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Que força ainda tem o Movimento Verde iraniano?

Farnaz Seifi (sv)28 de maio de 2013

Há quatro anos, milhares de pessoas foram às ruas no Irã em defesa de eleições justas, em protestos reprimidos com violência. Às portas da nova eleição, especialistas avaliam o que restou do Movimento Verde.

Foto: AP

"Onde está minha voz" e "abaixo a ditadura" foram as palavras de ordem do Movimento Verde nas ruas de Teerã e em outras cidades do país em 2009. As imagens de homens e mulheres com faixas verdes na cabeça, lenços e cartazes, correram o mundo.

Os protestos haviam sido desencadeados pelo anúncio dos resultados das eleições para presidente do país. Os votos ainda estavam sendo contados no dia 23 de junho de 2009, quando o coordenador da Comissão Eleitoral, Kamran Daneshjoo, apareceu diante das câmeras de televisão para anunciar a reeleição de Mahmud Ahmadinejad com 63% dos votos.

Quem apoiava os dois líderes de oposição, Mir HosseinMousavi e Mehdi Karoubi, achou tratar-se de uma fraude. Eles acusaram publicamente as autoridades e departamentos competentes de terem fraudado os resultados do pleito, para que o então presidente Ahmadinejad permanecesse no cargo.

Detenções durante os protestos

Poucas horas depois da divulgação dos resultados, Mousavi reivindicou, em um primeiro pronunciamento, a vitória nas urnas, descrevendo a eleição como "encenada e manipulada". Neste mesmo momento, o regime determinou as primeiras detenções de políticos reformistas e de jornalistas.

Depois das eleições de 2009, milhares de pessoas foram às ruas protestar contra a vitória de AhmadinejadFoto: picture-alliance/dpa

Esse foi o início de uma série de manifestações em todo o país, que acabaram ficando conhecidas como Movimento Verde no Irã. Milhares de pessoas foram às ruas e o regime reagiu aos protestos públicos com extrema rigidez. Milhares de pessoas foram detidas e condenadas à prisão. A violência das forças de segurança deixou mais de 70 vítimas fatais, mortas em consequência de tortura nas prisões. Centenas de jornalistas e ativistas tiveram que fugir do país.

"Movimento Verde vive!"

Quatro anos mais tarde, às vésperas das novas eleições presidenciais, acirram-se novamente as tensões entre governo e oposição. As opiniões a respeito de um renascimento e reativação do Movimento Verde mantêm-se divididas.

"Apesar da pressão internacional, a detenção permanente e ilegal de Karoubi, Musavi e de sua esposa, Zahra Rahnavard, é um sinal claro de que o Movimento Verde ainda está vivo", diz Ardeshir Amir Arjomand, assessor de Musavi, em entrevista à Deutsche Welle. Os três encontram-se há dois anos sob regime de prisão domiciliar - na verdade, desde que conclamaram seus seguidores a protestos de solidariedade para com a Primavera Árabe.

"As autoridades sabem que os seguidores de Musavi e Karoubi irão se organizar depois do fim da prisão domiciliar. Por isso as prisões e medidas de opressão estão aumentando nos meses que antecedem as eleições", fala Arjomand, que vive hoje exilado na Europa: "Acho que o Movimento Verde ainda existe, apesar da repressão extrema", diz.

Além das represálias contra as duas cabeças do Movimento Verde – Musavi e Karoubi – o regime realmente aumentou nos últimos meses a pressão sobre jornalistas e ativistas. Em fevereiro de 2013, o Ministério iraniano da Informação determinou um bloqueio de notícias. Além disso, dezenas de repórteres foram presos e acusados de espionagem.

Abdi: "Nenhum manifestante ao alcance da vista"

Mas há quem diga que o Movimento Verde no Irã já esteja morto há meses. Essa é a opinião, por exemplo, do sociólogo Abbas Abdi: "Um movimento político caracteriza-se pela presença de seus seguidores no espaço público. No dia 25 de junho de 2009, aproximadamente dois milhões de pessoas foram às ruas. E o que acontece hoje? Nenhum manifestante ao alcance da vista", conclui Abdi.

Ele próprio se autodenomina reformista e ativista político, tendo participado do grupo que, em 1979, manteve cidadãos norte-americanos como reféns durante meses na embaixada dos EUA de Teerã. Abdi acusa os seguidores do Movimento Verde de terem reivindicado, sem provas concretas, a vitória de seu candidato depois das eleições de 2009.

"Não acredito que, naquela época, tenha havido alguma fraude. Os observadores de Musavi e Karoubi no pleito não puderam detectar provas explícitas de que, na contagem final, tenha havido fraude", diz ele. Poucos dias depois das eleições, os observadores informaram não ter tido acesso aos documentos necessários para acompanhar a apuração das eleições.

Sem Karoubi e Musavi: sem protestos

Karoubi e Musavi: prisão domiciliarFoto: Kalameh

Amir Arjomand, por sua vez, acredita que a eleição presidencial iminente possa ser uma boa oportunidade para mobilizar mais uma vez os críticos do regime. "Precisamos levar novamente nossos seguidores para as ruas, a fim de fazer pressão sobre o aiatolá Ali Khamenei", diz.

Até agora, contudo, o maior líder religioso do país ainda não demonstrou nenhum sinal de uma possível mudança, segundo Arjomand. "Mas continuamos tendo esperanças de que iremos fazer uso de todos os mecanismos democráticos a fim exercermos pressão sobre as autoridades", completa.

Para o professor de Sociologia, uma coisa, porém, está clara: "O revigoramento do Movimento Verde só pode dar certo se a prisão domiciliar de Musavi, Karoubi e Rahnavard acabar e todos os três puderem agir livremente."

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