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Quase 80% dos brasileiros veem aumento da corrupção no país

9 de outubro de 2017

Estudo da Transparência Internacional aponta que maioria da população considera que governo não combate a corrupção de maneira satisfatória. Organização afirma que Lava Jato demonstra "ampla extensão" do problema.

Protesto contra a corrupção em Brasília, em dezembro de 2016
Protesto contra a corrupção em Brasília, em dezembro de 2016Foto: Getty Images/AFP/E. Sa

Para 78% dos brasileiros, o nível de corrupção aumentou no país, segundo o relatório "As pessoas e a corrupção: América Latina e Caribe", publicado pela organização Transparência Internacional (TI) nesta segunda-feira (09/10) em Berlim.

O quadro brasileiro se assemelha ao de quase todos os países analisados pela Transparência Internacional em 2016. "Em 17 dos 20 países [analisados], a maioria dos cidadãos disse que a corrupção aumentou. Na Venezuela, no Chile, no Brasil e no Peru, os cidadãos foram particularmente críticos, com mais de três quartos afirmando que a corrupção está aumentando", diz o texto. O Brasil é o quarto país desta lista, atrás de Peru (79%), Chile (80%) e Venezuela (87%).

Leia mais: O que há de corrupção no jeitinho brasileiro?

No Brasil, a pesquisa foi conduzida com 1.204 pessoas entre 21 de maio e 10 de junho de 2016, período em que corria o processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), que estava afastada do governo. As perguntas se referiram aos 12 meses anteriores à realização da pesquisa. 

Mau combate à corrupção

O levantamento da Transparência Internacional, que destacou a corrupção no México, na República Dominicana e no Peru, também detectou que 56% dos brasileiros entrevistados consideram que o governo federal não combate a corrupção no setor público de forma satisfatória.

A taxa é semelhante à da região da América Latina e do Caribe: 53% de todos os entrevistados na América Latina consideraram mau o combate à corrupção, enquanto 35% acharam que o seu governo estava se saindo bem nessa área.

O relatório destacou, numa de suas páginas, a Operação Lava Jato, "o maior escândalo de corrupção da história" do Brasil. "No curso da investigação [...], procuradores descobriram um enorme esquema de suborno, que implicou dezenas de políticos e empresários e, até agora, levou a acusações formais de 282 pessoas e 165 condenações que somam mais de 1.634 anos de prisão", diz o texto, que ainda cita o papel desempenhado pela construtora Odebrecht e a apresentação de denúncias contra o presidente Michel Temer.

O presidente da Transparência Internacional, José Ugaz, criticou em comunicado que latino-americanos e caribenhos estejam sendo "enganados" por "seus governos, sua classe política e os líderes do setor privado".

"O caso Lava Jato, que causou tremendo impacto na região, demonstra que a corrupção tem ampla extensão. O suborno representa um modo de enriquecimento para alguns poucos e um grande obstáculo para acessar serviços públicos cruciais, em especial para setores mais vulneráveis", afirmou.

Subornos

A pesquisa da Transparência Internacional também investigou o pagamento de subornos a serviços públicos nos diferentes países da América Latina, perguntando aos entrevistados se tinham tido contato com seis tipos de serviços públicos. Aqueles que responderam "sim" foram questionados se tinham pago subornos a esses serviços, dado presentes ou oferecido favores.

Segundo a pesquisa, quase um terço (29%) dos cidadãos que tinham tido acesso a serviços públicos pagou subornos, o que levou os estudiosos a estimarem um equivalente a 90 milhões de pessoas nos 20 países pesquisados.

"As taxas de corrupção variam consideravelmente entre os países. Cidadãos vivendo no México [51%] e na República Dominicana [46%] eram os mais suscetíveis a pagar subornos por serviços públicos de base", diz a pesquisa.

No Brasil, "o suborno de serviços públicos era bem mais baixo [11%], mas cidadãos se mostraram críticos aos esforços do governo de lutar contra a corrupção, e uma maioria esmagadora acreditou que o nível de corrupção estava aumentando", afirma o texto.

Poucas denúncias na prática

Embora 74% dos entrevistados tenham afirmado que, no Brasil, é socialmente aceitável denunciar um caso de corrupção, poucas pessoas disseram ter feito uma denúncia na prática quando passaram por uma experiência com corrupção.

"Taxas baixas de denúncia não são surpresa na região, onde muitos viram a polícia e os tribunais como altamente corruptos, e a ameaça de represálias foi considerada um risco real para pessoas que denunciaram", diz o relatório.

"Nossa pesquisa revelou que aqueles que falaram às vezes se colocam em risco considerável, com poucos denunciantes vendo ações reais sendo deflagradas contra as autoridades corruptas", acrescenta o texto. Dos entrevistados que fizeram denúncias, 28% teriam sido alvos de represálias.

Polícia corrupta

Entre os grupos de poder nos diferentes países da América Latina e do Caribe, a polícia e representantes políticos (como membros do Parlamento ou senadores, por exemplo), foram considerados os mais corruptos. Para 47% dos entrevistados, trata-se de instituições majoritária ou inteiramente corruptas.

Funcionários de governos locais, funcionários no entorno de presidentes e primeiros-ministros e juízes e magistrados também são considerados altamente corruptos, com entre 40% e 45% dos entrevistados dizendo que estas instituições são majoritária ou completamente corruptas.

Líderes religiosos foram vistos como o grupo menos corrupto, embora um quarto dos latino-americanos entrevistados considere essas lideranças altamente corruptas (25%).

Esperança no indivíduo

A maior parte dos mais de 22 mil entrevistados em 20 países da América Latina afirmou ter esperanças no papel positivo que cidadãos poderiam desempenhar no combate à corrupção. O Brasil foi o país com a taxa mais alta: 83% dos entrevistados acreditam que pessoas comuns podem fazer diferença no combate à corrupção.

"Os resultados mostram claramente a extensão dos desafios ligados à corrupção na região: das cem avaliações, somente 20 foram positivas, enquanto 33 tiveram resultado medíocre e outras 47 foram negativas. Apesar desses desafios de corrupção em toda a região, muitos cidadãos se dizem prontos e dispostos a se unir à luta contra a corrupção. Envolvê-los no movimento anticorrupção [...] precisa ser prioridade para governos e organizações da sociedade civil", diz a Transparência Internacional.

RK/efe/ots