Abdul-Bari Hakim | Waslat Hasrat-Nazimi | Rahel Klein cn
26 de julho de 2018
Elin Ersson pretendia impedir deportação de afegão de 21 anos, mas ele não estava em avião. A DW conversou com o jovem, que acabou sendo enviado para o Afeganistão, país que ele deixou quando tinha seis anos.
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A ativista sueca Elin Ersson estampou manchetes no mundo inteiro após protestar dentro de um avião, em Gotemburgo, para impedir a deportação de um cidadão afegão. A ação havia sido planejada após família de Ismael Khawari, de 21 anos, entrar em contado com a rede da qual ela faz parte.
Munida de um bilhete para o voo, Ersson esperava encontrar no avião o jovem e outro afegão, mais velho, que também deveria ser deportado. Khawari, no entanto, não estava a bordo daquele voo, mas apenas o outro homem, de 52 anos, que estava sob a vigilância de um oficial de imigração.
Ersson, de 21 anos, seguiu com o protesto, recusando-se a sentar para impedir a decolagem do avião e filmando a ação com o celular. O vídeo, em que a jovem argumenta que o homem provavelmente corria risco de vida no Afeganistão, viralizou na internet.
A iniciativa acabou sendo bem-sucedida, e o afegão e oficial de imigração deixaram o avião após uma ordem do piloto. Pouco depois, ela foi retirada por seguranças. A polícia analisa agora se a ativista deve ser punida por sua ação.
O jovem afegão que Ersson queria ajudar acabou sendo deportado, num voo de Estocolmo para Cabul, no dia seguinte ao protesto. Em entrevista à Deutsche Welle, ele falou sobre sua vida na Suécia e o tempo que passou na prisão.
Deutsche Welle: O vídeo do protesto de Ersson, planejado inicialmente para impedir a sua deportação, se tornou viral. Você conhece a ativista pessoalmente?
Ismael Khawari: Não a conheço, mas agradeço pelo esforço. Infelizmente não a conheci pessoalmente, mas ela mostrou ser muito humana. Fiquei sabendo do ocorrido somente aqui em Cabul. Acredito que minha família estava em contato com ela e achou que eu seria deportado naquele avião. Meu celular estava desligado.
Sua família mora na Suécia?
Minha mãe e minhas duas irmãs moram na Suécia. Nasci no Afeganistão, mas não sei onde. Quando eu tinha seis anos, nós fugimos para Meched, no Irã, onde vivi por anos antes de ir para a Europa para encontrar minha família.
Você conseguiu se integrar na Suécia? Como era sua vida lá?
Não podia trabalhar na Suécia e também não aprendi nada. Apesar de ter vivido bastante tempo lá, não falo sueco. Tive muitos problemas psicológicos e não saía.
Por que você foi levado para a prisão de deportação?
Na Suécia, ficava somente em casa. Quando pela terceira vez meu pedido de refúgio foi negado, fui para a Alemanha tentar pedir refúgio lá. Depois de alguns meses, percebi que não ia adiantar e voltei para ficar perto da minha família. Assim que retornei, fui preso.
Fiquei oito meses na prisão, primeiro em Malmö, depois em Gotemburgo e, em seguida, em Estocolmo. Foi horrível. Fui muito mal tratado e quase não aguentei. É horrível e quase assustador. Se chama de penitenciária de deportação, mas é como uma prisão onde tratam as pessoas como gado. Os guardas são racistas e não ajudam ninguém. Eles só ficavam sentados e jogando seus joguinhos.
Uma manhã, finalmente, vieram me buscar e me levaram para o aeroporto. Não cansei de repetir que minha família estava na Suécia e que não poderia ir embora, mas não me escutaram.
Você tem amigos ou conhecidos no Afeganistão?
Não conheço ninguém aqui, a não ser um jovem que conheci na penitenciária de deportação. Não sei para onde ir agora.
Fotos impressionantes do enorme fluxo de migrantes para a Europa em 2015 e 2016 circularam pelo mundo. No Dia Mundial do Refugiado, vale lembrar a perseverança dos que foram forçadas a deixar seus países.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A meta: sobreviver
Uma jornada combinada com sofrimento e perigo para corpo e alma: para fugir da guerra e da miséria, centenas de milhares de pessoas, principalmente da Síria, viajaram pela Turquia para a Grécia em 2015 e 2016. Ainda há cerca de 10 mil pessoas nas ilhas de Lesbos, Chios e Samos. De janeiro a maio deste ano, chegaram mais de 6 mil novos refugiados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A pé até a Europa
Em 2015 e 2016, milhões de pessoas tentaram, a pé, chegar à Europa Ocidental através da Turquia ou da Grécia até a Macedônia, Sérvia e Hungria. Este fluxo não parou mesmo depois de a chamada rota dos Bálcãs ter sido fechada e muitos países terem bloqueado suas fronteiras. Hoje, a maioria dos refugiados vai para a Europa usando a perigosa rota pelo Mediterrâneo através da Líbia.
Foto: Getty Images/J. Mitchell
Consternação mundial
Esta foto chocou o mundo em setembro de 2015: numa praia da Turquia foi encontrado o corpo do menino sírio Aylan Kurdi, de 3 anos. A imagem se espalhou rapidamente pelas redes sociais e se tornou um símbolo da crise dos refugiados. Depois dela, a Europa não podia mais se omitir.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DHA
Caos e desespero
Sabendo que a rota de fuga para a Europa seria fechada, milhares de refugiados tentaram desesperadamente entrar em trens e ônibus na Croácia. Alguns dias depois, em outubro de 2015, a Hungria fechou a fronteira e criou campos com contêineres, onde os refugiados seriam mantidos durante a análise de seu pedido de asilo político.
Foto: Getty Images/J. J. Mitchell
Hostilidades
A indignação foi grande quando uma repórter cinematográfica húngara deu uma rasteira num refugiado sírio que corria com um menino no colo. Ele tentava passar por uma barreira policial na fronteira húngara em setembro de 2015. No auge da crise de refugiados aumentavam as hostilidades contra imigrantes, com ataques xenófobos a abrigos de refugiados também na Alemanha.
Foto: Reuters/M. Djurica
Fronteiras fechadas
O fechamento oficial da rota dos Bálcãs, em março de 2016, gerou tumultos nos postos de fronteira, onde milhares de migrantes não puderam mais avançar e houve relatos de violência policial. Muitos, como estes refugiados, tentaram contornar os postos de fronteira entre a Grécia e a Macedônia.
Uma criança ensanguentada coberta de poeira: a fotografia de Omran, de 5 anos, chocou o público em 2016 e se tornou um símbolo dos horrores da guerra civil da Síria e do sofrimento de seu povo. Um ano mais tarde, novas imagens mostrando o menino bem mais feliz circularam na internet. Apoiadores do presidente sírio afirmam que a primeira imagem foi usada para fins de propaganda.
Foto: picture-alliance/dpa/Aleppo Media Center
Em busca de segurança
Um sírio carrega a filha na chuva em Idomeni, entre a Grécia e a Macedônia. Ele procura abrigo na Europa. Segundo o Regulamento de Dublin, o asilo político precisa ser solicitado no primeiro país da União Europeia a que o refugiado chegou. Por isso, muitos que prosseguem viagem são mandados de volta. Por sua localização fronteiriça, Itália e Grécia são os países onde mais chegam refugiados.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Esperança
A Alemanha continua sendo o principal destino dos migrantes, embora a política de refugiados e de asilo do país tenha se tornado mais restritiva após o grande afluxo no final de 2015. Nenhum outro país europeu acolheu tantos refugiados como a Alemanha, que recebeu 1,2 milhão de pessoas desde 2015. A chanceler federal Angela Merkel foi um ícone para muitos dos recém-chegados.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Miséria nos campos de refugiados
No norte da França, um enorme campo de refugiados, a chamada "Selva de Calais", foi fechado. Durante a evacuação, em outubro de 2016, houve um incêndio no acampamento. Cerca de 6.500 moradores foram removidos para outros abrigos na França. Meio ano depois, organizações de ajuda relataram sobre muitos refugiados menores de idade que vivem como sem-teto em volta da cidade de Calais.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Laurent
Afogamentos no Mediterrâneo
ONGs e guardas costeiras estão constantemente à procura de barcos de migrantes em perigo. Eles preferem atravessar o mar em embarcações precárias superlotadas a viver sem perspectivas na pobreza ou em meio à guerra civil. Só em 2017, a travessia já custou 1.800 vidas. Em 2016 foram registrados 5 mil mortos.
Foto: picture alliance/AP Photo/E. Morenatti
Milhares esperam na Líbia
Centenas de milhares de refugiados da África Subsaariana e do Oriente Médio esperam em campos líbios para atravessar o Mar Mediterrâneo. Muitos estão nas mãos de contrabandistas humanos e traficantes de pessoas. As condições nesses locais são catastróficas, dizem ONGs. Testemunhas relatam casos de escravidão e prostituição forçada. Ainda assim, continua vivo o sonho de chegar à Europa.
Foto: Narciso Contreras, courtesy by Fondation Carmignac