Quase 2 milhões deixaram Venezuela desde 2015, diz ONU
1 de outubro de 2018
Cerca de 5 mil pessoas abandonam o país todos os dias, afirma Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados. Principais destinos são Colômbia, Peru, Equador e Brasil.
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Cerca de 1,9 milhão de pessoas saíram da Venezuela desde 2015 para fugir da crise econômica e política que o país atravessa, anunciou nesta segunda-feira (01/09) o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).
"Atualmente, cerca de 5 mil pessoas abandonam a Venezuela a cada dia. É o maior movimento populacional na história recente da América Latina", afirmou o alto-comissário da ONU para refugiados, Filippo Grandi, na abertura da reunião anual do comitê executivo da agência, em Genebra.
"Com mais de 2,6 milhões de venezuelanos fora do país, é essencial uma abordagem política e humanitária para ajudar os países que os recebem em número crescente", defendeu.
Um porta-voz do Acnur, William Spindler, explicou que o fluxo diário de 5 mil pessoas citado por Grandi é "uma tendência que se observa desde o princípio deste ano" e sublinhou que, apesar de a crise ter já vários anos, "o grande êxodo começou este ano".
"Com base nos dados oficiais, estimamos que 1,9 milhão de venezuelanos deixaram o país desde 2015 com destino principalmente a outros países da América do Sul, como o Brasil, a Colômbia, o Equador e o Peru", precisou.
Grandi lembrou que o Acnur e a Organização Internacional para as Migrações (OIM) estabeleceram uma plataforma de coordenação regional, tendo designado em 19 de setembro o ex-vice-presidente da Guatemala Eduardo Stein como "representante especial para os refugiados e migrantes venezuelanos", para trabalhar com os governos da região, para criar alianças regionais e ajudar os países que acolhem refugiados.
A grave crise econômica que afeta a Venezuela, marcada por uma acentuada recessão, hiperinflação e escassez de alimentos, medicamentos e outros produtos básicos, provocou um êxodo de centenas de milhares de venezuelanos.
Tendo recebido cerca de 1 milhão de pessoas, a Colômbia é o país que recebeu o maior número de refugiados, seguida do Peru.
"Louvo os países que mantiveram as suas fronteiras abertas e que oferecem asilo ou outras formas de permanência legal" aos venezuelanos, declarou Grandi. "Mas há ainda muito a fazer para garantir a coerência regional da resposta dada em matéria de proteção", acrescentou.
Entre 400 e 600 imigrantes chegam diariamente a Pacaraima, na fronteira da Venezuela com o Brasil. Sobrecarregada, pequena cidade é palco de xenofobia. Quem pode pagar segue logo viagem para Boa Vista.
Foto: DW/Y. Boechat
Chegada ao centro de acolhimento
Venezuelanos recém-chegados ao Brasil recebem café e biscoitos no centro de acolhimento de refugiados na fronteira com a Venezuela, em estrutura montada pelo governo federal na cidade de Pacaraima. Diariamente, entre 400 e 600 venezuelanos chegam a este posto para pedir refúgio ou residência no Brasil. Aqui são vacinados e examinados, antes de poderem seguir para Boa Vista.
Foto: DW/Y. Boechat
Vacinação necessária
Isabeli Ortega, de apenas um ano, aguarda para ser vacinada no posto de acolhimento do governo federal na fronteira entre o Brasil e a Venezuela. Muitos dos imigrantes venezuelanos que chegam ao Brasil não foram imunizados contra doenças que estavam praticamente erradicadas da região, como o sarampo.
Foto: DW/Y. Boechat
Convivência difícil em Pacaraima
Brasileiros e venezuelanos discutem na área central da pequena Pacaraima. Sem estrutura para abrigar tantos imigrantes, a cidade entrou em colapso, e moradores passaram a atacar imigrantes. Desde o dia 18 de agosto, quando 1,2 mil venezuelanos foram expulsos da cidade por brasileiros armados com paus e pedras, o clima em Pacaraima é de tensão.
Foto: DW/Y. Boechat
Próximo passo
Imigrantes venezuelanos em Pacaraima se preparam para embarcar em ônibus que os levarão a Boa Vista. Ao preço de R$ 20, a viagem de mais de 200 km ainda é um luxo para boa parte dos imigrantes que chegam ao Brasil. Muitos não têm dinheiro para bancar o trajeto e, como não há a opção de transporte gratuito, ficam na pequena cidade fronteiriça tentando conseguir recursos para viajar.
Foto: DW/Y. Boechat
Destino: Boa Vista
Imigrantes venezuelanos aguardam a chance de ir para Boa Vista em um dos pontos de táxi da cidade. A corrida até a capital custa, em média, R$ 50 por pessoa. Os venezuelanos que cruzam a fronteira com algum recurso financeiro costumam optar pela viagem de táxi. O êxodo em direção ao Brasil aqueceu o mercado de transporte local.
Foto: DW/Y. Boechat
Abrigos sobrecarregados
Roupas secam ao sol no abrigo Rondon 1, em Boa Vista. Pouco mais de 4 mil imigrantes venezuelanos vivem em refúgios como este na capital de Roraima. Construídos pelo governo federal com o apoio da ONU, os abrigos são insuficientes para a grande quantidade de imigrantes que chegam à cidade.
Foto: DW/Y. Boechat
Interiorização aos poucos
Esta família venezuelana aguarda a chance de deixar Roraima e seguir em direção a outros estados brasileiros. Em seis meses, o programa de interiorização do governo federal conseguiu transferir apenas mil dos 30 mil venezuelanos que estão instalados em Roraima. Até o fim do ano, promete o Planalto, outros 2,3 mil venezuelanos seguirão para diferentes estados do país.