Queimadas caem na Amazônia, mas crescem em outras regiões
2 de outubro de 2019
Em setembro, foram registrados 19.925 focos de incêndios no bioma amazônico, 19,66% a menos do que no mesmo período do ano passado. Cerrado passa a ser região mais afetada pelo fogo no país.
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Depois de aumentos alarmantes em julho e agosto, os números de queimadas na Amazônia diminuíram em setembro em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) nesta terça-feira (01/10). Focos de incêndios em outros biomas, porém, cresceram no mesmo período.
Segundo o Inpe, em setembro, foram registrados 19.925 focos de incêndios na Amazônia, o que representa uma queda de 19,66% em relação ao mesmo mês de 2018, quando houve mais de 24 mil focos. Já em relação a agosto, a queda foi de 35,52%.
Historicamente, setembro costuma ser um mês em que há aumento no número de queimadas na Amazônia. De acordo com especialistas, a redução ocorreu devido ao envio de militares para combater o fogo na região.
Diante do recorde de focos de incêndios registrados em julho e agosto e da pressão internacional, o presidente Jair Bolsonaro proibiu queimadas na região por 60 dias e enviou militares para ajudar a combater os incêndios.
A cadeia criminosa que ameaça a Floresta Amazônica
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Em relação ao acumulado no ano, o número de queimadas nos primeiros nove meses chegou a 66.750 e já bateu a quantidade registrada em todo o ano de 2018. Em relação a janeiro e setembro de 2018, houve um aumento de 42,11%, quando no ano passado foram registrados 46.968 focos.
O Inpe, no entanto, alertou para o aumento do desmatamento na região. Entre 1º e 19 de setembro, a Amazônia perdeu 1.173 quilômetros quadrados de cobertura vegetal, 58,65% a mais do que no mesmo período de 2018.
Apesar da queda na Amazônia, as queimadas aumentaram em setembro em outras regiões do país. O bioma mais afetado no momento é o cerrado, onde os focos dobraram, passando de 11.467 em setembro de 2018 para 22.989 em 2019.
Grandes altas foram registradas ainda na Mata Atlântica, com 4.333 mil focos em setembro de 2019 contra 2.309 no mesmo mês do ano passado, um aumento de 87,65%, e no Pantanal, com 2.887 mil focos em setembro de 2019 contra 785 no mesmo mês do ano passado, um aumento de 267,7%.
Já no Pampa, houve um aumento de 307,4%, passando de 67 focos em setembro de 2018 para 273 no mesmo período deste ano. Somente na Caatinga, as queimadas se mantiveram estáveis em cerca de 2,8 mil focos.
Focos de incêndio na Floresta Amazônica atingem seu pior agosto em quase uma década. Em Rondônia, fogo é a última etapa de uma cadeia criminosa que inclui invasão de terras, extração ilegal de madeira e desmatamento.
Foto: Imago Images/Agencia EFE/J. Alves
Chamas em agosto
Com 30.901 focos de queimadas registrados por satélites no bioma Amazônia, o mês de agosto de 2019 superou o registrado no mesmo mês em todos os anos anteriores até 2010, quando o número chegou a 45.018. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que monitora as queimadas desde 1998. O recorde para o mês de agosto ainda é de 2007, com 63.764 focos.
Foto: Flávio Forner
Prejuízos à saúde
Na região de Porto Velho, capital de Rondônia, a fumaça das queimadas causa problemas sérios de saúde. Em um estudo realizado no estado, a Fiocruz analisou dados de 1998 a 2005 e concluiu que o número de mortes de idosos acima de 65 anos por doenças respiratórias aumenta durante os meses de queimadas. Até 80% das mortes estão relacionadas aos incêndios florestais.
Foto: Flávio Forner
O futuro da floresta nacional
A Floresta Nacional do Bom Futuro, perto de Porto Velho, foi criada em 1988 para proteger originalmente 280 mil hectares da Floresta Amazônica. Em 2010, um decreto reduziu a área para 98 mil hectares por conta da ocupação da região. A Flona (floresta nacional) é uma das mais ameaçadas no bioma, com histórico de invasões, desmatamento e queimadas.
Foto: Flávio Forner
Plantão na floresta
Brigadistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) ficam de plantão na região da Floresta Nacional do Bom Futuro 24 horas por dia na época das queimadas, de julho a outubro. Eles fazem rondas diárias para evitar crimes e, quando identificam fogo, usam bombas costais e abafador para apagar as chamas.
Foto: Flávio Forner
Solo mais pobre
O primeiro efeito da queimada é a perda de nutrientes e da biota do solo, alerta o biólogo Marcelo Ferronato, da ONG Ecoporé. Com o passar dos anos, os nutrientes que estavam ali sendo depositados pelas florestas desaparecem, como folhas e galhos. "O solo vai se enfraquecendo, a área começa a ser degradada, a produtividade cai, e novas áreas são abertas, alimentando o ciclo do desmatamento."
Foto: Flávio Forner
Lote ilegal
O capim cresce na área já desmatada dentro da Floresta Nacional do Bom Futuro. A estaca fixada no chão serve para demarcar o lote que, mais para frente, será vendido de forma ilegal. A área onde o crime ocorreu fica a menos de um quilômetro da estrada de terra que corta a unidade de conservação.
Foto: DW/N. Pontes
Desmatamento antes do fogo
Esta clareira na Floresta Nacional do Bom Futuro foi aberta cinco dias antes de a equipe da DW Brasil visitar o local. Algumas árvores mais antigas ainda estão de pé, como uma da espécie tauari de 200 anos, de cerca de 40 metros de altura, que também é um porta-sementes. Segundo brigadistas, os criminosos esperam a mata derrubada secar por alguns dias antes de colocar fogo.
Foto: Flávio Forner
Reflorestamento em risco
Alguns projetos de compensação ambiental de outros empreendimentos são revertidos para a Floresta Nacional do Bom Futuro. Na foto, árvores nativas da Amazônia crescem numa área do tamanho de 70 campos de futebol que foi desmatada. Se elas sobreviverem aos crimes cometidos na região, precisarão de 50 anos para voltar a ganhar o aspecto de uma floresta densa.
Foto: Flávio Forner
Pressão em terras indígenas
No estado de Rondônia, 21 reservas são destinadas a povos indígenas. A Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, a cerca de 300 quilômetros de Porto Velho, tem sete aldeias e comunidades que escolheram viver isoladas na Floresta Amazônica. Criado em 1985, o território de uso exclusivo dos indígenas sofre ameaças constantes de madeireiros e grileiros.
Foto: Flávio Forner
Preocupação com a floresta
Segundo os indígenas, a destruição da floresta é muito rápida. Eles acreditam que a "empreitada" para desmatar e queimar a mata, que conta com entre 10 e 15 pessoas, seja custeada por quem tem muito dinheiro. Depois de tirar a madeira, os criminosos queimam a área e jogam sementes de capim, conta Taroba Uru-Eu-Wau-Wau (foto).
Foto: Flávio Forner
Desmatamento e pastagem
Segundo estudos de pesquisadores da Universidade Federal de Rondônia (Unir), o desmatamento ilegal serve para ampliar áreas de pastagem. Dados oficiais estimam que o rebanho no estado ultrapasse 14 milhões de cabeças. Aos poucos, as pastagens têm se convertido em plantações, como de soja, afirma a pesquisadora Maria Madalena Cavalcante, da Unir.