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Quase metade das espécies migratórias está em declínio

Gudrun Heise
12 de fevereiro de 2024

Destruição de habitats, poluição, pesca excessiva, comércio ilegal e mudanças climáticas estão levando à diminuição das populações, afirma relatório da ONU.

Baleia azul
Condições de vida de muitos animais, como a baleia-azul, pioraramFoto: Alex Mustard/Nature Picture/IMAGO

O primeiro relatório da ONU sobre espécies migratórias de animais selvagens, divulgado nesta segunda-feira (12/02), apresenta uma situação alarmante: quase metade das espécies migratórias do mundo está em declínio e mais de um quinto das 1.189 espécies vigiadas pela ONU está ameaçada de extinção.

O relatório foi divulgado numa conferência da Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Silvestres (CMS) na cidade histórica de Samarcanda, no Uzbequistão. Na reunião, o Brasil deverá propor a proteção de duas espécies de bagre com migrações extraordinárias, o dourado e a piramutaba (manitoa).

Além de peixes, as espécies migratórias selvagens incluem aves e morcegos, bem como insetos, répteis e tartarugas marinhas. Mamíferos marinhos migratórios, como baleias e focas, assim como vários mamíferos terrestres, como antílopes e elefantes, também requerem proteção especial.

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"Estamos avançando descontroladamente para o sexto evento de extinção em massa da história. A natureza está numa crise profunda e sistêmica. Poluição ambiental, destruição do habitat, pesca excessiva e comércio ilegal de animais selvagens são apenas alguns dos impulsionadores da extinção de espécies", afirma o diretor de conservação de espécies do WWF da Alemanha, Arnulf Köhncke.

"A isso se somam os impactos da crise climática global , que acelera a perda de biodiversidade. Nós, seres humanos, somos responsáveis e vítimas ao mesmo tempo: a extinção global de espécies é resultado de ações humanas e, ao mesmo tempo, retira a base da nossa existência", explica Köhncke.

As populações estão diminuindo significativamente para quase 44% das espécies listadas pela CMS, também conhecida como Convenção de Bonn. Mais de um quinto das espécies de animais na lista está ameaçado de extinção. Se medidas intensivas de conservação não forem tomadas rapidamente, esses animais podem desaparecer em breve.

Habitats sem proteção

Para sobreviver, as espécies migratórias de animais selvagens necessitam de áreas seguras de biodiversidade. No entanto, pouco mais da metade dessas áreas não tem status de proteção. Em consequência, para cada três de quatro espécies existe o risco de redução ou perda total do habitat.

As espécies de animais selvagens que migram longas distâncias também atravessam fronteiras nacionais e enfrentam desafios adicionais devido à urbanização e a agricultura extensiva. Muitas vezes, essas ações dividem as áreas naturais em partes menores, fazendo com que elas fiquem separadas ou isoladas umas das outras. Essa fragmentação dificulta a movimentação e a migração dos animais, causando impactos negativos em sua diversidade genética e ameaçando sua sobrevivência.

"Espécies migratórias viajam regularmente, às vezes por milhares de quilômetros, para alcançar locais específicos. No caminho, elas enfrentam enormes desafios e perigos", explica a secretária executiva da CMS, Amy Fraenkel. "Isso vale também para os locais onde se reproduzem ou onde encontram alimentos."

Visto que esses animais cruzam fronteiras nacionais durante suas migrações, cabe à comunidade global a responsabilidade de protegê-los. Isso inclui aves, peixes, mamíferos e também insetos.

Sejam pequenos, sejam grandes, vivam na água, na terra ou no ar: para quase todas as espécies migratórias de animais selvagens, as condições de vida pioraram. Isso vale tanto para a pequena borboleta-monarca, com cerca de 50 milímetros de tamanho e menos de um grama de peso, como para as enormes baleias-azuis, que podem atingir 28 metros de comprimento.

Os gnus, que vivem principalmente ao sul do Saara, fazem longas viagens todos os anos para encontrar comidaFoto: Matthias Graben/imageBROKER/picture alliance

Essenciais para o ecossistema

O relatório da ONU mostra que uma parte significativa da ameaça a essas espécies é resultado das mudanças climáticas e da poluição ambiental. E, como destaca a diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Inger Andersen, mostra também que práticas humanas não sustentáveis estão colocando em risco o futuro dessas espécies.

Elas desempenham um papel crucial como indicadoras de mudanças ambientais e são fundamentais para manter o funcionamento e a capacidade de resistência dos complexos ecossistemas do planeta. "A comunidade global tem a possibilidade de usar os novos  conhecimentos científicos sobre a situação das espécies migratórias para implementar ação concretas de proteção", diz Andersen.

O foco do relatório está nas 1.189 espécies de animais que foram classificadas pela CMS como necessitando de proteção. Além disso, ele analisa a situação de mais 3 mil espécies que não estão na lista da CMS.

O maior inimigo de todas essas espécies é o ser humano, que prejudica a biodiversidade com práticas como a pesca excessiva e a destruição de habitats essenciais. Mais da metade das áreas listadas está ameaçada.

Espécies migratórias são fundamentais para os ecossistemas. Várias aves desempenham um papel crucial na polinização de plantas, ou controle de pragas. Também insetos desempenham essas funções, o que os torna um elemento importante na cadeia alimentar.

Mamíferos como os gnus, que vivem principalmente ao sul do Saara, fazem longas viagens todos os anos para encontrar comida. Eles ajudam a espalhar as sementes de plantas através de suas fezes, contribuindo para a preservação da diversidade vegetal.

Peixes também desempenham um papel vital no ciclo de nutrientes durante suas migrações. Quanto menos animais migratórios existirem, maior será o risco de um colapso total dos ecossistemas.

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