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Quem é o "mercador da morte" que Putin tirou da prisão

13 de dezembro de 2022

Viktor Bout foi libertado numa troca de prisioneiros que envolveu também a jogadora de basquete Brittney Griner. Por que ele é tão importante para Moscou?

Viktor Bout preso em 2009
Viktor Bout em 2009, depois de ter sido detido na TailândiaFoto: Narong Sangnak/epa/dpa/picture-alliance

Em meados de fevereiro, pouco antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, a campeã olímpica de basquete Brittney Griner foi detida no aeroporto internacional de Moscou depois de cartuchos com óleo de haxixe terem sido encontrados na bagagem dela.

Em agosto, ela foi sentenciada a nove anos de prisão. Na última sexta-feira (09/12), desembarcou nos Estados Unidos após ter sido libertada como parte de uma troca de prisioneiros entre Moscou e Washington.

Pela liberdade de Griner, os Estados Unidos concordaram em soltar o cidadão russo Viktor Bout, que cumpria uma pena de 25 anos de prisão numa penitenciaria federal "por conspirar para assassinar cidadãos americanos e ajudar organizações terroristas".

Viktor Bout embarca num avião após ter sido libertado pelos EUAFoto: SNA/IMAGO

Mercador de armas na era pós-soviética

Ao longo de décadas, Bout criou fama como uma figura misteriosa e já foi chamado de "mercador da morte", servindo de inspiração para diretores de cinema de Hollywood, como no filme O senhor das armas, estrelado por Nicolas Cage.

Viktor Bout nasceu em Duchambé, a capital do que era então, em 1967, a República Soviética do Tajiquistão. Ele é um ex-oficial que serviu nas Forças Armadas da União Soviética.

Nos anos 1990 e no início dos anos 2000, após o colapso da União Soviética, ele tinha o que dizia ser uma empresa de transportes aéreos, entregando mercadorias para regiões perigosas do mundo. Na verdade, traficava armas de fabricação soviética.

Foi nessa época que Bout chamou a atenção das Nações Unidas, que começou a investigar se ele estava envolvido no comércio ilegal de armas, desrespeitando embargos da ONU e colaborando com assassinatos em massa e crimes de guerra em países africanos, como Angola, Ruanda, Serra Leoa e Congo.

Bout também despertou o interesse das autoridades dos Estados Unidos, no início dos anos 2000, depois de relatos na imprensa de que ele teria ajudado militarmente o Talibã e a Al Qaeda. Bout nega qualquer envolvimento e afirma ter fornecido armas para grupos que lutavam contra o Talibã.

Em 2002, autoridades belgas emitiram um mandado de prisão, mas Bout conseguiu deixar o país e encontrou refúgio nos Emirados Árabes Unidos, na África do Sul e, por fim, na Rússia.

Autoridades dos Estados Unidos também estiveram no seu encalço. Apesar de terem conseguido congelar bens dele em 2004, não conseguiram encontrar uma base jurídica para levá-lo a julgamento.

Envolvimento com as Farc

Quatro anos depois, em 2008, agentes da Drug Enforcement Administration (DEA), órgão federal de combates às drogas dos Estados Unidos, contataram Bout por meio de antigos parceiros dele. Os agentes se apresentaram como compradores que trabalhavam para as Farc, uma guerrilha esquerdista da Colômbia.

Em março de 2008, Bout foi detido na Tailândia, quando agentes americanos que se passaram por guerrilheiros esquerdistas conseguiram envolvê-lo em negociações para o embarque de armas para as Farc. Bout foi extraditado para os Estados Unidos em novembro de 2010, tendo sido condenado a 25 anos de prisão em 2012 por conspirar para assassinar cidadãos e agentes americanos.

Bout foi considerado culpado, pela Justiça dos Estados Unidos, de vender armas para as Farc, classificadas pelos Estados Unidos como uma organização terrorista.

Na época, o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, criticou a prisão e extradição de Bout, afirmando que elas eram parte da pressão política do governo dos Estados Unidos sobre a Tailândia e "um exemplo de flagrante injustiça". O governo russo prometeu lutar pela libertação de Bout e pelo retorno dele para a Rússia.

Por que a Rússia queria libertar Bout?

Muitos especialistas afirmam que Bout era útil para os serviços secretos da Rússia. Ele mesmo, porém, nega qualquer ligação com o governo russo ou acesso a segredos de estado.

"Eu não tenho informações secretas sobre o Estado russo, e não conheço seus líderes. Não trabalhei nem para empresas russas nem para agências estatais", afirmou em entrevista.

Ao longo da década passada, autoridades e a imprensa russas aventaram uma troca de Bout por prisioneiros dos Estados Unidos na Rússia.

A especialista em relações EUA-Rússia Alexandra Filippenko argumenta que a importância de Bout para o governo do presidente Vladimir Putin se deve a uma mentalidade de Guerra Fria, ancorada numa época em que uma forte rivalidade opunha Estados Unidos e Rússia.

"Na visão de muitas pessoas, tanto americanas como russas, Bout é uma parte e também personificação do sistema soviético. Ele não reconhece a nova ordem mundial. Por isso ele é tão importante para o país", diz Filippenko. "Ele é um insider, e, na tradição russa, você não abandona pessoas que servem ao sistema."

Alguém levou a melhor nessa troca de prisioneiros?

Muitos especialistas afirmam que a troca foi uma vitória diplomática para Moscou, já que a magnitude dos crimes cometidos por Bout e Griner é completamente diferente. Filippenko, porém, diz que a troca foi equivalente.

Ela argumenta que Bout já cumpriu metade da sentença e que, se os serviços secretos dos Estados Unidos queriam alguma informação dele, tiveram tempo de sobra para questioná-lo.

E Griner é uma típica all-american girl, uma estrela do Texas que representa a comunidade LGBTQ+. Diante da nova legislação sobre propaganda gay aprovada na Rússia, a libertação dela é uma grande vitória para a administração do presidente Joe Biden, diz a especialista.

A opção por Griner, porém, alimentou o debate sobre o destino do americano Paul Whelan, um antigo fuzileiro naval dos Estados Unidos que está cumprindo uma pena de 16 anos de prisão por espionagem na Rússia. Autoridades americanas afirmam que a detenção dele é injusta e que o caso tem motivações políticas.

O advogado de Whelan declarou esta semana à agência de notícias russa Interfax que as negociações para a libertação continuam, o que não foi desmentido por autoridades russas.

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