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'Quem é o Graal?'

Anke Rasper (av)15 de agosto de 2008

Exposição em Bayreuth, meca do culto wagneriano, explora o mito universal que deu origem à última ópera do gênio musical.

Cena de 'Parsifal' em guache de Paul von JoukowskyFoto: Richard-Wagner-Museum
Oliver Kahn, o 'tolo puro'?Foto: AP Photo

Ao erguer a taça da Copa da Alemanha, ao fim da última temporada, o goleiro do Bayern de Munique, Oliver Kahn, também celebrava um antigo mito. O troféu, na forma de um cálice dourado, evoca o lendário Santo Graal, e o triunfo do jovem herói Parsifal.

"O Santo Graal é uma espécie de símbolo universal da história européia", observa Sven Friedrich, diretor do Museu Richard Wagner, em Bayreuth. Ele é também o curador da exposição dedicada ao secular ícone. "O cálice é um símbolo arquetípico de anseio e redenção, que ainda inflama a imaginação das pessoas."

"Quem é o Graal?", é a pergunta feita pelo herói Parsifal na ópera de Wagner, antes de se pôr a caminho de sua longa viagem. Este é também o título da mostra que vai até 31 de agosto na Casa de Ópera do Margrave.

Pagãos e cristãos

Reprodução do cálice utilizado na primeira montagem de 'Parsifal'Foto: Richard-Wagner-Museum

A versão mais famosa do mito de Parsifal é provavelmente a ópera wagneriana estreada em Bayreuth em 1882. Aqui, o cálice sagrado fornece vida e sustância à irmandade dos Cavaleiros do Graal. Wagner baseou sua obra na narrativa de Chrétien de Troyes, do século 12, e no Parzival de Wolfram de Eschenbach, de 1210. O sucesso da ópera de Wagner foi tão grande que desencadeou uma onda internacional de "graalmania".

A exposição na cidade que abriga o templo teatral wagneriano persegue as diferentes versões e fontes do mito do Graal. O cálice místico – em algumas versões, ele toma a forma da milagrosa Pedra Filosofal – aparece em várias culturas, inclusive em lendas indianas, árabes e celtas. Na saga céltica do rei Artur, o cavaleiro Parsifal sai pelo mundo em busca do Santo Graal, e com ele, a redenção.

O Graal é transformado, no cristianismo, na taça da qual Jesus Cristo bebeu durante a Última Ceia. Na crucifixão, o recipiente foi utilizado para aparar seu sangue, daí a idéia de que o Santo Graal concede poderes mágicos e vida eterna àqueles que dele bebem.

O profeta e o nazismo

Hitler, fã de Richard Wagner, ao lado da nora do compositor, WinifredFoto: picture-alliance/dpa

Na ópera de Wagner, o jovem Parsifal é um tanto ingênuo. "Ele tem um longo caminho a percorrer em sua busca pela sabedoria, refletindo uma profunda necessidade humana", comenta Friedrich. Em épocas diferentes, essa procura tem sido interpretada numa variedade de contextos.

Como não podia deixar de ser, parte da mostra é dedicada a Richard Wagner e o wagnerianismo: o compositor é abordado como um profeta moderno e os freqüentadores do festival de suas óperas, em Bayreuth, como numa espécie de peregrinação.

Os nacional-socialistas alemães instrumentalizaram o antigo mito para seus propósitos políticos. Em sua interpretação, a lenda do Graal simbolizava a idéia da identidade germânica pura e a redenção através da exclusão racial. A mostra inclui modelos para um "Templo do Graal", planejado pelos nazistas em Wewelsburg. Eles revelam o quanto a ideologia nazista perverteu o símbolo secular.

Uma resposta possível

Mihoko Fujimura representa Kundry na montagem da ópera em Bayreuth, 2008Foto: AP

"A humanidade não mudou muito, no nível mais básico", afirma o curador da mostra, "e, é claro, mesmo que não saibamos, estamos também procurando pelo Graal de nossos tempos."

Os filmes de Indiana Jones, com roteiro de George Lucas, apresentam uma versão possível de um moderno Parsifal. E os inúmeros livros, filmes e jogos de computador centrados no Graal provam que o mito está bem vivo, hoje em dia.

Para Friedrich, a saga responde a uma necessidade humana. "Nesta época de secularismo, todo o mundo parece estar à busca de uma religião individual, pessoal. Todo indivíduo combina vários símbolos e mitos para formar uma religiosidade especial."

Quem é o Graal? Ao fim da mostra, propõe-se uma resposta universal à pergunta de Parsifal. O visitante espia por sobre um muro de pedra para dentro de um poço e vê... seu próprio reflexo. Claro, o símbolo do cálice dourado também pode ser um apoio na procura pelo eu profundo.

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