Quem é o verdadeiro vilão da alimentação saudável?
Brigitte Osterath (av)28 de janeiro de 2016
Estudo alerta sobre perigo dos carboidratos e diz ser injusto demonizar os efeitos das gorduras saturadas, associadas a doenças cardíacas e diabetes. Nutricionistas divergem sobre malefícios.
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Quem gosta de batatas fritas geralmente as come com sentimento de culpa. Como lembram constantemente os especialistas, o consumo excessivo de gorduras causa doenças cardiovasculares e diabetes, especialmente quando se trata de ácidos graxos saturados, como é o caso do óleo de fritar.
Na opinião de Jeff Volek, professor de Ciências Humanas da Universidade Estadual de Ohio, há um grande mal-entendido a respeito das gorduras saturadas. Pois, segundo afirma, estudos entre a população não demonstrariam qualquer associação entre o seu consumo e doenças cardíacos.
Volek realizou uma pesquisa, apoiada por associações americanas de laticínios, carne bovina e ovos, e publicado em 2014 pela revista científica Plos One, cuja conclusão foi que o verdadeiro vilão dietético são os carboidratos.
Os 16 participantes do estudo conduzido por Volek e equipe adotaram uma dieta com presença crescente de carboidratos e simultânea diminuição da gordura, enquanto os níveis de calorias e proteínas eram mantidos constantes. Em consequência, todos eles desenvolveram uma síndrome metabólica, com alto risco de doença cardiovascular.
Por outro lado, dobrar ou mesmo triplicar a quantidade de ácidos graxos saturados não teve qualquer efeito sobre os níveis sanguíneos desse tipo de gordura. Para os consumidores de carboidratos da pesquisa, no entanto, o resultado foi um nível elevado de ácido palmitoleico no sangue – associado a um risco elevado de diabetes e doenças do coração, segundo os pesquisadores.
Sabedoria convencional
Para Volek, as conclusões do estudo "questionam a sabedoria convencional que tem demonizado a gordura saturada". Para outros especialistas, contudo, o achado não é surpreendente, em absoluto.
O nutricionista Matthias Schulze, do Instituto Alemão de Pesquisa de Nutrição Potsdam-Rehbrücke (DIfE), lembra que "há muitos anos se sabe que uma maior ingestão de carboidratos estimula a síntese de gordura no fígado". Sob tais circunstâncias, sobem as taxas dos triglicerídeos, os quais transportam os ácidos graxos no sangue. O ácido palmitoleico é um indicador disso.
O fisiologista da nutrição Peter Stehle, da Universidade de Bonn, concorda: para ele, um estudo realizado com 16 pessoas não muda nada. Pois a dieta adotada continha mais de 2.500 calorias por dia, começando com 47 gramas de carboidratos e 84 gramas de gordura saturada, e terminando com 346 gramas de carboidratos e 32 gramas de gordura. Ao fim dos testes, os participantes haviam perdido, em média, 10 quilos.
Stehle ressalva que 47 gramas de carboidratos – apresentadas por Volek como uma porção saudável – são insuficientes. Além disso, ele aponta que os participantes devem ter sofrido uma deficiência de glicose, necessária para o funcionamento do cérebro, músculos e outros órgãos.
Quem come o quê?
Vegetariano, flexitariano, vegano, freegano: por motivos econômicos, políticos, ambientais ou de saúde, a diversidade alimentar aumentou nos últimos anos. Conheça as diferentes categorias de dieta.
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Onívoro
Aqui estão incluídos aqueles que comem de tudo, seja de origem vegetal ou animal. Os números indicam que essa parcela da população está diminuindo, já que o consumo de carne vem caindo nos últimos anos. E depois do recente alerta da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que a ingestão de carne processada pode causar câncer, muitos afirmam que vão passar a comer menos do produto.
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Vegetariano
É aquele que come apenas alimentos de origem vegetal, embora possa consumir produtos originários de animais vivos, como laticínios e ovos. O vegetariano não come nenhum tipo de carne, peixe ou frutos do mar. Mundialmente, seu número pode chegar a um bilhão de pessoas, dos quais mais de 200 milhões são indianos. No Brasil, cerca de 8% da população se define como vegetariana, segundo o Ibope.
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Ovolactovegetariano
Há diferentes categorias de vegetarianos. O ovolactovegetariano, além de frutas, verduras, legumes e cereais, admite em sua dieta também leite e ovos. Esse é o tipo de vegetarianismo mais comum.
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Lactovegetariano
Além de não consumir nenhum tipo de carne, a alimentação dos lactovegetarianos também exclui os ovos. Sua dieta consiste de leite e seus subprodutos, como iogurte ou sorvetes, além é claro, de vegetais.
Ovovegetariano
Os ovovegetarianos, por sua vez, não tomam leite nem consomem nenhum tipo de laticínio, mas incluem os ovos em sua dieta. Preocupações ambientais ou motivos de saúde, como a intolerância à lactose, podem ser razões para esse tipo de regime vegetariano.
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Vegetariano estrito
Diferente do vegetariano comum, que não come nada que implique tirar a vida de um animal, mas consome produtos originários de animais vivos (como leite, ovos e mel), o vegetariano estrito não consome nenhum tipo de carne, laticínios ou ovos. Essa categoria se confunde, às vezes, com o veganismo, que se trata antes de uma postura ética.
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Vegano
O veganismo não é somente de uma forma de alimentação, mas também uma atitude ética. Além de não se alimentar de absolutamente nenhum produto de origem animal, os veganos também não usam sapatos de couro ou roupa de seda ou lã, por exemplo. Não há dados específicos sobre o veganismo no Brasil. Na Alemanha, onde a filosofia tem forte adesão, estima-se que existam cerca de 900 mil veganos.
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Pescovegetariano
Os pescovegetarianos são considerados semivegetarianos. Eles não comem carne vermelha nem frango, mas se permitem consumir peixes e frutos do mar. Eles também se alimentam de leite, ovos e mel. Outra variação do regime semivegetariano inclui ainda aqueles que dispensam apenas a carne vermelha, mas comem frango.
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Crudívoro
Basicamente, a alimentação daqueles que preferem alimentos crus está aberta a qualquer tipo de dieta, apesar de a maioria dos crudívoros serem veganos. Nessa dieta, os alimentos não devem ser aquecidos a mais de 40°C e devem estar crus, preservando assim proteínas e enzimas. Também produtos derivados do aquecimento de alimentos, como geleias, por exemplo, ficam fora da alimentação dos crudívoros.
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Frugívoro
Os adeptos dessa dieta vão além dos veganos e comem apenas vegetais cuja aquisição não danifica as plantas. Isso inclui principalmente frutas caídas, nozes e sementes, mas também frutos colhidos sem lesar o vegetal, como tomates e abóboras ou feijão e ervilhas. Os médicos advertem, porém, que qualquer tipo de restrição alimentar pode levar à deficiência nutricional, se feita de maneira inadequada.
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Flexitariano
Na maior parte do tempo, o flexitariano se confunde com o vegetariano. Mas, em vez da proteção dos animais, o que importa para ele é se alimentar de forma saudável. Desde que seja de origem orgânica, um pedaço de carne, peixe ou frango pode fazer parte, de vez em quando, da sua dieta. Mais de 40 milhões de alemães são adeptos dessa alimentação naturalista.
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Freegano
O freeganismo é uma postura política de vida. Seus adeptos se recusam a comprar qualquer tipo de alimento, comendo aquilo que conseguem de graça ou que encontram no lixo de supermercados e restaurantes. Muitos deles são vegetarianos, mas não têm objeções a comer produtos animais jogados fora. Os freeganos querem chamar a atenção para o desperdício, para o supérfluo e para a fome no mundo.
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Peso saudável
Uwe Wenzel, professor de Nutrição Molecular da Universidade de Giessen acrescenta que uma dieta pobre em carboidratos faz perder peso, mas estimula a produção de cetose a partir da gordura. As moléculas desse monossacarídeo solúvel em água baixam o pH do sangue, "e isso não é bom".
O especialista deduz que os efeitos registrados pelos pesquisadores de Ohio se devem ao fato de os sujeitos apresentarem excesso de peso no início do estudo, e, no seu decorrer, "se tornaram mais sensíveis à insulina, por terem perdido peso". Tais efeitos não tiveram a ver diretamente com os ácidos graxos saturados, afirma.
No fim das contas, os nutricionistas alemães concordam que o estudo de Volek não altera em nada as recomendações dietéticas em voga. Excesso de gordura combinada a carboidratos realmente provoca aumento de peso; porém, muita gordura sem nenhum carboidrato faz o corpo acumular ácido. Assim, diz Wenzel, "nenhum dos dois é uma boa opção". O importante é manter um peso saudável, conclui.
Dez superalimentos e seus superpoderes
Parece que no momento todo o mundo se alimenta de chia, açaí, quinoa, bagas de goji. Alguns deles são milenares e têm fama de promover juventude, saúde e até beleza. Dez superalimentos e suas propriedades nutritivas.
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Açaí
A campanha vitoriosa do açaí começou modestamente na Região Norte do Brasil, mas em poucos anos as bagas violáceas tomaram conta do mundo. Sua fama é de tornar o consumidor forte e esbelto. E jovem, devido aos numerosos antioxidantes que contém. Para muitos esportistas, os poderosos frutos da palmeira prometem uma dose extra de energia.
Foto: Imago/Westend61
Abacate
O abacate é uma das frutas mais ricas em gordura. O que não significa que seja a mais engordante, pois contém ácidos graxos insaturados de alta qualidade, com efeito positivo sobre as taxas de colesterol e o sistema cardiovascular. Além disso, possui numerosas vitaminas que beneficiam desde a pele e os cabelos até os sistemas imunológico e nervoso.
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Chia
As sementinhas de chia são vendidas como panaceia universal. Com alto conteúdo proteico, são ricas nos ácidos graxos essenciais ômega-3 e ômega-6. Os maias e astecas já conheciam as propriedades da chia 5 mil anos atrás. De gosto neutro, elas são consumidas por seus fãs como pudim, gel ou puras, salpicadas sobre a comida.
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Goji
Ao se falar de superalimentos, é quase impossível evitar os superlativos. Isso se aplica em especial às bagas de goji, citadas entre as frutas mais saudáveis do mundo. Consta que fortalecem o sistema imunológico e cardíaco, baixam a pressão sanguínea, dão energia. E mantêm a pessoa jovem – por exemplo, pela ação benéfica sobre olhos e pele.
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Couve-crespa
Passo a passo, a modesta couve-crespa vai conquistando o mercado europeu, passando de exótica a verdura da moda. Conhecida como "kale", nos Estados Unidos há muito ela tem excelente fama, seja refogada ou em forma de salada ou "smoothie". Cem gramas dessa verdura bastam para cobrir a necessidade diária de vitamina C de um adulto. Além disso, é rica em vitamina A e minerais como ferro e cálcio.
Foto: picture alliance/dpa
Mirtilo
Na Alemanha a estação das bagas azul-escuro começa em julho. Mirtilos são apreciados como bombas vitamínicas, eficazes no combate às infecções. Sabe-se que já na Grécia e Roma antigas eles eram utilizados contra afecções intestinais. Ao contrário do açaí, contêm poucas calorias e quase nenhuma gordura, mas apresentam o mesmo efeito antienvelhecimento.
Foto: picture-alliance/dpa
Gengibre
Ao aquecer o corpo, o gengibre é uma arma eficaz no combate às afecções gastrointestinais. Ao aumentar a circulação nos intestinos, ele faz sarar infecções e a mucosa intestinal se recupera. Esse efeito aquecedor se potencializa quando ele é ingerido seco. Em estado fresco, por outro lado, é mais picante, o que é de extrema importância para o reforço do sistema imunológico, por exemplo.
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Curcuma
Há milênios o curcuma ou açafrão-da-índia é um dos condimentos principais da cozinha indiana, sendo encontrado no famoso pó de curry. A planta aparentada ao gengibre é tida como sagrada e incluída em praticamente todos os pratos, para promover a digestão. Além disso, o curcuma também tem fama de baixar o colesterol, além de ser antioxidante e anti-inflamatório.
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Amêndoa
Comer algumas amêndoas por dia é um valioso segredo da saúde. Esse fruto seco combate ataques de fome, beneficia o coração e reduz o risco de diabetes do tipo 2 e mal de Alzheimer. Além disso, a gordura das amêndoas é como a do abacate: abundante, porém saudável.
Foto: Fotolia
Quinoa
Originária da região dos Andes, a quinoa já é cultivada há cerca de 4 mil anos. Esse pseudocereal é uma das melhores fontes de proteína vegetal conhecidas em todo o mundo. Os pequenos grãos contêm todos os aminoácidos essenciais e antioxidantes importantes para o combate às doenças, além de serem livres de glúten e ricos em minerais.