Quase 80% dos alemães estão insatisfeitos com governo
7 de julho de 2018
Aprovação da coalizão de Angela Merkel sofre desgaste após conflito com ministro do Interior. Para a maioria do eleitorado, tema dos refugiados domina excessivamente o debate.
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O conflito recente entre a chanceler federal Angela Merkel e seu ministro do Interior e parceiro de coalizão, Horst Seehofer, arranhou a imagem do governo alemão entre o eleitorado.
Uma pesquisa divulgada na quinta-feira (05/07) pela emissora ARD apontou que 78% estão relativamente ou completamente insatisfeitos com a atual coalizão de governo. A desaprovação subiu 15 pontos percentuais em relação à última pesquisa, divulgada em junho.
Nas últimas semanas, a atual coalizão de governo, formada pelos partidos União Democrata-Cristã (CDU), União Social Cristã (CSU) e os social-democratas (SPD) chegou a correr o risco de desmoronar diante de conflitos internos.
Seehofer, que também é líder da CSU, ameaçou tomar decisões unilaterais para barrar refugiados nas fronteiras da Alemanha. O conflito só foi resolvido quando Merkel conseguiu costurar acordos com outros países da União Europeia para lidar com o problema.
O mesmo levantamento divulgado pela ARD mostrou que 56% do eleitorado considera que a atual política para refugiados do governo domina excessivamente o debate político na Alemanha. Os entrevistados afirmaram que gostariam que temas como educação e habitação recebessem mais atenção.
Ainda que o governo tenha sofrido bastante desgaste por causa dos conflitos internos, a aprovação pessoal da chanceler Merkel sofreu poucos abalos. Sua popularidade caiu apenas dois pontos percentuais, de 50% para 48%.
A reprovação parece ter sido canalizada para Seehofer, que só é bem avaliado por 27% dos alemães – 16 pontos percentuais a menos do que em junho. Além disso, 70% do eleitorado julgou que o comportamento de Seehofer enfraqueceu a CSU e a CDU.
Apesar disso, 55% dos eleitores apontaram que é positivo que algum membro da coalizão critique as políticas de refúgio promovidas por Merkel, o que sinaliza que a maioria do eleitorado só não está de acordo com os métodos do ministro.
A pesquisa foi realizada entre os dias 3 e 5 de julho e ouviu 1.005 pessoas. A margem de erro é de até 3,1 pontos percentuais.
A coalizão liderada por Merkel só está no poder há pouco mais de cem dias. As negociações para a formação do governo foram desgastantes e demoradas, se arrastando por cerca de três meses. No final, Merkel teve que fazer grandes concessões tanto para a CSU quanto para o SPD para garantir a continuidade do seu governo.
Uma segunda pesquisa da ARD mostrou que, se os três partidos da atual coalizão tivessem que passar por uma nova eleição, provavelmente não conseguiriam votos suficientes para formar uma maioria de governo. O levantamento apontou que, somadas, a CDU/CSU conseguiriam 48% dos votos. Em setembro, os três partidos conseguiriam 53,4%.
Já siglas como o partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que prega uma política dura com os refugiados, viu suas intenções de voto crescerem um ponto percentual em relação ao levantamento de junho, passando para 16%. Em setembro, o partido recebeu 12,6% dos votos.
O Partido Verde também cresceu em comparação com o último levantamento, passando para 14% das intenções de voto. Siglas como o Partido Liberal-Democrata e A Esquerda perderam um ponto percentual cada, passando para 8% e 9%, respectivamente. A segunda pesquisa ouviu 1.505 pessoas. A margem de erro também é de até 3,1 pontos percentuais.
JPS/ots
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Eles desafiaram Merkel - ou pelo menos tentaram
Ao longo de sua carreira, chanceler alemã deixou para trás diversos oponentes, inclusive seu mentor político, Helmut Kohl. Mas ele não foi o único homem no caminho de Merkel.
Foto: AP
Helmut Kohl, antigo mentor
O que dizem esses olhos? Gratidão? Afeição? Ou um sentimento de: "Eu nunca vou te perdoar!" Em meio ao caso de caixa 2 da União Democrata Cristã (CDU), em 1999, a então secretária-geral Merkel instou o partido a "entrar na luta mesmo sem seu antigo cavalo de batalha". Isso selou fim político do então presidente honorário da CDU e mentor político de Merkel, Helmut Kohl, aqui em reunião de 2012.
Foto: Reuters
Seu chefe no Leste: Lothar de Maizière
Dizer que Angela Merkel passou para trás o último premiê da antiga Alemanha Oriental seria exagero. Mas Lothar de Maizière teve que assistir ao desmoronamento de seu antigo país enquanto sua jovem vice-porta-voz Angela Merkel acompanhava as conversações para o Tratado de Reunificação, apostando assim na carta certa.
Foto: cc-by-sa/Bundesarchiv
Roland Koch, mais à direita
Alguns nostálgicos sonhadores na coligação CDU/CSU associam o devaneio a um sério senhor de Hessen: o ex-governador Roland Koch era visto como uma figura de orientação conservadora na CDU. Acredita-se que ele tenha pertencido ao círculo chamado "Pacto Andino" (combinado num voo para o Chile), que se tornou uma panelinha dentro da União CDU/CSU. Merkel escapou ilesa.
Foto: picture-alliance/dpa
Friedrich Merz, futuro interrompido
Sim, o Sr. Merz. Ele tinha uma carreira brilhante pela frente: como ministro das Finanças, com certeza, talvez até mesmo como chanceler federal. Um homem de sagacidade afiada, ternos bem ajustados e boas conexões na União CDU/CSU. Merkel, porém, afastou o político da Vestfália, em 2001, da liderança da bancada parlamentar da aliança de partidos conservadores.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Norbert Röttgen: demitido
Na foto, o ex-presidente alemão Joachim Gauck (dir.) caminha ao lado de Angela Merkel na residência presidencial em Berlim, Palácio Bellevue. Por trás deles, vê-se o demissionário ministro do Meio Ambiente, Norbert Röttgen. Depois de perder a eleição para governador na Renânia do Norte-Vestfália como candidato da CDU e ter posto a culpa também em sua chefe, Röttgen caiu em desgraça e foi demitido.
Foto: dapd
Gerhard Schröder subestimou Merkel
Quando Schröder perdeu a eleição para Merkel em 2005, ele esperou, inicialmente, que seu Partido Social-Democrata (SPD) recusasse negociações com vista a uma grande coalizão de governo. "Que bom que vocês ainda me chamem de chanceler", bradava Schröder ainda na noite eleitoral, enquanto sua adversária já fazia as contas da aritmética do poder. Dois meses depois, Merkel era eleita chanceler.
Foto: picture-alliance/AP Photo/J. Finck
Arranjo de Poder: Wolfgang Schäuble
Wolfgang Schäuble poderia ter sido alguém perigoso para Merkel. Mas Kohl não transferiu o poder para seu "príncipe-herdeiro". Um atentado que o deixou paraplégico e seu envolvimento no escândalo de doações da CDU em 2000 marcaram o fim de sua carreira como líder partidário e de bancada. Merkel o nomeou ministro das Finanças, mas frustrou suas aspirações ao cargo de chanceler federal.
Foto: picture alliance/AP Photo/M. Meissner
Edmund Stoiber, uma conta em aberto
Atualmente, Edmund Stoiber, ex-governador da Baviera pela União Social Cristã (CSU), pode ser visto em "talk shows" falando veementemente contra a política de refugiados de Merkel. A atual chanceler federal desistiu de sua candidatura nas eleições parlamentares de 2002 em prol de Stoiber, que parece ainda não ter se recuperado da derrota para Schröder. Ele nunca quis ser ministro sob Merkel.
Foto: picture-alliance/U. Baumgarten
Horst Seehofer, o rebelde
Na disputa pelo poder na Baviera, Horst Seehofer abriu o caminho para Markus Söder e aceitou o cargo de ministro do Interior em Berlim, ao lado de sua chefe, Angela Merkel, que ele humilhou publicamente num congresso da CSU em 2015. Quem precisa de inimigos quando se tem tal ministro? O que Seehofer quer? Menos refugiados ou menos Merkel?
Foto: Reuters/H. Hanschke
Era uma vez Martin Schulz
Martin Schulz, ex-presidente do Parlamento Europeu (dir.), perdeu as eleições parlamentares de 2017 como candidato do SPD. A princípio, recusou-se a formar um governo com Merkel; depois, negou-se a formar um governo sem Merkel e, no final, saiu de mãos abanando. Como deputado em Berlim, nada mais lhe resta que assistir à chanceler governar – se Seehofer (c.) deixar.
Foto: Getty Images/C. Koall
Donald Tusk, amizade desbotada
Na foto, Merkel conversa com o presidente do Conselho Europeu, o polonês Donald Tusk (dir.). Ele foi durante muito tempo um importante aliado dos alemães, que também o ajudaram na sua ascensão tardia em Bruxelas. Recentemente, Tusk parece ter procurado distância, frustrando até mesmo tentativas de Merkel com vista a uma solução europeia para crise migratória, de acordo com correspondentes.
Foto: picture-alliance/AP Photo/J. Macdougal
Jens Spahn veio para ficar
Jens Georg Spahn é: político da CDU, deputado federal, ministro alemão da Saúde, conservador – e, segundo escreveu a agência de notícias DPA em 2016, um "oponente da chanceler". Para surpresa de alguns analistas, Merkel decidiu trazer Spahn para seu gabinete. Se a intenção de Merkel foi "controlá-lo", funcionou melhor do que com o ministro do Interior, Horst Seehofer.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Alexander Gauland, antigo "correligionário"
O líder da bancada parlamentar da legenda populista de direita AfD, Alexander Gauland, foi um influente membro da CDU até 2013. Há poucas fotos comuns de Gauland e Merkel: não é o tipo de entorno que desperta o interesse da chanceler . Mas quando ele fala no Bundestag, ela às vezes escuta. E ela certamente ouve as vozes advertindo que o caos na União CDU/CSU beneficiou acima de tudo a AfD.