, por exemplo –, E14 (pós-doutorado) e E15 (líder de equipe, por exemplo). Segundo o site academics.de, o salário inicial de um docente da categoria E13 perfazia pouco mais de 3.600 euros mensais brutos em 2016, podendo chegar a 5.178 euros brutos mensais. A categoria E15 tinha um teto de pouco mais de 6 mil euros mensais. Funcionários não concursados ganham menos, e a remuneração depende de fatores variados, como atuação como freelancer ou vínculo empregatício, por exemplo.
Já docentes universitários com grau de professor são remunerados de acordo com uma regulamentação estabelecida em 2002, a chamada W-Besoldung. O salário, que pode ser definido pelo governo estadual ou federal, dependendo de onde o professor atua, é composto pela remuneração básica, um auxílio-família (no caso de relações estáveis, casamentos e/ou filhos) e outros adicionais possíveis.
A categoria W1 define a renda dos chamados Professores Júnior, que recebem um salário inicial bruto de 4.700 euros. Nas categorias W2 e W3, os salários iniciais são de 5.841 e 6.528 euros, respectivamente, de acordo com a tabela de novembro da Associação de Universidades da Alemanha (Deutscher Hochschulverband). A W2 inclui professores universitários em diferentes instituições e presidentes, vice-presidentes e reitores, por exemplo. No âmbito federal, um professor da categoria W3 – ou seja, catedrático – pode alcançar um teto de 7.445 euros mensais.
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