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Quem é Kamala Harris, que disputa Casa Branca contra Trump

Darko Janjevic
Publicado 8 de julho de 2024Última atualização 2 de agosto de 2024

Vice-presidente dos EUA recebeu apoio de Joe Biden para assumir candidatura democrata após presidente desistir da reeleição. Apesar do histórico de conquistas, ela é criticada por ter ficado à sombra do presidente.

Joe Biden e Kamala Harris acenam para o público enquanto assistem aos fogos de artifício da varanda da Casa Branca
Joe Biden e Kamala Harris durante o espetáculo de fogos de artifício do último 4 de julho, dia da Independência dos Estados UnidosFoto: Tierney L. Cross/newscon/picture alliance

Kamala Harris é o nome escolhido pelos democratas para enfrentar Donald Trump em novembro. O anúncio foi feito nesta sexta-feira (02/08) pelo partido. Segundo a sigla, a vice de Joe Biden assegurou o apoio interno necessário para sacramentar a nomeação, a ser oficializada em convenção partidária marcada para o dia 19 de agosto – rito que, agora, deve ser uma mera formalidade.

Harris recebeu o aval de Biden assim que o presidente americano anunciou sua desistência da disputa pela reeleição, no final de julho. A confirmação do nome dela, porém, ainda dependia do aval da maioria dos delegados democratas.

A candidatura de Harris vinha ganhando musculatura desde o recuo de Biden. À época, ela se disse honrada com o gesto do presidente e prometeu fazer de tudo para unir o Partido Democrata e os EUA para derrotar o republicano Donald Trump

"Em nome do povo americano, agradeço a Joe Biden por sua liderança extraordinária como Presidente dos Estados Unidos e por suas décadas de serviço ao nosso país. (...) Com este ato altruísta e patriótico, o presidente Biden está fazendo o que sempre fez ao longo de sua vida de serviço: colocando o povo americano e nosso país acima de tudo. (...) Estou honrada por ter o apoio do presidente e minha intenção é merecer e ganhar esta nomeação."

A história americana de Harris

Kamala Harris nasceu em uma família de acadêmicos imigrantes em Oakland, Califórnia, em 1964. A mãe de Harris, Shyamala Gopalan, era uma pesquisadora do câncer de mama nascida na Índia, e seu pai era o professor de economia Donald J. Harris, da Jamaica. Os pais de Harris participaram ativamente do movimento pelos direitos civis da década de 1960.

Segundo consta em sua autobiografia, "Aquilo em que Acreditamos" (no original em inglês, "The Truths We Hold"), essa experiência influenciou sua própria carreira. Harris relata se lembrar da mãe dizendo a ela e a sua irmã, Maya: "Não fiquem sentadas reclamando das coisas. Façam alguma coisa!"

À esquerda, mãe de Kamala Harris, Shyamala Gopalan, acompanhada de uma amiga, durante protestos por direitos civis na Califórnia na década de 60Foto: Kamala Harris campaign/AP/picture alliance

O casamento de seus pais se desfez quando Harris tinha sete anos. Cinco anos depois, Gopalan conseguiu um trabalho de pesquisa no Canadá, e a família se mudou para Montreal.

A futura vice-presidente norte-americana cursou o ensino médio no Canadá. Em seguida, voltou para os EUA para estudar ciências políticas e economia, em Washington, DC. Em 1986, voltou para seu estado natal, a Califórnia, para estudar direito.

Harris foi aprovada no exame da Ordem dos Advogados em 1990 e iniciou sua carreira como promotora pública, subindo na hierarquia para se tornar procuradora-geral da Califórnia, em 2011. Ela foi a primeira mulher, negra e sul-asiática americana a ocupar o cargo.

"Melhor policial" da Califórnia

A carreira de Harris como promotora teve altos e baixos. Ela se autodenominava a "melhor policial" da Califórnia, mas irritou parte da polícia com sua recusa em aplicar sentença de morte contra um acusado de matar um policial. Ao mesmo tempo, foi criticada por uma fraca atuação contra a corrupção dentro das forças policiais.

Ela liderou um sistema de multas e até prisão, em casos mais graves, para pais cujos filhos estavam faltando a muitas aulas, o que teve impacto desproporcional em famílias não brancas. Kamala riu da questão da legalização da maconha em 2014, para dizer, cinco anos depois, que era "absolutamente a favor" da liberação.

Em 2015, anunciou que estava concorrendo ao Senado e garantiu o apoio de Joe Biden e do então presidente Barack Obama. Em 2017, se tornou a segunda mulher negra a servir no Senado. Em 2019, lançou uma campanha no partido Democrata para a sua indicação presidencial, tendo Biden como um de seus oponentes.

Brigas com Biden

Durante um dos debates, Harris pressionou Biden sobre sua relação com senadores dos EUA que se opuseram a esforços de acabar com a segregação racial no país nas décadas de 1970 e 1980. Ela acusou Biden de trabalhar com eles contra o "busing" – uma prática em que crianças de áreas minoritárias eram transportadas para escolas predominantemente brancas para diversificar as salas de aula.

Biden respondeu dizendo que ela "descaracterizou" sua posição e observou que ele escolheu ser um "defensor público" em vez de um promotor durante a agitação que se seguiu ao assassinato do ativista negro Martin Luther King Jr.

Os anos de Harris como promotora também voltaram a assombrá-la com o meme pejorativo "Kamala is a cop" ("Kamala é uma policial") durante sua campanha. Ela acabou desistindo da disputa e apoiou Biden, que mais tarde a convidou para ser sua vice-presidente.

"Czar da fronteira" durante a crise de imigração

Biden e Harris lutaram juntos em uma campanha dura e acabaram derrotando Donald Trump e o vice-presidente Mike Pence. Eles tomaram posse em 20 de janeiro de 2021, apenas duas semanas depois que uma multidão violenta invadiu o Capitólio exigindo que a votação fosse anulada. Harris mais uma vez fez história – ela foi a primeira mulher, a primeira pessoa negra e a primeira pessoa de origem indiana a servir como vice-presidente dos EUA.

O cargo deu a Harris a autoridade para assumir a administração se o presidente falecer ou for considerado incapaz para o cargo. Mas Harris tem se esforçado para aumentar seu perfil durante seu tempo na Casa Branca.

Em 2021, Biden atribuiu a ela a tarefa de lidar com a imigração, combatendo as motivações que levam as pessoas a deixar a América Latina de forma irregular.

"Não consigo pensar em ninguém que seja mais qualificado para fazer isso", disse Biden sobre Harris na época. "Quando ela fala, ela fala por mim."

Apesar dos esforços de Harris e das reuniões com líderes latino-americanos, o número de pessoas indocumentadas que cruzam a fronteira continuou a crescer, atingindo níveis recordes no ano passado. O Partido Republicano rapidamente apelidou Harris de "czar da fronteira" e depois a criticou por não conseguir conter o número de pessoas que entram nos EUA.

As questões de fronteira e imigração tornaram-se temas dominantes na campanha eleitoral presidencial dos EUAFoto: John Moore/Getty Images

"Tudo está em jogo"

Enquanto isso, Harris encontrou um campo de batalha diferente contra seus rivais políticos. Quando a Suprema Corte dos Estados Unidos revogou o caso Roe vs. Wade e efetivamente reverteu o direito ao aborto em grande parte do país em 2022, Harris se tornou uma voz poderosa em favor da proteção desse direito. No início deste ano, ela deu início à caravana "Fight for Reproductive Freedoms" (Luta pelas liberdades reprodutivas) pelos EUA.

"Os extremistas de todo o nosso país continuam a empreender um ataque total contra as liberdades duramente conquistadas e lutadas", disse Harris, segundo a Casa Branca.

Trump endossou a decisão da Suprema Corte e reivindicou o crédito.

Poucos dias antes do recente debate Trump-Biden, Harris alertou que "tudo está em jogo" com relação aos direitos reprodutivos se Trump for reeleito.

O futuro do Partido Democrata?

Após o fraco desempenho de Biden no debate, Harris foi uma das defensoras mais rápidas e vocais do presidente, mesmo quando outros políticos democratas estavam divulgando seu nome, entre outros, para substituir o atual presidente na corrida à Casa Branca.

Agora, com Biden fora da disputa, Harris é vista por muitos como uma escolha natural como substituta.

A porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse durante uma reunião logo após o debate entre Biden e Trump que uma das razões pelas quais Biden a escolheu em 2020 "é porque ela é, de fato, o futuro do partido".

 

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