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CriminalidadeAlemanha

Quem é a "fã de Putin" condenada na Alemanha?

Mikhail Bushuev
8 de junho de 2023

Organizadora de atos pró-Moscou, Elena Kolbasnikova defendeu publicamente a invasão da Ucrânia pela Rússia. Em julgamento, procurador destaca que liberdade de expressão termina onde começa o crime.

Elena Kolbasnikova durante um ato pró-Rússia em Colônia
A ucraniana Elena Kolbasnikova é a garota propaganda dos apoiadores de Putin na AlemanhaFoto: REUTERS

Num tribunal em Colônia, Elena Kolbasnikova aguardava a sentença que poderia chegar a três anos de prisão ou a uma multa pesada por suas declarações em apoio à invasão da Ucrânia pela Rússia feitas durante uma carreata pró-Moscou que ela mesma organizou. Cidadã ucraniana, Kolbasnikova almeja receber um passaporte russo em breve.

O tribunal alemão, no entanto, levou em consideração o fato de a mãe de dois filhos estar desempregada e a condenou a pagar uma multa de apenas 900 euros (cerca de R$ 4,7 mil) pelo crime de aprovação de atos criminosos. A principal prova contra Kolbasnikova foi entrevista que ela concedeu ao jornal Bild durante uma carreata. Na ocasião, ela defendeu a invasão da Ucrânia, afirmou que a Rússia não era o agressor e disse que Moscou estava ajudando a acabar com o conflito no país vizinho.

Kolbasnikova pareceu indiferente ao ouvir o veredito nesta terça-feira (06/06). "A vida continua e eu direi a verdade. E nesse sentindo, eu me considero inocente", afirmou em frente ao tribunal após o julgamento. Ela também alegou estar pronta para ser punida, se isso significasse "a libertação da Ucrânia dos nazistas", adotando a narrativa do Kremlin sobre o governo ucraniano.

O advogado de Kolbasnikova, Markus Beisicht, que também é um político de extrema direita, disse que vai recorrer da decisão, e, se necessário, irá apelar até a última instância: o Tribunal Constitucional da Alemanha.

A uma emissora russa, Kolbasnikova expressou indignação com a sentença. "Trinta dias na prisão ou eu preciso pagar 30 euros por dia. 900 euros para os cofres alemães pela morte de pessoas em Donbass desde 2014. Essa é a verdade dos alemães", afirmou em russo.

A "fã de Putin"

Apelidada pela imprensa alemã de "fã de Putin", Kolbasnikova é a garota propaganda dos apoiadores do presidente russo, Vladimir Putin, na Alemanha. Ela organizou vários atos pró-Putin. Uma reportagem da agência de notícias Reuters revelou que Kolbasnikova e seu marido, Max Schlund, fazem parte de um grupo de indivíduos na Alemanha que promovem uma postura pró-Moscou, enquanto mantém laços secretos com o Kremlin, entidades russas sancionadas e com extremistas de direita.

Kolbasnikova ganhou fama ao organizar atos pré-Putin em Colônia Foto: DW

Kolbasnikova e Schlund receberam passagens do braço berlinense de uma agência russa de promoção cultural, Rossotrudnichestvo, para viajar para Moscou em dezembro para uma conferência que foi dirigida pelo próprio Putin. O casal, porém, acabou não viajando porque, segundo Kolbasnikova, eles teriam perdido o voo. A reportagem também mostrou que o casal estava envolvido ativamente na campanha militar do Kremlin na Ucrânia.

De acordo com o Bild, Schlund é um oficial da reserva russo. Ainda segundo a imprensa, o casal teria arrecadado dinheiro para o exército russo, e, no outono do ano passado, viajou para Donbass para entregar pessoalmente bens militares para soldados russos.

Schlund se mudou de Moscou para a Alemanha em 2012, onde conheceu Kolbasnikova, que trabalhava como enfermeira no país. A "fã de Putin" alega ter perdido o emprego devido a uma suposta "russofobia". Kolbasnikova também teria feito propaganda para atrair mercenários para Grupo Wagner – paramilitares que lutam ao lado da Rússia na Ucrânia.

O julgamento

Alguns dos partidários da ré chegaram uma hora antes da sessão e foram recebidos por opositores que levavam cartazes com a frase: "Putin e seus nazistas matam". Nem todos puderam acompanhar o julgamento, pois a sala de audiência tinha espaço para 35 pessoas.

O político de extrema direita Markus Beisicht é o advogado de KolbasnikovaFoto: Christoph Hardt/Panama Pictures/IMAGO

O marido de Kolbasnikova foi expulso do local depois de uma briga. Schlund também está desempregado. Ele foi demitido do aeroporto de Colônia-Bonn depois de ter sido acusado, ao lado da esposa, de violar as sanções impostas pela União Europeia (UE) contra a Rússia.

Kolbasnikova chegou ao tribunal usando uma estrela de Davi feita nas cores da bandeira russa, em alusão à teoria de conspiração propagada entre os apoiadores do Kremlin de que os russos seriam "os judeus do século 21". O juiz pediu que ela removesse o símbolo antes do julgamento.

"Defensora da paz"

Durante o julgamento, Kolbasnikova tentou convencer o tribunal de que era vítima de perseguição política. Segundo ela, seus dados pessoais e seu endereço foram postados na internet. Ela teria sido ainda colocada sob proteção do Estado depois de supostas ameaças de morte.

A ré afirmou ainda que perdeu dois empregos e que agora vivia de seguro de desemprego e de um emprego de meio-período, no qual ela ganhava 450 euros por mês. Ela argumentou ainda que a carreata pró-Rússia que organizou e outras ações fariam parte da tradição da "política de paz" dos ex-chanceleres federais da Alemanha Willy Brandt e Gerhard Schröder. "Eu defendo a paz", ressaltou.

Sobre as declarações, Kolbasnikova alegou se tratarem de "opinião própria" e invocou o direito à liberdade de expressão que vigora na Alemanha.

O procurador tentou deixar claro que a ré não estava sendo julgada por gostar da Rússia ou criticar autoridades alemães e ucranianas. Ele argumentou que a liberdade de expressão pessoal termina onde começa a aprovação de atos criminosos e que a invasão da Ucrânia pela Rússia, algo que Kolbasnikova defendeu publicamente, foi uma agressão militar e constituiu um crime sob a lei alemã.

O procurador afirmou ainda que os apelos de paz feitos pela ré eram cínicos.

Para a condenação de Kolbasnikova, a juíza baseou seu veredito no fato de que era indiscutível que a Rússia violou o direito internacional ao invadir a Ucrânia. A magistrada afirmou que as declarações da ré eram capazes de perturbar a paz pública. A juíza ressaltou ainda que, na Alemanha, não é permitido dizer tudo.

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