Queimadas na Indonésia levam tensão a Sudeste Asiático
15 de setembro de 2019
Fumaça de incêndios florestais na Indonésia afeta Cingapura e Malásia. Poluição gera doenças respiratórias, fechamento de escolas e provoca atritos diplomáticos entre governos da região. Este é o pior ano desde 2015.
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Queimadas na Indonésia fizeram com que a qualidade do ar em Cingapura tenha sido classificada neste sábado (14/09) como "insalubre" pela primeira vez em três anos, em meio à tensão entre os países da região por causa da poluição causada pelos incêndios florestais.
A medição da Agência Nacional de Meio Ambiente de Cingapura (NEA, na sigla em inglês) situou entre "elevado" e "alto" o nível de concentração de partículas PM 2,5 – com até 2,5 micrômetros de tamanho, as mais prejudiciais para a saúde.
Neste fim de semana, Cingapura permaneceu envolta em denso nevoeiro branco. Segundo a NEA, o índice de poluição subiu temporariamente para 112. Todos os valores acima de 101 são considerados "insalubres". Por isso, as autoridades pediram aos 5,6 milhões de habitantes da cidade que evitem longas atividades esportivas ao ar livre.
Quase todos os anos nessa época, grandes partes do Sudeste Asiático sofrem a poluição do ar, cuja causa são os incêndios florestais contínuos na Indonésia, especialmente na ilha de Sumatra e em Kalimantan, a parte indonésia da ilha de Bornéu. Agricultores são acusados de iniciar queimadas, a maioria delas ilegais, para obter novas áreas de cultivo, especialmente para o óleo de palma. Uma situação semelhante à que ocorre atualmente no Brasil.
A poluição do ar causada por queimadas na Indonésia também afeta Cingapura todos os anos. Segundo especialistas, este ano o problema foi acirrado pelo clima particularmente seco. A NEA teme que a situação continue preocupante por mais alguns dias.
Na vizinha Malásia, os índices de poluição também têm sido elevados há dias devido às queimadas na Indonésia.
Os fogos na Indonésia, que começaram no início da temporada de seca em junho e se agravaram neste mês, estão provocando tensões diplomáticas com a vizinha Malásia, que denuncia que a fumaça chega até o seu território e afeta a saúde dos seus cidadãos.
O governo da Indonésia nega as acusações e alega que os incêndios na Malásia também contribuem para a crise.
A fumaça dos incêndios obrigou o fechamento de escolas neste mês, tanto na Malásia como na Indonésia, e fez disparar o número de pessoas afetadas por doenças respiratórias, denunciou a ONG ambientalista Greenpeace.
Segundo as autoridades da Malásia, cerca de 400 escolas no estado oriental de Sarawak, na fronteira com Kalimantan, tiveram que fechar por causa da poluição do ar. O ar na capital Kuala Lumpur atingiu um nível insalubre, criticam as autoridades.
Na própria Indonésia, várias escolas foram fechadas por causa da qualidade do ar. Somente na província indonésia de Riau, no leste da ilha de Sumatra, vários milhares de escolas foram fechados na semana passada. Centenas de milhares de pessoas vêm sendo afetadas por doenças respiratórias.
A agência de gestão de desastres indonésia BNPB calculou que 320 mil hectares foram atingidos até o mês de agosto. De acordo com o Greenpeace, cerca de um quarto do território queimado neste ano é composto por florestas primárias e turfeiras.
Este é o pior ano de incêndios na Indonésia desde 2015, quando incêndios parcialmente provocados pelas indústrias de papel e óleo de palma queimaram 2,6 milhões de hectares, o que resultou em uma série de medidas do governo para proteger e restaurar as florestas protegidas e as turfeiras.
Naquele ano, os incêndios causaram prejuízos avaliados em US$ 16 bilhões e afetaram gravemente a saúde dos habitantes de países vizinhos como Brunei, Malásia e Cingapura.
A Floresta Amazônica enfrenta suas piores queimadas em anos. As chamas deixam rastro de destruição na região e geram comoção internacional. Imagens revelam a proporção assustadora da tragédia.
Foto: picture-alliance/dpa/AP/E. Peres
Amazônia em chamas
Uma fumaça espessa cobre grande parte da Região Amazônica. A dimensão do avanço da destruição da floresta é melhor percebida de cima. Paredes enormes de fogo consomem grandes áreas verdes e dão o tom da evolução da catástrofe ambiental.
Foto: Imago Images/Agencia EFE/J. Alves
Bombeiros em ação contínua
Apesar dos troncos de árvores queimados, o fogo continua sua destruição. Milhares de bombeiros colocam sua vida em risco para tentar conter as chamas. Aparentemente, seus esforços não são suficientes, e o avanço das queimadas chamou a atenção do mundo para a Amazônia.
Foto: picture-alliance/dpa/AP/E. Peres
Fumaça chega a regiões distantes
Em 19 de agosto, a fumaça das queimadas chegou até São Paulo, contribuindo para o fenômeno que transformou o dia em noite na cidade. A nuvem de fumaça atraiu a atenção do Brasil e do mundo para a situação na Amazônia. Essa fumaça também foi percebida no Peru e recentemente no Uruguai.
A inércia do governo brasileiro diante do avanço das chamas levou a comunidade internacional a pressionar o presidente Jair Bolsonaro a tomar medidas para combater as queimadas. Solicitado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, o tema foi debatido na cúpula do G7. Depois disso, Bolsonaro fez um pronunciamento anunciando o uso das Forças Armadas nos esforços contra o fogo.
Foto: Youtube/TV BrasilGov
Aumento no número de queimadas
Numa corrida contra o tempo, vários estados da região declararam situação de emergência e pediram ao governo federal o envio de militares. As estatísticas não são nada animadoras. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de janeiro a 18 de agosto as queimadas aumentaram 82% em comparação com o mesmo período do ano passado. Foram registrados quase 72 mil focos de incêndio.
No dia seguinte ao anúncio de Bolsonaro, os primeiro militares entraram em ação contra o fogo em Rondônia. O governo disse que disponibilizou 44 mil militares para combater os incêndios que estão devastando a Amazônia.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Brazil Ministry of Defense
Catástrofe causada por humanos
Grandes incêndios não são uma exceção em países sul-americanos. Eles são frequentes durante o período de seca. No entanto, também são causados pela ação humana. Ambientalistas dizem que o recente aumento no número de queimadas é responsabilidade de agricultores, que através do fogo pretendem ganhar terras para o pasto.
Foto: picture-alliance/dpa/AP/L. Correa
Infraestrutura em perigo
Os incêndios não são um risco apenas em florestas distantes. A foto tirada na região de Cuiabá, no Mato Grosso, mostra a proximidade das chamas a locais habitados. Na beira da rodovia 070, que liga o Brasil à vizinha Bolívia, as chamas resplandecem de forma ameaçadora aos veículos que passam por ali.
Foto: picture-alliance/dpa/AP/a. Penner
Protestos contra o governo Bolsonaro
Brasileiros foram às ruas em várias cidades do país para protestar contra as políticas ambientais do governo Bolsonaro. Em várias ocasiões, o presidente defendeu o desenvolvimento econômico da Amazônia e chegou a propor a seu homólogo americano, Donald Trump, a exploração conjunta da região.
Foto: Imago Images/Agencia EFE/M. Sayao
Preocupação mundial
As atitudes do governo brasileiro em relação ao meio ambiente e ao avanço do desmatamento e das queimadas na Amazônia provocaram também dezenas de manifestações em frente às representações diplomáticas do Brasil em várias cidades europeias e sul-americanas. A maioria dos atos foi convocada pelo movimento Extinction Rebellion (Rebelião da Extinção).
Foto: DW/C. Neher
Ajuda internacional
Devido à magnitude dos incêndios, o Brasil recebeu apoio da comunidade internacional. O G7 ofereceu 20 milhões de dólares ao país. A oferta, porém, foi recusada por Bolsonaro. O Reino Unido disponibilizou 10 milhões de libras para o combate às queimadas, e Israel prometeu o envio de um avião equipado para essa finalidade.