Quase 2 milhões de crianças vivem na pobreza na Alemanha
12 de setembro de 2016
Apesar da crescente sensação de prosperidade na maior economia da Europa, aumenta número de crianças e adolescentes que dependem de ajuda social no país, aponta estudo. Mais afetados são filhos de mães e pais solteiros.
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A pobreza infantil na Alemanha aumentou nos últimos cinco anos, apesar da crescente sensação de prosperidade na maior economia da Europa, de acordo com um estudo divulgado pela Fundação Bertelsmann nesta segunda-feira (12/09).
No ano passado, quase 2 milhões de crianças e adolescentes viviam em famílias dependentes de assistência social no país. Isso equivale a 13,2% dos menores de 18 anos e representa um aumento de 0,4 ponto percentual em relação a 2011, aponta o documento.
"Nosso novo estudo mostra que as medidas governamentais atuais não são suficientes para evitar a pobreza infantil", diz um comunicado de imprensa da Fundação Bertelsmann.
Segundo o levantamento, os mais atingidos são os filhos de mães e pais solteiros. Entre todos os menores afetados, metade vivia com mãe ou pai solteiro, enquanto 36% viviam em famílias com três ou mais crianças.
Isolamento e problemas de saúde
Em comparação com crianças da mesma idade de famílias de renda regulares, as crianças de famílias que recebem assistência social muitas vezes sofrem isolamento e têm problemas de saúde.
Muitas vezes, as crianças mais pobres não têm quarto próprio, tornando impossível ter um espaço privado. Com frequência elas se alimentam de forma pouco saudável, e o financiamento de atividades extracurriculares e cultivo de certos interesses são luxos muitas vezes inacessíveis.
O risco de crescer na pobreza também varia conforme a região. No leste da Alemanha, a taxa de menores afetados pela pobreza caiu de 24% para 21,6% entre 2011 e 2015, mas ainda é relativamente alta. No oeste de Alemanha, houve um aumento de 12,4% para 13,2%.
Jörg Dräger, membro do conselho de administração da Fundação Bertelsmann, critica o atual sistema de ajuda governamental na Alemanha por não levar as necessidades específicas das crianças em consideração.
"A ajuda deve ser orientada pelo que as crianças necessitam para uma inclusão social eficaz e para crescer de forma saudável", disse Dräger. "As crianças que vivem na pobreza não podem mudar, elas mesmas, sua situação. Por isso, o Estado tem uma responsabilidade especial neste momento", acrescentou. "A pobreza infantil afetas as chances para a vida toda."
MD/afp/dpa/efe
O livro infantil declarou guerra
Enquanto os mais velhos lutavam nas trincheiras da Primeira Guerra, as crianças "viviam" o conflito nos livros infantis. Exposição na Alemanha mostra que nem tudo era propaganda nacionalista.
Foto: DW/S. Hofmann
Papai na guerra
Quando em 1914 a Europa – e depois o resto do mundo – entrou em guerra, o conflito não passou despercebido pelas crianças. Afinal, seus pais e irmãos as tinham deixado em casa para irem lutar nos campos de batalha. Também não é surpreendente que inúmeros livros juvenis e infantis dessa época retratem a guerra de diferentes maneiras.
Foto: DW/S. Hofmann
Sobre heróis e outros contos
Esse é o tema da exposição "O livro infantil declara guerra", que reúne 200 livros, brochuras e folhetos no Museu dos Livros Ilustrados em Troisdorf, na Alemanha. "Tem de tudo na exposição, de uma literatura patriótica e belicista adequada a qualquer idade até livros moderados, que chamam a atenção para o fato de que os inimigos também eram seres humanos", afirma a curadora Carola Pohlmann.
Foto: DW/S. Hofmann
Da Guerra Franco-Prussiana até o nazismo
A exposição abrange desde o fim da Guerra Franco-Prussiana, em 1871, até a ascensão de Hitler ao poder, em 1933, o que permite identificar a influência da literatura de guerra em mais de uma geração. Mas o ponto forte são os quatro anos da Primeira Guerra Mundial. Na foto, o "Divertido livro infantil de guerra", de 1916, mostra crianças vestidas com uniformes de soldados a expulsar os inimigos.
Foto: DW/S. Hofmann
Humor na guerra? Parece que não...
Os ingleses são conhecidos por seu humor negro, e isso vale também para livros infantis. "No entanto, até os britânicos deixaram de lado o humor diante das atrocidades da guerra. O que significou uma perda para a literatura infantil", comenta Pohlmann, que avaliou uma enorme quantidade de material para compor a exposição.
Foto: DW/S. Hofmann
Brincando de guerra
Diversos livros infantis têm um caráter lúdico, como uma versão em francês de Chapeuzinho Vermelho em que franceses e seus aliados belgas e ingleses lutam contra o Lobo Mau, neste caso a Alemanha. Como também comprova a imagem de um livro infantil alemão, a guerra era também encenada como um jogo, na maioria das vezes fácil de ganhar.
Foto: DW/S. Hofmann
Cartas e jogos de tabuleiro
Além dos livros, brincava-se de guerra também com cartas e jogos de mesa, como mostra o baralho "O mico preto da Sérvia" (Schwarzen Peter aus Serbien). Por trás dos jogos bélicos estavam não somente os aspectos educacionais e de propaganda, mas sobretudo as questões comerciais. Para as editoras, a guerra foi uma boa oportunidade para fazer dinheiro.
Foto: DW/S. Hofmann
Matéria no quadro: guerra!
Os livros não eram lidos apenas em casa. Também na escola os professores davam lições patrióticas sobre a guerra. Frequentemente as aulas eram suspensas porque a escola era transformada em hospital, ou porque não havia carvão e madeira para o aquecimento.
Foto: DW/S. Hofmann
Livros para meninas
Grande parte da literatura de guerra apelava aos anseios de aventura da juventude e, conforme o pensamento da época, isso significava literatura para meninos. Mas as garotas também eram um público-alvo. As histórias para meninas se davam sobretudo no front, dentro da própria Alemanha – como nos contos "Cabeça teimosa" (Trotzkopf) ou "Caçula" (Nesthäkchen), passado em Berlim.
Foto: DW/S. Hofmann
Entre a impressão rápida e a arte
Em geral, os desenhistas tinham prazos muito curtos para ilustrar determinadas batalhas, afirma o pesquisador da área de literatura infantil e co-curador da exposição Friedrich C. Heller. Os livros franceses quase sempre chamavam a atenção por sua boa qualidade. Na imagem acima vê-se a invasão da Bélgica pelos alemães, representados pelo coturno gigantesco que esmaga a pequena cidade de Liège.
Foto: DW/S. Hofmann
Propaganda social na guerra
As crianças também apareciam em diversas brochuras e cartazes de propaganda, como nessa impressão de 1915. Abaixo da imagem lê-se "não vamos morrer de fome". A assistência social utilizava esses cartazes para arrecadar doações para alimentar as crianças. Afinal, não se pode esquecer que elas não conheciam a guerra somente dos livros, mas também viveram e sofreram com o conflito.
Foto: DW/S. Hofmann
Nada restou da euforia inicial
Com os mortos e feridos deixados pelo conflito, as ilustrações nos livros infantis se tornaram mais sombrias. Ao contrário das "engraçadas" histórias nas quais os heróis venciam rapidamente, em 1917 e 1918 algumas publicações passaram a mostrar cenas mais realistas dos horrores desta primeira guerra moderna, que inaugurou a utilização de tanques blindados e de gases venenosos.
Foto: DW/S. Hofmann
A Catedral de Reims
O cansaço da guerra também fez surgir, mesmo em pequena quantidade, uma literatura que pregava a paz. Na publicação francesa "Reims, a catedral" surge o sonho de um mundo sagrado, no qual a catedral bombardeada – símbolo da barbárie alemã na França – ressurge e une os povos.
Foto: DW/S. Hofmann
Paz? Só por um curto período...
Em 11 de novembro de 1918, o Império Alemão finalmente assina o armistício de Compiègne com os franceses e os ingleses. Mas a paz não duraria muito. Muitos dos jovens que leram os livros infantis durante a Primeira Guerra Mundial vestiriam os uniformes de soldado a partir de 1939, na Segunda Guerra Mundial.
Foto: DW/S. Hofmann
Poder das imagens
"Se, na infância, eu sou repetidamente submetido a determinadas imagens, então elas provavelmente vão marcar a imagem que tenho de mim mesmo como soldado ou combatente", comenta o especialista em livros infantis Heller. "O poder das imagens e dos textos não deve ser subestimado."