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Quem é Yulia Navalnaya, o novo pesadelo de Putin

20 de fevereiro de 2024

Viúva do líder opositor Alexei Navalny promete continuar luta do marido e acusa líder russo de assassiná-lo. Economista de 47 anos que se mantinha longe dos holofotes ganha popularidade e forte apoio internacional.

Yulia Navalnaya no Conselho Europeu em Bruxelas
Yulia Navalnaya se mantinha afastada da política, mas após a morte do marido prometeu lutar por uma Rússia livreFoto: Yves Herman/AP/picture alliance

Até a data da morte de seu marido, o oposicionista russo Alexei Navalny, em um prisão no Círculo Polar Ártico, Yulia Navalnaya não cogitava a ideia de um dia se tornar ela própria a líder da oposição ao regime do presidente Vladimir Putin.

Mas, em um vídeo divulgado nesta segunda-feira (19/02), três dias após a morte de seu esposo e a menos de um mês das eleições presidenciais na Rússia, a mulher de 47 anos e mãe de dois filhos se alternava entre a raiva e o luto, enquanto prometia dar continuidade à luta de Navalny. Ela também não hesitou em apontar o principal culpado pela morte de seu marido.

"Alexei morreu na prisão depois de ser torturado e atormentado durante três anos", disse. "Ele era mantido em uma caixa de concreto. Por três anos, passou fome. Mas, nem por uma fração de segundo ele questionou aquilo pelo qual estava lutando e sofrendo. Meu marido era inquebrável. É por isso que Putin o assassinou."

"Ao matar Alexei, Putin matou metade de mim; metade de meu coração e de minha alma. Mas, minha outra metade me diz que não tenho o direito de desistir. Continuarei o trabalho de Alexei Navalny, continuarei a lutar por nosso país e peço que vocês permaneçam ao meu lado" afirmou.

"Convoco vocês a compartilharem minha fúria, minha raiva, meu ódio àqueles que ousaram destruir nosso futuro."

Qualquer possível sucessor de Navalny herdará uma oposição fustigada, com as principais lideranças presas, exiladas ou mortas.

Muitos de seus apoiadores fugiram da Rússia após a Fundação Anticorrupção, fundada po Navalny, ser classificada como extremista e, dessa forma, estar sujeita à brutal repressão do Estado russo. Os que permaneceram no país possuem pouca margem de manobra, em um sistema político fortemente controlado onde os protestos contra o governo são simplesmente proibidos.

Economista de pulso forte

Até a morte de seu marido, Navalnaya se mantinha afastada da política, ao mesmo tempo em que deixava claro que compartilhava das mesma opiniões dele.

Ela limitava suas aparições públicas aos momentos mais importantes, como nas ocasições em que exigiu a libertação de Navalny.

Navalnaya esteve presente durante anos nos protestos organizados pelo movimento liderado por Alexei e nas várias audiências que ele enfrentou nos tribunais. Ela mesmo chegou a ser presa diversas vezes.

Yulia nasceu em Moscou, filha do renomado cientista Boris Ambrosimov. Ela é formada na prestigiada Universidade de Economia Plekhanov.

Ela encontrou Alexei durante uma viagem de férias à Turquia, em 1998. Eles se casaram dois anos depois e tiveram uma filha, Daria, e um filho, Zakhar. O casal chegou a ser membro do partido liberal Yabloko.

Em 2020, Navalny estava em coma em um hospital em Omsk, depois de ser envenenado com o agente nervoso novichok em uma tentativa de assassinato atribuída ao Kremlin.

Navalnaya foi até o local, na Sibéria, juntamente com equipes de filmagem, para dar apoio aos funcionários e, ao mesmo tempo, pressionar a equipe médica. Ela fez um apelo direto a Putin para que seu marido fosse liberado para receber tratamento no exterior. Pouco depois, ele seria transportado para a Alemanha. 

Apoiadores de Navalny dizem que ela foi fundamental para que o ativista pudesse deixar o país. Em 2021, após se recuperar na Alemanha, Navalny optou por voltar à Rússia, apenas para ser imediatamente preso ao pôr os pés em Moscou.

Yulia Navalnaya ao lado do chefe da diplomacia da UE, Josep BorrellFoto: FRANCOIS LENOIR/European Union

Antes de morrer, o maior desafeto de Putin estava preso há três anos e cumpria pena de mais de 30 anos de encarceramento. Em agosto de 2023, foi sentenciado, em julgamento a portas fechadas, a 19 anos adicionais de prisão – além dos 12 anos que já cumpria, por várias acusações –, desta vez por supostamente fundar e financiar uma organização terrorista e banalizar o nazismo.

Em dezembro, Navalny foi transferido de uma prisão na região de Vladimir, a menos de 200 quilômetros de Moscou, para um presídio no Círculo Polar Ártico, perto da cordilheira dos Urais, onde morreu.

Apoio internacional

Horas após a morte de Navalny, ela compareceu à Conferência de Segurança de Munique, que reunia várias lideranças internacionais, onde fez um discurso vigoroso culpando Putin pela morte do marido. No mesmo evento, ela se reuniu com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, e com a líder exilada da oposição de Belarus, Svetlana Tikhanovskaya.

Nesta segunda-feira, Navalnaya esteve em Bruxelas onde manteve encontros com diversas autoridades, incluindo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

O vídeo de Navalnaya teve 1,5 milhão de acessos em apenas três horas, com quase 50 mil comentários. Nesse mesmo período, o vídeo também foi assistido 1,4 milhão de vezes em um perfil aberto em seu nome na rede social X, enquanto ela ia acumulando rapidamente dezenas de milhares de seguidores.

Um sinal de que ela representa uma ameaça real ao regime de Putin é o fato de vários perfis pró-Kremlin nas redes sociais começarem a tentar prejudicar sua imagem, com a disseminação em massa de conteúdos denunciados por seus aliados como falsos.

rc (Reuters, AP, ots)

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