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ReligiãoÁsia

Quem é o dalai-lama

12 de abril de 2023

Liderança espiritual e secular do Tibete é transmitida por reencarnação. Governando do exílio desde 1959, em tensão constante com a China, 14º dalai-lama tem trajetória também marcada por incidentes controversos.

Tenzin Gyatso,14º dalai-lama em postura de prece
Tenzin Gyatso é o 14º dalai-lama do TibeteFoto: Marijan Murat/dpa/picture allinace

O dalai-lama é o líder espiritual supremo da escola Gelug (Chapéu Amarelo), a mais nova e mais dominante do budismo tibetano. O título é transmitido por reencarnação: seu portador é o sucessor de uma linha de tulkus, sucessores de Avalokiteśvara, bodisatva (ser iluminado) da compaixão, que optaram por reencarnar para esclarecer a humanidade.

Dalai significa oceano ou grande em mongol, e lama vem de bla-ma, que significa mestre ou guru em tibetano. Traduzível como "Oceano de Sabedoria", o título foi conferido pela primeira vez em 1578, postumamente, a Gendun Drup (1391–1474), passando desde então a cada sucessor.

Após a morte de um dalai-lama, um comitê de altos lamas inicia uma investigação para descobrir sua nova reencarnação. Eles procuram se, em cartas, se o tulku deixou alguma indicação onde pretende renascer. Os amigos mais próximos também devem recordar tudo o que ele disse em seus últimos dias, à busca de pistas.

Outros métodos incluem análise de sonhos dos lamas e sinais divinos – como um arco-íris guiando o grupo de busca até a criança eleita. Então, os discípulos do antecessor a submetem a treinamento espiritual num mosteiro, com estudos intensos, iniciamento em rituais complexos e disciplina rigorosa, embora contrabalançados por "amor incondicional".

Observadores ocidentais relatam sobre a notável placidez dos jovens tulkus, seu olhar concentrado e a capacidade de ficar sentados quietos, sem a natural agitação infantil, mesmo ao longo de cerimônias que duram um dia todo.

Em 2011, o dalai-lama manifestou o desejo de renunciar à liderança, mas seus ministros rejeitaram a demissão, alegando não haver ninguém digno de substituí-loFoto: Ashwini Bhatia/AP Photo/picture alliance

Tenzin Gyatso, 14º dalai-lama

Além de líderes espirituais, os dalai-lamas são também considerados os "reis" ou chefes de Estado do Tibete, que governaram do século 17 até 1959, a partir da capital Lhasa. Jetsun Jamphel Ngawang Lobsang Yeshe Tenzin Gyatso é atualmente o 14º dalai-lama. Segundo fontes jornalísticas ocidentais, ele teria nascido sobre uma esteira de palha num estábulo, em 6 de julho 1935, como um dos 16 filhos de uma família pobre de agricultores.

Entronado em 17 de novembro de 1950, ele fugiu para a Índia nove anos mais tarde, temendo pela própria vida em meio à revolta do povo tibetano contra o Exército da República Popular da China, que detinha o controle de fato do país. Desde 1959 lidera a Administração Central Tibetana, o governo no exílio, a partir de solo indiano.

Durante a década de 1960, com a meta de promover operações de guerrilha contra os chineses no Tibete, a CIA, agência de inteligência civil do governo dos Estados Unidos, financiou a administração do dalai-lama com 1,7 milhão de dólares anuais.

Inicialmente o líder e seus seguidores almejavam a independência total do Tibete, mas pelo fim da década de 1980 a meta fora reduzida para autonomia de alto nível. Em 2011, ele manifestou o desejo de renunciar à liderança, mas seus ministros rejeitaram a demissão, alegando não haver ninguém digno de substituí-lo.

Líder tibetano cultuado, mas controverso

Em 2013, numa consulta ampla nos EUA e cinco países europeus, o atual dalai-lama foi indicado como líder mundial mais popular, empatado com o então presidente americano, Barack Obama.

A vida pública do líder religioso tem sido também marcada por incidentes controversos. Em 2018, numa conferência na Suécia, declarou que "a Europa pertence aos europeus", e que, apesar do dever de receber, ajudar e educar os refugiados, no fim eles deveriam voltar a seus países de origem.

No ano seguinte, falando a um jornal indiano, o dalai-lama indicou que provavelmente reencarnará na Índia, e advertiu que nenhuma interferência de Pequim em sua sucessão deve ser considerada válida. Em entrevista à BBC, contudo, comentou que "se uma dalai-lama feminina vier, ela deve ser mais atraente", pois se tivesse "uma certa aparência", as pessoas vão preferir "não olhar para aquele rosto".

Em outubro de 2020, afirmou não apoiar a independência do Tibete, e que esperava um dia visitar a China como ganhador do Prêmio Nobel. "Eu prefiro o conceito de 'república' da República Popular da China. Nesse conceito, minorias como tibetanos, mongóis, manchus e uigures de Xinjiang, podemos viver em harmonia", teria declarado à emissora RFA.

Em abril de 2023, a divulgação de um vídeo gravado em fevereiro no norte da Índia causou escândalo, ao mostrar o dalai-lama beijando um menino nos lábios e depois pedindo que lhe chupasse a língua. Após a revelação, o líder espiritual pediu desculpas em comunicado, alegando que "muitas vezes provoca aqueles que encontra, de um modo inocente e brincalhão, mesmo em público e diante de câmeras".

av/lf (ots)

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