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Quem é Ron DeSantis, pré-candidato republicano à Casa Branca

25 de maio de 2023

Governador da Flórida anunciou candidatura para disputar as primárias republicanas à presidência dos EUA. De apadrinhado político, ele passa a ser rival de Donald Trump.

Ron DeSantis com a bandeira dos EUA ao fundo
DeSantis não é um orador tão bom quanto Trump, mas atrai votos dos indecisosFoto: Paul Hennessy/SOPA Images via ZUMA Press Wire/picture alliance

A coragem de ser livre – o projeto da Flórida para o renascimento da América é o nome do livro que Ron DeSantis apresentou no final de março. A mensagem com a qual o político de 44 anos vem percorrendo os estados decisivos nas primárias para a candidatura presidencial republicana é simples: nenhum governador dos Estados Unidos fez mais por seu estado do que ele. Ou, mais simplesmente, como diz seu slogan de campanha: "DeSantis 2024 - Make America Florida" (Torne os EUA a Flórida).

Ele não é o primeiro a publicar um livro pouco antes de se lançar candidato. De fato, até mesmo o início parece uma carta de candidatura perfeita: DeSantis fala de sua infância feliz em Dunedin, na costa oeste da Flórida, e, acima de tudo, de sua paixão pelo esporte popular dos EUA, o beisebol.

Foi também seu talento esportivo que mais tarde lhe abriu as portas para estudar história nas universidades de elite de Yale e Harvard. Sua carreira irretocável continuou: ele entrou para a Marinha dos EUA, serviu como advogado militar no campo de prisioneiros de Guantánamo e foi conselheiro da renomada unidade especial Navy Seals na Guerra do Iraque, o que lhe rendeu várias medalhas. DeSantis continua sendo um oficial da reserva até hoje.

Carreira política

Em 2012, depois de dois anos trabalhando como promotor público, veio a mudança para a política. Entre 2013 e 2018, DeSantis foi deputado na Câmara dos Representantes, antes de se candidatar às primárias republicanas para o governo da Flórida – e vencer. Em novembro de 2018, ele foi eleito governador por uma margem muito pequena contra seu rival democrata.

Estratégia de DeSantis para responder aos ataques de Trump: ignorarFoto: DOUG MILLS/Getty Images/TNS/picture alliance

Já em 2022, o republicano foi reeleito por uma diferença clara. E isso apesar do fato de a Flórida ser um chamado "swing state", quer dizer, um estado onde normalmente republicanos e democratas se alternam no poder. Mas DeSantis foi bem-sucedido em conquistar eleitores indecisos. Talvez seja esse seu melhor argumento na disputa pela Casa Branca em 2024.

Casado e pai de três filhos, o governador marca pontos em seu estado natal com bons dados econômicos e cortes de impostos. Ao mesmo tempo, promoveu uma controversa gestão da pandemia de covid-19 sob o lema "liberdade contra o faucismo". DeSantis abriu uma batalha pessoal contra o virologista-chefe dos EUA, Anthony Fauci, fez campanha contra as restrições do coronavírus e proibiu que as empresas pedissem a seus funcionários comprovantes de vacinação. Seus críticos o apelidaram de "Death Santis", mas por isso também muitos na Flórida viraram seus admiradores.

De apadrinhado político a rival

Até mesmo Donald Trump, que desempenhou um papel decisivo na ascenção de seu fiel apoiador DeSantis, tratou seu apadrinhado político por muito tempo como "brilhante liderança jovem". Até que o ex-presidente dos EUA percebeu que havia criado seu próprio rival. Desde então, ele o tem chamado de "Ron DeSanctimoniuos" – um político hipócrita e ingrato sobre o qual Trump ainda deverá falar publicamente muitas coisas desagradáveis.

A estratégia de DeSantis para responder aos ataques de Trump tem sido ignorar. Nos discursos de campanha, ele sequer menciona mais seu nome. O governador da Flórida tenta se apresentar como o homem que também é linha dura e defende uma política estritamente conservadora, mas sem caos, sem escândalos e sem processos judiciais. Como "Trump com um cérebro", como muitos o chamam.

Mas em seu caminho para a Casa Branca, ele é inferior ao seu rival 32 anos mais velho em um aspecto importante. Enquanto Trump pode, sem esforço, agitar um grande salão e fazer o público ferver, DeSantis é considerado um orador estruturado, mas frágil e incolor.

Guerra cultural

Ron DeSantis talvez tenha esperança de que não sejam necessários discursos, que suas políticas na Flórida se sustentem por si só como um bilhete de entrada para Washington.

"A Flórida é o estado onde o 'woke' morrerá", diz ele, referindo-se à gíria americana que surgiu na comunidade afro-americana e quer dizer "estar alerta para a injustiça". O governador declarou uma guerra cultural no estado e deu vida a essa batalha com leis como "Stop Woke", "Don't say gay" e "Parental Rights in Education Law".

A educação sobre homossexualidade nas escolas foi proibida, caso contrário os professores podem ser demitidos. Tratar de racismo e escravidão na sala de aula também foi proibido, os alunos brancos podem se sentir pessoalmente responsáveis pela injustiça histórica. Esportes femininos para alunos transgêneros, proibidos. Fotos de parceiros do mesmo sexo na mesa do professor, também proibidas.

Apoiadores de DeSantis em TampaFoto: Marco Bello/REUTERS

"Vamos garantir que os pais possam mandar seus filhos para a escola para receber educação, não doutrinação", diz DeSantis. A consequência: prateleiras vazias nas bibliotecas escolares e quase nenhum livro com a história da escravidão, porque ninguém da escola quer acabar enfrentando um processo por usar "material nocivo". Qualquer coisa que pareça ser "woke", ou seja, vigilante contra qualquer tipo de discriminação, está sob fogo cerrado.

Disney também foi alvo do DeSantis

Até mesmo a liberal corporação Disney, com seu mundialmente famoso parque temático em Orlando e 70 mil funcionários no estado, passou a ser alvo. Quando a empresa criticou abertamente as leis, DeSantis quis mostrar que enfrenta os poderosos, se necessário. Ele revogou o status especial de administração autônoma da Disney, do qual a empresa desfrutava há mais de meio século, economizando impostos. "Há um novo xerife na cidade", comentou o governador.

Ele também garantiu que – mesmo antes de a Suprema Corte ter derrubado a lei do aborto nos EUA – os abortos fossem proibidos na Flórida a partir da 15ª semana. Depois disso, os abortos só são possíveis em casos excepcionais, por exemplo, se a vida da mãe estiver em perigo. O estupro, por outro lado, não é considerado uma exceção.

DeSantis, que agora é convidado regular do canal ultraconservador Fox News, sabe exatamente como manter a animação de seus apoiadores com campanhas de alto nível. Por exemplo, cortando 35 milhões de dólares em apoio do time de beisebol Tampa Bay Rays quando eles exigiram a reforma da lei de armas após tiroteios em escolas. Ou atraindo 48 migrantes para dois aviões fretados com falsas promessas e levando-os para um paraíso de férias popular entre os democratas.

Se DeSantis não apenas derrotar Trump na campanha presidencial republicana, mas também o atual presidente democrata Joe Biden depois, isso não deve ser apenas bastante desconfortável para a América liberal de esquerda. Em relação ao envolvimento da política externa dos EUA na Ucrânia, DeSantis disse à Fox News não ser do "interesse nacional central" dos Estados Unidos serem "atraídos para uma disputa territorial entre a Ucrânia e a Rússia".