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Que vantagem traz para Ucrânia o acordo comercial com EUA?

Lilia Rzheutska
2 de maio de 2025

Kiev e Washington assinaram a criação de fundo conjunto para investimento e reconstrução. O pacto não contém comprometimentos para os ucranianos, mas tampouco as garantias de segurança que Zelenski esperava.

Secretário de Finanças Scott Bessent e ministra da Economia Yulia Svyrydenko, apresentam o Acordo para Criação de um Fundo Americano-Ucraniano de Investimento e Reconstrução.
Secretário de Finanças Scott Bessent e ministra da Economia Yulia Svyrydenko, apresentam Acordo para Criação de um Fundo Americano-Ucraniano de Investimento e Reconstrução assinadoFoto: U.S. Department of the Treasury/REUTERS

Acordo sobre terras raras, sobre riquezas minerais, sobre recursos naturais e minerais, ou simplesmente acordo comercial: todos esses são nomes alternativos para o contrato que os Estados Unidos e a Ucrânia pretendiam fechar no início de 2025, logo em seguida à posse de Donald Trump.

Após diversas tentativas e emendas, em 30 de abril foi finalmente assinado o "Acordo para Criação de um Fundo Americano-Ucraniano de Investimento e Reconstrução", um documento com apenas dez páginas, mais duas de adendo.

Após a assinatura, a vice-primeira-ministra e ministra da Economia ucraniana, Yulia Svyrydenko, explicou que o fundo em questão visa atrair investimentos abrangentes para o país. Dele não constam quaisquer comprometimentos por parte de Kiev em relação aos EUA, e tampouco muda o curso do país em direção à integração na União Europeia.

Aprovação parlamentar ainda pendente

Os americanos contribuiriam não só com financiamentos diretos, mas também, por exemplo, com o fornecimento sistemas de defesa aérea, prosseguiu a ministra. Por sua vez, a Ucrânia depositaria no fundo 50% da receita orçamentária com novas licenças para a extração de matérias primas importantes, podendo também fazer outras contribuições.

Os recursos do fundo serão então investidos em projetos de extração de minerais, petróleo e gás, assim como em infraestrutura ou processamento relacionados. Kiev e Washington definirão quais projetos entram em questão, mas os investimentos serão todos na Ucrânia.

"Partimos do princípio de que nos primeiros dez anos os lucros e rendimentos do fundo não serão distribuídos, só podendo ser investidos na Ucrânia em novos projetos ou em reconstrução. Ainda é preciso debater as condições", destacou Svyrydenko.

O pacto precisa ser ainda ratificado pelo Parlamento ucraniano. A bancada do partido oposicionista Solidariedade Europeia se diz descontente pelo fato de os deputados não terem sido integrados às negociações, e exige que o presidente Volodimir Zelenski converse com representantes das bancadas e grupos parlamentares.

Tanto "indispensável" quanto "vantajoso"?

Segundo Ilya Neshodovskyi, da organização social ucraniana Rede para Proteção dos Interesses Nacionais (Ants), um acordo com os EUA é atualmente indispensável para a Ucrânia.

"Nós pagamos e cedemos uma parte das nossas receitas, mas em contrapartida obtemos assistência militar e financeira, além de investidores americanos. Como os EUA vão controlar a natureza dos investimentos, a gente parte do princípio que também vão estar dispostos a investir na economia ucraniana."

Contudo os investimentos não começarão a fluir imediatamente. Especialistas avaliam que só se poderá contar com eles passada a fase crítica da guerra da Rússia contra a Ucrânia, com um congelamento do conflito ou a assinatura de um acordo de paz.

"Agora, durante a guerra, novos projetos estão descartados, não creio que vá ser possível antes de meados do ano que vem", comenta Anatoliy Amelin, do think tank Instituto Uraniano para o Futuro. "Porque as empresas que pretendam investir na Ucrânia – seja em matérias primas, mineração ou processamento – precisam considerar isso no orçamento do próximo ano."

Assim, na melhor das hipóteses, os investimentos americanos fluiriam a partir de 2027 ou 2028: "Os EUA continuam motivados a nos ajudar, mas os próximos apoios vão se acumular na forma de débitos no fundo de investimento", explica Amelin.

Garantias de segurança almejadas pelo presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, não foram alcançadasFoto: president.gov.ua/en

Nenhuma garantia de segurança para a Ucrânia

Especialistas também enfatizam que o acordo seria vantajoso para a Ucrânia do ponto de vista político ao dar continuidade à cooperação com os EUA, também no sentido de uma intensificação da assistência militar.

"É uma grande conquista política e diplomática para a Ucrânia", afirmou no Facebook Tymofiy Mylovanov, diretor da Escola de Economia de Kiev e ex-ministro da Economia. "O acordo representa uma vitória para Trump na política doméstica, o que também melhora a atitude perante a Ucrânia nos EUA. A Ucrânia conseguiu defender seus interesses, todas as exigências draconianas foram descartadas, apesar de uma pressão inimaginável. Agora o acordo parece justo e abre possibilidades para mais ajuda militar dos EUA."

Por outro lado, do acordo não consta qualquer tipo de garantia de segurança dos EUA em relação à Ucrânia, ressalvam especialistas. E, no entanto, era precisamente essa a meta do presidente Zelenski ao iniciar a elaboração de um pacto com Washington: obter compromissos de segurança para seu país em troca do acesso às matérias primas nacionais.

Yevhen Magda, do think tank ucraniano Instituto de Política Mundial, reforça: "Este é um acordo para o futuro, mais de natureza política, é uma tentativa de restabelecer as relações com os EUA. Mas ele não contém nenhuma garantia de segurança, e esse é um problema real para a Ucrânia." Magda enfatiza que o país já assinou mais de 30 pactos com parceiros internacionais, os quais, do ponto de vista da política de segurança, seriam mais úteis do que o atual.