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Quantos hectares de florestas podem ser salvos?

De Bonn, Marion Andrea Strüssmann21 de maio de 2003

Cerca de doze mil hectares de florestas são destruídos por ano. E quantos são salvos? Este foi um dos temas do painel realizado durante a conferência internacional sobre a exploração sustentável das florestas, em Bonn.

Barca navegando no rio AmazonasFoto: AP

A proteção do meio ambiente é um tema ainda em voga embora sem o mesmo brilhantismo de alguns anos atrás, quando falar sobre a preservação de florestas e de sua exploração sustentável era sinônimo de engajamento, postura correta e visão de futuro. Hoje, as questões ambientais são tratadas com um certo marasmo pela população e governos, como se ambas as partes não tivessem interdependência para a solução dos problemas locais relacionados ao meio ambiente.

Além disso, os temas ambientais, especialmente os ligados ao desenvolvimento e à proteção das florestas, estão recheados de clichês que muitas vezes encobrem uma realidade bem mais ampla. Um exemplo é imaginar que apenas os pobres e miseráveis exploram suas matas e florestas sem qualquer consciência ecológica por estarem preocupados exclusivamente com sua sobrevivência. O que acontece, na maioria das vezes, é que são justamente os grandes latifundiários que exploram a terra na ânsia de ganhar cada vez mais. Esses não deixam de ser pobres, mas de espírito.

Essas considerações foram externadas em um painel realizado em Bonn, durante a conferência internacional que discute a exploração sustentável das florestas e a preservação da biodiversidade, promovido pela ONG Cifor. O debate contou com a presença de Achim Steiner, da IUCN; Sunita Narain, do Centro de Ciência e Desenvolvimento de Nova Délhi, na Índia; Claude Martin, da WWF; El Hadji Séne, da FAO, e Juan Mayr, ex-ministro do Desenvolvimento da Colômbia. A moderação ficou a cargo de Ranga Yogeshwar, apresentador de programas televisivos nas áreas de ciência e pesquisa.

Mais de uma perspectiva

Estima-se que 12 milhões de hectares são devastados a cada ano. E o outro lado da moeda? Quantos hectares são poupados do extermínio graças ao sucesso de projetos, da participação social, por exemplo? O desmatamento para a criação de zonas de cultivo ainda persiste e pode até ser admissível, desde que seja feito de forma adequada e que haja uma preocupação com o meio ambiente da região.

Muitos projetos visando este objetivo vêm sendo colocados em prática, embora a Rio 92 tenha apresentado muitas soluções que até hoje não saíram do papel. Um das idéias mais ousadas é a devolução do poder sobre as florestas às zonas rurais. "Este é o caminho do futuro", acredita Sunita Narain.

A mudança das leis fundamentais de administração também seria um importante passo. De nada adianta adotar medidas provisórias, de efeito imediato, que não são duradouras e realmente eficazes a longo prazo. A cada mudança de governo, as questões ambientais são reavaliadas de acordo com a conveniência. Uma postura que em nada contribui para o equilíbrio entre exploração e preservação das florestas.

Influência do poder econômico

A relação entre governos e interesses econômicos também pode ser um agravante para a economia rural. Com a globalização, a demanda mundial de produtos cresce consideravelmente. Isso não significa que o produtor esteja recebendo mais por isso. O número de intermediários também aumentou. Um bom exemplo é o café colombiano. A produção aumentou, o preço da saca no mercado internacional caiu, mas não houve repasse, ou seja, o consumidor continua pagando o mesmo preço e o produtor não recebe mais por isso.

"Isso não é novidade. O que me surpreende é a falta de mudança. O produtor acaba buscando plantios mais rentáveis, como o cultivo da cocaína. Isso sem contar com o aumento do êxodo rural. A solução é criar planos e projetos de médio e longo prazo", frisou o ex-ministro da Colômbia referindo-se à situação de seu país, que, em certos aspectos, não difere de outras realidades.

Otimismo x ceticismo

As opiniões, até então bastante uniformes, divergiram quanto à expectativa em relação ao futuro. Alguns expressaram desconfiança e um certo descrédito, enquanto outros foram mais otimistas em suas avaliações finais. Em um ponto, porém, todos concordam: os projetos que tiverem êxito devem ser adotados em outras comunidades.

O evento, que prossegue até a próxima sexta-feira (23/05), reuniu no primeiro dia do encontro todos os participantes para este painel de abertura. No plenário, cientistas, pesquisadores, representantes de ONGs, de instituições governamentais e entidades financiadoras. O Brasil marcou presença com especialistas de diversos estados, que vieram apresentar projetos que estão sendo implementados no país, além de buscar a troca de experiências.

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